sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

POESIA, PARA COMEMORAR

Depois de 3 meses e meio e mais quase 50 textos publicados, hoje, o blog atinge a marca de 10.000 visualizações e cerca de 20.000 acessos. Não esperava chegar a tais números, pois geralmente trato de temas "chatos" como política, economia, história e sociedade. Além disso, sou apenas um palpiteiro com uma dose de pesquisa e leitura; meu nome não é conhecido. Eu não sou conhecido. Parece que essa "tal conectividade", juntamente com essa "tal interatividade" surtem efeito.
 
Como o próprio nome do blog sugere, o espaço é para minhas opiniões. E para as suas. O espaço para comentários está disponível. Penso que fazemos uma gota no oceano, mas acredito no poder da multiplicação das reflexões. Quem sabe até, algo daqui e dali transformem-se em ações. Vamos em frente!
 
A comemoração será ao estilo de uma das marcas do blog: poesia. Ela é de minha autoria, espero que gostem.
 
Doença do mundo (escrita em 2007) - Joaquim Barros - livro Sensações Despertadas, pág.59.
 
Sinto-me tão cansado
Acabando de acordar
Vejo chiqueiros por aí
E o planeta indo embora
 
Desolo-me
Mas, há comédias na tevê
Chefes de Estado fazendo promessas
E alguns têm sangue azul
 
Muitos jovens estão velhos
E com idade para sorrir
Mas, a vida tem muita pressa
A covardia e a derrota são leis
 
Já me acostumei
Meu espelho não mente
Não brinca de esconder verdades
Mas, sou míope então minto
 
Mentir é uma verdade contextual
Se não, o que seria sorrir
Quando apontam câmeras
Para artistas, políticos e famílias?
 
Quero diversão com uma dose de tristeza
Depois dormir com a tevê ligada
Acordar gritando para surdos
E fingir que me esforcei
Eu quis um sonho
E me apeguei a você
E não percebi
Que a doença do mundo
Está em todos nós
Que apatia e indiferença
Corroem, estragam e destroem
E que tomar o que é nosso
É viver em paz
 
Era pra ser um sonho
Mas, você fugiu de mim
E a tragédia do mundo
É mesmo assim, uma novela sem fim
 
O que será do amanhã?
Se não voltarmos a sorrir e agir.
Lamentar não faz efeito
É defeito!
 
A doença do mundo
Está em todos nós
 
Amor e poesia,
Curai-nos.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

AS BOLHAS DA CLASSE MÉDIA

Eu moro na cidade do Rio de Janeiro. Isso mesmo, sou afortunado por ter ao meu redor serras, maciços, a maior floresta urbana do mundo e um litoral deslumbrante, além de outras coisas que o próprio ser humano colocou ou construiu na superfície da terra carioca.
 
Moro num bairro chamado Tijuca. Se você não conhece o Rio, vou te dizer o que é a Tijuca. É o único bairro do Rio que tem uma designação própria para quem nele mora ou nasceu: tijucano. Aqui, o indivíduo é carioca, mas também é tijucano.
 
É um bairro de classe média tradicionalista. Não há praia na Tijuca, mas conheço vários tijucanos com patrimônio e renda, que lhes permitiriam morar numa quadra de praia como Barra da Tijuca, Copacabana, Leme, Ipanema e por aí vai. Ocorre que a Tijuca fica bem próxima do centro do Rio e faz fronteira com um túnel chamado Rebouças, que liga direto a Tijuca a Lagoa Rodrigo de Freitas e a algumas praias. No lado norte, há uma estrada pequena, que corta a floresta da Tijuca, chamada Alto da Boa Vista, que faz ligação direta da Tijuca com a Barra da Tijuca.
 
Eis porque a Tijuca é um bairro de classe média. E, também, tradicionalista, mas tão tradicionalista, que desde a primeira eleição majoritária pós-ditadura, 1982, salvo algum esquecimento de minha parte, nenhum candidato de esquerda venceu eleição por aqui  e, também,  não a trocam por nenhum outro bairro.
 
