quinta-feira, 30 de julho de 2015

POESIA DE MIA COUTO. 50 MIL VISUALIZAÇÕES

Hoje, 30 de julho de 2015, o blog chegou a marca de 50 mil visualizações. Sempre um novo patamar é atingido, comemoramos com poesia. Assim foi com as primeiras 10 mil, depois 20 mil, em seguida 35 mil e agora 50 mil!
 
A tradição está mantida. Poesia do moçambicano Mia Couto para por um pouco de lirismo no conturbado mundo em que vivemos.
 
 
Companheiros    -   (autor: Mia Couto)
 
quero
escrever-me de homens
quero
calçar-me de terra
quero ser
a estrada marinha
que prossegue depois do último caminho
 
e quando ficar sem mim
não terei escrito
senão por vós
irmãos de um sonho
por vós
que não sereis derrotados
 
deixo
a paciência dos rios
a idade dos livros
 
mas não lego
mapa nem bússola
porque andei sempre
sobre meus pés
e doeu-me
às vezes
viver

 hei-de inventar
um verso que vos faça justiça
 
por ora
basta-me o arco-íris
 
em que vos sonho
basta-te saber que morreis demasiado
por viverdes de menos
mas que permaneceis sem preço
 
companheiros

sábado, 25 de julho de 2015

POESIA: TEU SEGREDO

Fim de semana....que tal uma poesia?
Publicarei uma de minha autoria. Espero que gostem.

Teu Segredo  ( escrita em 2007, publicada no livro Sensações Despertadas, All Print, 2013 )

Deixe-me em paz
Com meus remédios
Aquela tintura para cabelo
Uma plástica
E meu tédio.

Contra teu olhar
De reprovação
Preciso de um bar
E alguma emoção

Você me domina
Me prende,
Me escraviza
Sem me dar opção.

Se satisfaz com frieza
Boceja, desdenha
Meu coração.

Por isso, sacio-me de você
Fingindo sentir o que o apraz
Mesmo efêmero o prazer
Você não o terá jamais,
Pois teu segredo
Para mim não é mistério
Que deixar de me amar
Você não é capaz.

terça-feira, 21 de julho de 2015

O SOCIALISMO SOVIÉTICO: ALGUNS ESCLARECIMENTOS

Ontem li um diálogo no youtube, local onde um dos participantes publicara o hino da antiga URSS. Entre uma e outra colocação de saudosos do sistema soviético e pessoas desinformadas, porém simpatizantes do caráter humanista contido nas premissas dos fundadores do comunismo e na sociedade transitória, chamada de socialismo ou, mais especificamente, socialismo científico, fiquei com a certeza, que já me acompanha faz muito tempo, de que o socialismo foi tão descontruído e demonizado pela propaganda ocidental, que no momento histórico em que ele for difundido com clareza e os movimentos internacionais pró-socialismo conseguirem reconstruir o que de fato significa, na prática, o sistema proposto por Marx e Engels, será muito fácil a sua implantação e implementação, pois o povo só tem a ganhar.
 
Vejamos algumas coisas que pincei da conversa e o que se pode tirar de esclarecimentos:
 
a) o socialismo só existiu na URSS de 1917 a 1923, depois foi um Estado ditatorial, regulador das vidas das pessoas e desigual, além de tirânico com Stalin - Sim e não. A maior virtude do socialismo Russo, foi o seu processo de organização partidária (bolcheviques) antes mesmo da tomada do poder. A prática organizacional e esclarecedora junto ao povo, liderada por Lênin, deixou ensinamentos preciosos para futuras organizações que buscam no socialismo uma saída para humanizar as relações entre as pessoas e por fim ao explorativo modo de produção econômico capitalista. Como toda ação gera uma reação, com todo ocidente sabotando o sistema nascente na Rússia, o sistema para não sucumbir colocou-se na defensiva, fechando-se e entrando no jogo geopolítico, incluindo a sua participação vitoriosa na 2ª Guerra Mundial contra os nazistas e com isso ampliando o seu terreno de influência, vital para o que viria depois: a Guerra Fria.
 
