sábado, 1 de novembro de 2014

O NORDESTE CRISTÃO

“Juazeiro tem sido um refúgio para os náufragos da vida. Tem gente de toda parte que, modestamente, vem abrigar-se debaixo da proteção da Santíssima Virgem.” - Padre Cícero
 
E os náufragos da vida brasileira, espalhados por todo território nacional, só não afogaram no nordeste por que o sertão é seco. Tamanha secura, que o povo daquele lugar se tornou cacto e aprendeu a sobreviver com a menor gota de orvalho que alguma mão celestial e generosa lhe envia(va) vez por outra.
 
Os coronéis mandantes de toda e qualquer institucionalidade local, a indiferença da elite dominante economicamente do sudeste, com seus governos sediados no Rio de Janeiro e depois com a "corte" em Brasília, a Babilônia da representação dos deputados e senadores do nordeste, sempre trataram o nordeste como "local de povo simples e humilde", para quem algumas "esmolas" os mantém satisfeitos.
 
O cabresto político eleitoral, sempre foi característico, pois votar no candidato do "coroné" é obrigação para manter o trabalho e muitas vezes para manter a própria vida.
 
 
Para o povo do nordeste, apegar-se a Deus sempre foi o seu ponto de conformidade e alívio. Muito similar ao povo da época feudal europeia. A ideia de que o sofrimento purifica, a ideia de que as coisas são como são, pois estar por aqui é uma passagem para a vida eterna, quando o sofrimento terá valido a pena. Se há pobreza extrema, se há secura, se há pessoas ricas, se há coronéis, é porque assim o é e Deus está de olho em tudo e saberá reconhecer aqueles que tem fé.
 
Chega-se, então, a era do Bolsa Família. Cabresto de esquerda? No início sim, mas se considerarmos que que o início foi para levar comida aos brasileiros famintos, deste país farto. Farto de recursos e farto do cansaço da espera por uma melhor distribuição da fartura. É possível considerar a possibilidade inicial de caráter de urgência ( "quem tem fome tem pressa" - Betinho ) somado ao que veio depois com a vinculação do programa a educação, na medida em que as crianças são obrigadas a frequentar a escola. Isso pode levar a outra discussão: que escola é essa? tema para outro artigo.
 
Até aí era pouco, mas com a construção de várias universidades no nordeste, assim como escolas técnicas, política de cotas sociais, o FIES , obras de mobilidade em grandes centros urbanos além das cisternas e da polêmica, porém real obra de transposição do rio São Francisco, parece-me justo dizer que o nordeste votou em agradecimento, como esse povo sempre faz, quando reza e agradece a Deus por mais um dia de vida.
 
Apesar de tudo que foi feito no nordeste nos últimos 12 anos, o Brasil tem ainda uma dívida muito grande junto ao povo sertanejo, o povo do semiárido, o povo das favelas distantes das praias turísticas.  
 
Espero que não seja necessário esperar a boa vontade de Brasília e a retribuição de fé, mas que vá além, pois bravura não falta ao nordestino para lutar pelo que é seu.

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