O bairro tem problemas urbanos considerados "normais". Mas, o que tem apavorado o tijucano e a classe média de outros bairros, é o que denomina-se de insegurança. A rigor, o que ocorre por aqui e em outros bairros do Rio de Janeiro, que está deixando a classe média desesperada, violenta e reguladora ao extremo ( sugiro a leitura do texto que publiquei - A Era dos Regulamentos: Sociedade - ) nada mais é do que a violência juvenil, geralmente mestiça ou negra, que pratica furtos de aparelhos "Iisso", "Iaquilo", "Smarts", "Tabletes", cordões, pulseiras, bolsas etc. Geralmente tais jovens andam em dupla ou daí para mais um pouco. A pé ou sobre bicicletas.
 
A reação da classe média tem sido o apartheid social. Ou, o que eu chamo de bolhas de defesa e separação(apartamento).
A onda agora é morar em condomínios fechados com grande e boa área de lazer. Os condomínios são as principais bolhas. Tranca-se dentro deles. Os jovens de até 16 anos geralmente são impedidos pelos pais de irem a rua, a não ser que vão em grupo e seja para algum local próximo. Quando muito, permite-se que pratiquem musculação e/ou algum tipo de luta. Sim, pra sair da bolha é preciso saber se defender, ou quem sabe com o corpo inchado de proteínas artificiais "impor medo aos vagabundos".
 
A mesma classe média que reclama da quantidade de leis que o país possui, é a mesma que faz os regimentos internos dos condomínios ficarem maiores do que a própria Constituição Federal! Sim, com medidas neuróticas de segurança, como a proibição da entrada de "entregadores" (normalmente negros). Aí percebe-se que alguém que pediu um remédio pra farmácia e está sozinho, precisa que o "entregador" vá até seu apartamento, então cria-se uma exceção a regra...mas, e o entregador de uma geladeira, um fogão ou um sofá novo? então cria-se outra exceção....mas, e o entregador de comida pro cara que está com lombalgia? então cria-se outra exceção....mas, e a entrega do supermercado com 10, 12, 16 ou mais caixas com sacolas? então cria-se outra exceção. E por aí vai e vai e vai e mesmo assim não se dão conta de que tal regra, como outras, viram as "regras das exceções".
 
Importa mesmo, sentir-se seguro. Tomar atitudes! E aí lá vai a dona classe média e coloca seguranças na rua, sob a fachada de pessoal para "apoio". Isso mesmo. Com eles, pode-se chegar até a calçada, pois a "segurança" estará garantida. Nada disso. Os jovens que furtam são ligeiros, audaciosos e dão olé em qualquer "apoio", pois ao contrário dos filhos da classe média, foram criados soltos. Mais até do que soltos, foram criados largados e seus instintos juvenis são muito mais desenvolvidos. Quem apanha da vida e vive a vida, aprende mais rápido.
 
As bolhas são várias: ônibus escolares, shopping centers, brinquedos eletrônicos etc.
 
Apesar de estarem em pânico e promoverem o uso das bolhas apartamentistas, a classe média não perde a pompa. Não. Não, mesmo. A maioria vai a missa católica dos domingos e lá fala e ouve sobre caridade, olhar para os mais pobres, que matar é um dos pecados capitais e etc. Muito bem, basta saírem do interior da igreja que em qualquer roda de conversa defendem a prisão para menores e até mesmo a pena capital.
 
Se alguém acha que o Brasil foi o último país do mundo a abolir , pelo menos oficialmente, a escravidão e não entende ou acha que foi por acaso; ligue o passado ao presente. O que ocorreu ontem, explica tudo que ocorre hoje.
 