b) a prova de que o comunismo é um sistema tirânico, duro e impiedoso está na história da URSS - primeiro é preciso desfazer uma confusão muito comum que muitas pessoas fazem. Militantes soviéticos comprometidos com o futuro sabiam que o comunismo, como sistema de vida das pessoas, era algo para um futuro distante. Digo isso, pois o comunismo jamais existiu em lugar algum. O comunismo é algo tão belo que é difícil imaginá-lo com as influências que temos no nosso consciente. No comunismo não existe Estado e, portanto, não existem países ou fronteiras. A URSS experimentou um sistema socialista, de economia planificada, onde a produção e os meios para produzir pertenciam a sociedade como um todo. Se alguém tem dúvidas quanto a isso, basta verificar que a Rússia czarista era um país rural e o socialismo em poucas décadas transformou o país numa potência industrial e tecnológica.
c) A intenção socialista é boa, porém impede e/ou desestimula a livre iniciativa - vamos discutir o que é livre iniciativa. No sistema capitalista tornou-se erroneamente sinônimo de empreendedorismo com finalidade lucrativa. A livre iniciativa nada mais é do que o livre arbítrio para fazer escolhas, para criar, para organizar e para qualquer coisa que parta do ser humano com o intuito de resolver seus problemas, produzir arte e outras coisas para as quais não fique esperando soluções milagrosas. Sendo assim, nenhum sistema é mais favorável à livre iniciativa do que o socialismo, visto que nele as iniciativas podem ser produtos individuais ou coletivos, mas seus frutos serão sempre para a sociedade como um todo. É a livre iniciativa sem recheio de ganância.
 
d) Na URSS o Estado ficou muito lento por causa da hierarquização vertical e horizontal, o que prova que a burocracia é um fenômeno do socialismo - falando apenas do socialismo soviético, visto que cada experiência socialista possui as suas peculiaridades, é notório que o partido e o Estado fundiram-se numa única coisa e que isso trouxe para a máquina estatal um grupo de quadros do partido, que acabou se tornando um segmento social diferenciado. Eu acredito, ainda sem formar total convicção, que tal fenômeno, associado a algumas fortes rivalidades étnicas foram, dentre outras, causas da dissolução da URSS. É bom que se diga, que a burocracia estatal e a lentidão para a tomada de decisões não são características exclusivas da experiência socialista soviética, especialmente durante a Guerra Fria. Podemos observar em alguns países do ocidente capitalista que as instituições são forjadas para dificultarem ou prolongarem o tempo para mudanças. Melhor exemplo que o Brasil não posso dar. Além disso, posso apresentar um caso de sucesso, que é o Estado cubano, que por meio das observações e estudos de Che Guevara, o mesmo prevera que Cuba poderia cometer o mesmo erro que a URSS. Che conduziu a organização ministerial e produtiva de Cuba, simplificando processos de tomadas de decisões, além de colocar trabalhadores de escritórios do Estado para periodicamente trabalharem com camponeses e no chão de fábricas.

domingo, 12 de julho de 2015

NÃO VOTE NA PESQUISA ON LINE

Está rolando nas redes sociais, especialmente no facebook, uma pesquisa sem critério científico e estatisticamente com graves erros conceituais.
 
O site que abriga a pesquisa tem uma linha editorial direitista e a única explicação para se utilizarem de recurso tão infundado é a divulgação calhorda do resultado, que de antemão sabemos qual será, pois trata-se de uma avaliação do governo Dilma, que passa por dificuldades econômicas e políticas.
 
Deixemos que pessoas despolitizadas e as convictas e saudosistas da direita se divirtam. Os progressistas e pessoas de esquerda que participam, acabam legitimando um instrumento de pesquisa que não atinge o povo mais humilde do país.
 
 
A cara de pau dos direitistas que montaram a pesquisa é muito grande. Veja o que eles escrevem sobre o objetivo: " A Pesquisa que será feita on-line tem o único objetivo: Promover e divulgar a opinião popular de forma clara e direta."
 
O resultado será usado para achincalhar a figura da Dilma em si. Não haverá conteúdo político, pois se houvesse o debate teria que começar pela quadrilha que comanda o Congresso.
 
Se você concorda que devemos ignorar a tal pesquisa, divulgue este texto. Ou escreva o seu próprio. E, principalmente, divulgue. Não vamos dar audiência para site ligado ao conservadorismo.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

CLÁSSICO VERSUS NEOCLÁSSICO

O título do texto poderia, também, ser liberal x neoliberal.
 
Eis que a terra arenosa, pobre em nutrientes, mas berço das Cidades-Estado que fundou o jeito ocidental de ser, confronta o "velho continente" com a vitória do NÃO.
 
Difícil aceitar a descompostura anti-democrática que a União Europeia, liderada pela Alemanha, e a  cada vez mais cadavérica Lagarde, diretora geral do FMI tiveram ao serem contrários ao plebiscito realizado na Grécia no último domingo.
 
Ora vejam, no berço da democracia clássica lideres mundiais de países que se dizem democráticos não queriam que o povo decidisse o seu destino. Então, sou levado a me perguntar qual o tipo de democracia a Sra. Merkel, o Sr. Hollande e o Sr. Cameron defendem e praticam em seus países.
 
O que pode ser mais democrático do que perguntar ao povo o que ele quer?
 
Naturalmente que a geopolítica, os credores alemãs e franceses e a credibilidade do FMI são mais sonoros para os líderes ocidentais do que os gritos do povo nas ruas. Ao dizer NÃO, o povo grego deu um recado estridente: Cobrem a dívida de quem nos endividou.
 
 
Hoje em dia para dominar um país que faz parte de um bloco não há mais a necessidade de invasão militar para tomada de território. Basta tão somente endividar o país e sugar o dinheiro do povo através de reduções salariais, elevados índices de desemprego e piora dos sistemas previdenciários, dentre outros.
 
Tsípras confrontou o velho estilo grego, conhecido como clássico, com o neoliberalismo neoclássico cujo maior líder europeu é a Alemanha. Coincidentemente a proposta de constituição do III Reich fora inspirada na retomada do neoclassicismo.
 
Até aqui falamos sobre o óbvio, mas algumas questões merecem ser colocadas numa perspectiva maior. Vejamos algumas para reflexão:
 
a) o domínio das grandes potências sobre países como a Grécia ou mesmo latino americanos se dá pela enorme distância tecnológica entre os países ricos e os demais. Portanto, a maior arma de subjugação de um país sobre outro não é, ratificando o que já foi dito, a forma bélica, mas a dependência tecnológica.
 
b) a maior potência do mundo vem substituindo as ações belicistas globais por acordos diplomáticos a exemplo do que  recentemente fez  com Cuba e está prestes a concluir com o Irã. A aposta do EUA é justamente trazer tais países para gravitarem ao redor do seu poderio tecnológico e financeiro.
 
c) não pensemos que Tsípras e a parcela majoritária da população que votou contra o acordo com a UE representam um sopro de esperança para a esquerda mundial. A população do NÃO votou a favor do deu bolso e não por ideologia e a parcela significativa dos gregos que votou SIM são comparáveis a parte da classe média brasileira que é contra o Bolsa Família e outros programas de caráter social.
 
De certo que se no caso grego não houve avanço ideológico  nos resta aplaudir a iniciativa do primeiro ministro grego que confrontou países poderosos, credores poderosos e o FMI dando-lhes o seguinte recado: se a democracia da Grécia clássica era excludente, na Grécia contemporânea o povo, sem exclusões, decide o seu destino.