Faça isso e você concluirá que não há nenhuma novidade acontecendo.....talvez uma, os quilombos não são mais proibidos.

sábado, 24 de janeiro de 2015

BOM DOMINGO, EUROPA

Meus amigos, amanhã, dia 25 de janeiro de 2015, tem tudo para ser um dia marcante na Grécia e consequentemente na Europa e mais especificamente na União Europeia.
 
Não somente porque haverá eleições na terra das ágoras, mas porque a Grécia se insurge contra a política econômica neoliberal da francesa Lagarde e da chanceler alemã, Angela Merkel,que contam com a complacência do presidente francês Hollande, que nada tem de socialista, sequer de social democrata e parece perdido com os próprios problemas internos da França, como economia fraca, desemprego juvenil, xenofobia, intolerância racial, intolerância religiosa e vai por aí.
 
Voltemos à Grécia. Tudo indica que o movimento Syriza possui vantagem folgada para vencer as eleições de amanhã. Diferentemente do Partido Socialista Francês, no Syriza há lideranças forjadas conceitualmente a partir de ideias realmente socialistas e humanista.
 
Alexis Tsipras, candidato do Syriza à presidência grega, quer rediscutir a dívida de sua pátria e para isto haverá de enfrentar a sanha vampiresca do FMI, dos banqueiros e da Alemanha. Jornada difícil para um mortal. Mas, a terra que criou Hércules, está acostumada a grandes desafios.
 
Tsipras sabe que ou se articula com outros países que estão sufocando o povo para atenderem aos interesses maiores dos credores e da UE, leia-se Alemanha, como é o caso da sua Grécia, ou sua tarefa será muito difícil. A boa notícia é que articulações já têm sido feitas, inclusive com parlamentares da UE e outros movimentos de esquerda.
Como toda ação gera reação, pois é a dialética viva na sociedade e na história, há fomento de insatisfações populares em várias partes da Europa. É bem verdade que algumas dessas insatisfações estão fortalecendo os sempre presentes direitistas xenófobos, consanguíneos do fascismo. Mas, neste texto quero apenas tratar do que a Grécia pode desencadear para si, para seu povo e para outros países, num campo mais à esquerda, menos submisso ao FMI e a Alemanha e mais progressista no sentido de que seus povos não fiquem escravos de acordos impostos pelo poder credor e aceitos por governos fracos e submissos.
 
A boa notícia é que em breve haverá eleições na Espanha, onde um movimento chamado Podemos está em ascensão, terá candidato próprio e mantém relações estreitas com o movimento Syriza. Eis o que precisa ser feito, a aproximação natural de tais movimentos de esquerda, pois o sucesso de um levará a vitória do outro e assim sucessivamente.
 
Portanto, sejamos todos Syriza e torçamos pela vitória de Alex Tsipras. A sua vitória será um bom domingo para a Europa. E, mantendo-se fiel as suas raízes, poderá influenciar vários outros domingos.
 
Viva a Grécia, viva a consciência majoritária do povo grego!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

PORQUE A INFLAÇÃO É TEIMOSA

Lamentavelmente o receituário econômico ortodoxo para a contenção e redução da inflação é a política monetária, principalmente através da elevação dos juros e do aumento dos depósitos compulsórios dos bancos, juntamente com uma austeridade fiscal que sempre afeta a sociedade, seja com redução da renda real dos servidores públicos e de empresas estatais e/ou a drástica redução dos valores orçados para investimentos.
 
Esse é, simplificadamente, o que os economistas conservadores sugerem e defendem. É como se um país estivesse doente (inflação) e o economista, se ortodoxo, prescreverá uma receita com remédios amargos e com muitos efeitos colaterais.
 
Quero seguir o texto tratando dos efeitos colaterais e da ineficácia do método ortodoxo defendido pelo FMI, EUA e Europa Ocidental.
a) a elevação continuada da taxa  básica de juros no Brasil, atualmente em 11,75% a.a. Para amanhã está programada reunião do COPOM(Conselho de política monetária) e já se fala em 0,5% de elevação da taxa de juros, o que a elevaria 12,25%. Considerando que a inflação ronda a casa dos 6,4%, incrivelmente a política monetária estará com uma taxa de juros que é quase o dobro da inflação!!!
 
b) os efeitos colaterais da crescente elevação da taxa básica de juros são a elevação dos juros que o Brasil paga a seus credores internos, ou seja, necessidade de reduzir mais ainda os investimentos para poupar e pagar aos banqueiros e investidores em geral, o repasse para o custo do crédito rotativo e parcelado, cuja consequência imediata é a redução do consumo!!!
 
c) em 2014 o consumo sofreu com preços dos alimentos em virtude do aumento da demanda e das intempéries da natureza. Que bom! parte significativa da inflação de 2014 foi porque a renda da classe C esteve preservada e a demanda por alimentos foi maior do que a produção afetada por problemas climáticos. Num ambiente desses, deve-se aumentar juros? Isso é insano.
 
d) é insano, pois havendo queda da demanda, também há queda na produção (vocês não acham que empresários são trouxas, não é mesmo?), primeiro resultado é demissão de assalariados e o segundo é o que se chama de "estagflação";
 
e) queda na demanda, queda na produção e inflação no teto da meta, com o crédito na "hora da morte" é igual a estagflação
 
f) aí os ortodoxos vão dizer que o empresário não está investindo, pois o governo gasta demais. Daí virão mais cortes orçamentários ou aumento de impostos (menos provável, pois o dinheiro circulante já estará bem escasso, mas quem sabe...).
 
E por aí vai. O que não vejo é a desindexação da economia. Nos anos 90, anos das grandes privatizações, os serviços públicos privatizados ganharam a benesse da recomposição anual de preços repassados ao consumidor. Preços conhecidos como administrados, que foram privatizados, tiveram a garantia do reajuste anual baseado em algum índice.
 
Efeito dominó! Os preços administrados sobem, os custos de produção e o custo de vida sobem, o empresariado reajusta o valor do seu lucro e os trabalhadores mais organizados e conscientes buscam a reposição da inflação e ganhos reais. Isso é uma ciranda criada no Plano Real, que os governos PT não conseguiram ou não quiseram sair dela.
 
A tal ciranda é inflacionária e não há política monetária nem fiscal que resolva o problema da inflação sem desindexar a economia. O que conseguem é piorar indicadores como a dívida interna e aumentarem a concentração de renda. 
 
O governo está apostando tudo na retomada forte das exportações. É um bom caminho, mas pressiona os preços internos, caso não haja investimento no aumento da produção e da produtividade. E, empresário não coloca capital sozinho, aqui há o mal hábito de ter o BNDES como sócio. Mas, o que desestimulará? A taxa de juros, pois até mesmo a TJLP (taxa de juros de longo prazo) está mais cara.
 
Sem medo de ser feliz e jogar tudo contra a banca. Política desenvolvimentista não combina com monetarismo. A inflação está em 6,4%, portanto, TJLP a 7% e taxa básica a 8,5%. E no mais, tratemos de desindexar a economia já!
 

sábado, 17 de janeiro de 2015

CANÇÃO (CECÍLIA MEIRELES)

As vezes é preciso naufragar sonhos. Enterrá-los vivos e curar os estragos. No poema "Canção" é disso que Cecília Meireles nos passa com a sua inconfundível lírica.
 
Todos já naufragamos sonhos, as vezes "sonhos reais" demais para serem somente sonhos, não é mesmo? Então, apreciem, mas cuidado para não terem vontade de reabrirem o mar para salvar algum navio.

Canção
 
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
 
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
 
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio…
 
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
 
Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A ERA DOS REGULAMENTOS: SOCIEDADE

Não tenho a menor dúvida de que a vida em sociedade requer algumas regras de convivência. Detesto pensar, porém, que tais regrinhas virem cartilhas e normas e leis. Tal situação me leva a pensar que se a sociedade precisa de tais instrumentos para que haja uma convivência saudável, respeitosa entre as pessoas, quaisquer pessoas e individualmente responsável, talvez seja por estar, a sociedade, doente ou muito doente.
 
O meu pressuposto inicial, quiça  equivocado, leva a possibilidade de que então algo de mais grave ocorre, pois legislativo e executivo parecem fábricas de regulamentos, que geram aprovações sempre parciais da sociedade, porém sem direção e sentido claros.
 
O melhor regulamento, em geral, é aquele que suprime regulamentos específicos e gera naturalmente um sentimento de liberdade. Cito como exemplo o fato do Brasil ser um país laico, definido em sua Constituição. Um bom exemplo de regra, que desregra. Em outras palavras significa que há, ou deveria haver, liberdade religiosa, liberdade de religiosidade e liberdade filosófica para agnósticos e ateus.
 
Peguei o exemplo da religião, pois quem lê meus textos sabe que eles tem um caráter opinativo, geralmente não passam de 50 linhas e busco provocar a reflexão. Poderia ter pego a questão da opção sexual, a questão racial e tantas outras.
O tema é tão abrangente e complexo, que talvez eu faça mais dois ou três textos opinando sobre o que chamo de "Era dos Regulamentos".
 
Voltemos ao centro do texto e vejamos que a questão de simplesmente se regulamentar algo, não garante a sua execução social. No caso do Brasil Estado Laico, é possível ver a olhos pela TV, que na parede de fundo do Congresso Nacional há uma cruz com Jesus Cristo crucificado, como que o Congresso a pedir proteção de caráter cristão. Vê-se a mesma coisa em várias salas de audiência do poder judiciário.
 
Com que direito os legisladores e os aplicadores da justiça poderão cobrar da sociedade que haja respeito religioso e tolerância se eles próprios dão um "jeitinho" de burlar o "regulamento" constitucional? E, lembrem-se, trata de um "regulamento" que desregula e propõe na sua concepção mais profunda a liberdade  filosófica e/ou dogmática, cabendo a própria sociedade se auto-regulamentar.  O que é extremamente difícil, pois a educação no Brasil não prepara as pessoas para viverem num ambiente de liberdade. Não prepara as pessoas para refletirem. Não prepara as pessoas para pensarem no contraditório. Não prepara as pessoas para lerem, portanto todo o mais escrito logo atrás se prejudica.
 
Como a educação não resolve, os regulamentos são cada vez mais criados, como a lei do zero álcool para motoristas. As próprias pessoas deveriam conscientemente tomar as suas decisões e assumir as suas responsabilidades. Ocorre que não há confiança. E essa falta de confiança está ligada a falta de educação. Daí que estamos num ciclo vicioso  e enquanto isso os regulamentos vão sendo criados e cá entre nós, muitas e muitas e muitas vezes desrespeitados.
 
Devo finalizar, deixando claro que sou a favor de alguns regulamentos que reparam crimes históricos, como a política de cotas raciais e sociais para ingresso em universidades públicas. Porém, penso que deva ser um regulamento com data a ser definida para a sua extinção. Somente possível quando a sociedade distribuir melhor a sua renda e a educação pública de base, fundamental e ensino médio forem qualificadas e libertadoras.

sábado, 10 de janeiro de 2015

POESIA: NARCISO CEGO

Sou grande fã da obra do amazonense Thiago de Mello. Neste blog, já publiquei uma das suas poesias, que considero "estado da arte" e que se chama "Na manhã do milênio". Hoje, vou publicar uma poesia chamada Narciso Cego na qual Thiago de Mello esbanja o seu talento para usufruir das palavras em favor da arte poética. Espero que vocês apreciem.
 
Narciso Cego
=========
 
Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio - não me frequento
 
Por sobre fonte erma e esquiva
flutua-me, íntegra, a face.
Mas nunca me vejo: e sigo
com face mal disfarçada.
Oh que amargo é o não poder
rosto a rosto comtemplar
aquilo que ignoto sou;
distinguir até que ponto
sou eu mesmo que me levo
ou se um nume irrevelável
que (para ser) vem morar
comigo, dentro de mim,
mas me abandona se rolo
pelos declives do mundo.
Desfaço-me do que sonho:
faço-me sonho de alguém
oculto. Talvez um Deus
sonhe comigo, cobice
o que eu guardo e nunca usei.
 
Cego assim, não me decifro.
E o imaginar-me sonhando
não me completa: a ganância
de ser-me inteiro prossegue.
E pairo - pânico mudo -
entre o sonho e o sonhador.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

A ERA DOS REGULAMENTOS: ECONOMIA

Apesar de todo desenvolvimento científico, tecnológico e do saber humano, vivemos contraditoriamente numa sociedade de muito pouca liberdade para a expressão e para a inovação no campo da economia, da política, da sociedade e do indivíduo.
 
Digo que é contraditório, pois quanto maior o saber, mais livres seriam, ao menos hipoteticamente, as criações para solução de problemas, pois maiores tendem a ser a gama de opções e interações alimentadas pelo próprio acúmulo e crescimento do saber.
 
O que ocorre é justamente o oposto. Peguemos o caso da economia. Da economia do Brasil ou de qualquer parte do mundo globalizado sob os preceitos ocidentais - note-se, que com tal ressalva, estou excluindo os países que resistem a tais preceitos. Por exemplo, Cuba.
 
A grande maioria, entretanto, joga o jogo. Eis um problema sério, pois jogos têm regras ou regulamentos. Então, se o seu país faz parte da chamada "economia globalizada sob os preceitos ocidentais", a cartilha de regulamentos é igual para todos.
 
Não importa a cor da bandeira, quem é o presidente, quem é o primeiro-ministro, que partido possui maioria, quem faz oposição. A questão é muito simples, siga a cartilha e jogue o jogo.
Caso um país se arrisque a criar soluções inovadoras no campo da economia, será penalizado. Naturalmente penalizado, pois é meio que um "beco sem saída". Dessa forma, o capital acumulado, as grandes fortunas e os países ricos se protegem. Determinar as regras globais para as economias é muito mais barato do que fazer guerras, tomar territórios, colonizar fisicamente. Nada disso, a coisa é um espectro e como tal é invisível ao olhar dos mortais e geralmente aceito como "normal".
 
O mundo precisa de "malucos", pessoas que arrisquem a sair do quadrado. Quem disse que a inflação, em qualquer parte do mundo precisa ser combatida com política monetarista? Isso é ótimo para os credores soberanos. Isso é ótimo para adoecer a economia de um país, pois ele partirá para outro regulamento, que é poupar para pagar mais e mais juros, pois o próprio país aumentou os juros. A sua capacidade de investimento despenca.
 
O país se torna refém dos credores e da iniciativa privada. Os primeiros se não receberem tempestivamente fecham as torneiras, as agências de rating consideram o país especulativo. A iniciativa privada exige condições muito favoráveis para investir, pois o Estado estará gastando tudo com juros. Então o Estado se torna refém das exigências da iniciativa privada.
 
Como consequência, o Estado, para ter alguma sobra e "auxiliar" a política monetarista, normalmente, seguindo o regulamento, opta por fazer cortes. Cai a renda do trabalhador, cai a oferta de trabalho, surgem os famosos programas de demissão "voluntária" e vai por aí.
 
Poderia dar dezenas de outros exemplos. Para o que eu quero, basta ficarmos por aqui, pois quero apenas mostrar que em várias áreas, hoje destaquei a economia, há uma crescente separação entre o que é "certo" fazer e o que seria "errado". Entre o normal e o anormal ou irresponsável.
 
Quase todos os meus leitores são brasileiros. O exemplo caiu como uma luva no Brasil, não é mesmo? Mas, o título do texto é "Era dos regulamentos: economia", eu poderia, então, estar com Portugal, ou Grécia, ou Rússia, ou Espanha, ou..., ou..., ou... na minha mente.

sábado, 3 de janeiro de 2015

BRASIL: PÁTRIA EDUCADORA

A questão que pretendo abordar não é se o lema do segundo mandato da presidenta Dilma é feio, bonito, adequado, desadequado, soberbo ou populista. O que quero abordar é a questão da educação em si em nosso país.
 
Geralmente, quando pensamos em educação, pensamos em escolas, professores e o sistema de ensino e o acesso ao mesmo. Não quero me prender nessa seara. Ela é comum e o país todo vem discutindo o assunto.
 
Atualmente, quando penso em educação, tenho calafrios dos pés à cabeça. Nós temos que educar ou reeducar 200 milhões de brasileiros! O assunto não pode ser limitado a educação infantil, juvenil ou alfabetização de adultos. A coisa é muito maior, muito mais profunda e por isso muito mais complexa.
 
Precisamos, todos nós,  aprendermos e/ou renovarmos os nossos princípios e aprendizados sobre como sermos cidadãos. Vejamos alguns poucos exemplos que mostram que precisamos (re)educar o país inteiro, independentemente de classe social ou credo ou raça ou qualquer outra coisa. 
 
Exemplos:
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a) A corrupção em altos postos públicos e a corrupção praticadas por grandes empresários são executadas por pessoas, em geral, com grau de instrução de nível superior ou acima;
 
b) Os jovens que morrem e matam no trânsito às sextas e sábados a noite por excesso de velocidade e/ou alto índice de álcool no sangue, são, em sua maioria, jovens de classe média e estudam em escolas conceituadas e universidades públicas ou privadas de alta grife;
 
c) Os brasileiros que vaiaram o hino do Chile, durante a Copa do Mundo, no jogo Brasil x Chile, são brasileiros, em sua grande maioria, de classe média, pois os preços dos ingressos nos permite fazer tal inferência. Então, são pessoas que passaram por escolas e possuem, no mínimo o ensino médio completo;
 
d) Os brasileiros, que no trânsito, avançam sinais, fecham cruzamentos, fazem ultrapassagens em locais proibidos nas estradas; pelos carros que observamos, são pessoas da classe média para cima, em sua maioria. Podemos dizer que a maioria cursou ou está cursando curso superior;
 
e) A política do "toma lá, da cá" que as bancadas do Congresso e das Assembleias Legislativas costumam tratar com o poder executivo, deixa relegado a um plano de desimportância a questão fundamental que é programática e ideológica e cria uma "ética" explicita de que apoio pode ser obtido em troca de ocupação de cargos. Pelo menos no Congresso Nacional podemos dizer que a maioria possui curso superior.
 
Cinco exemplos, são suficientes para mostrar que a nossa falta de educação é endêmica e não se resolverá apenas com o sistema educacional para as crianças, a valorização do magistério etc.
 
O Brasil tem sido até hoje a Pátria da deseducação e do desestímulo à educação. Maior prova recente é o alto nível de agressividade na linguagem raivosa, que notamos nas redes sociais durante as eleições presidenciais de 2014. Muitos "amigos" desfizeram suas amizades naquele período.
 
Ora, se o Brasil tem sido uma Pátria deseducadora desde sempre, então o comportamental brasileiro, em geral, já é cultural! E, isso é muito grave.
 
Não se resolve isso só com soluções educativas, mas com uma verdadeira Revolução Cultural.
 
É evidente que a intenção do governo que começa, de através do seu slogan demonstrar qual será a sua prioridade, reforça a nossa esperança de que tenhamos anos realmente de profundos avanços no sistema educativo, pois se bem sucedido poderá ser o prefácio de uma futura transformação cultural.