quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

POESIA: CORA CORALINA

Alguém já ouviu falar da poetisa Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas? Como poetisa é difícil, pois essa mulher de ouro, como escreveu certa vez Carlos Drummond de Andrade, assinava as suas poesias com o pseudônimo Cora Coralina.
 
Nasceu no final do século XIX e faleceu em 1985. Lá se vão 30 anos desde sua despedida física, porém viva mais do que nunca na sua obra. Assumida a lutar por um espaço praticamente restrito aos homens, criou em 1908 o jornal "A Rosa" com a colaboração de duas outras mulheres, para a divulgação de poesias de autoras femininas.
 
Em tributo à Cora Coralina e em sua memória, pois lá se vão 30 anos, transcrevo uma poesia em que ela própria se apresenta. Ela própria diz ao Brasil quem é Cora Coralina.
 
 
CORA CORALINA, QUEM É VOCÊ?       ( Cora Coralina)
 
Sou mulher como outra qualquer.
Venho do século passado
e trago comigo todas as idades.
 
Nasci numa rebaixa de serra
Entre serras e morros.
“Longe de todos os lugares”.
Numa cidade de onde levaram
o ouro e deixaram as pedras.
 
Junto a estas decorreram
a minha infância e adolescência.
 
Aos meus anseios respondiam
as escarpas agrestes.
E eu fechada dentro
da imensa serrania
que se azulava na distância
longínqua.
 
Numa ânsia de vida eu abria
O vôo nas asas impossíveis
do sonho.
 
Venho do século passado.
Pertenço a uma geração
ponte, entre a libertação
dos escravos e o trabalhador livre.
Entre a monarquia caída e a república
que se instalava.
 
Todo o ranço do passado era presente.
A brutalidade, a incompreensão, a ignorância, o carrancismo.
Os castigos corporais.
Nas casas. Nas escolas.
Nos quartéis e nas roças.
A criança não tinha vez,
Os adultos eram sádicos
aplicavam castigos humilhantes. 
 
Tive uma velha mestra que já
havia ensinado uma geração
antes da minha.
Os métodos de ensino eram
antiquados e aprendi as letras
em livros superados de que
ninguém mais fala.
 
Nunca os algarismos me
entraram no entendimento.
De certo pela pobreza que marcaria
Para sempre minha vida.
Precisei pouco dos números.
 
Sendo eu mais doméstica do
que intelectual,
não escrevo jamais de forma
consciente e racionada, e sim
impelida por um impulso incontrolável.
Sendo assim, tenho a
consciência de ser autêntica.
 
Nasci para escrever, mas, o meio,
o tempo, as criaturas e fatores
outros, contra-marcaram minha vida.
 
Sou mais doceira e cozinheira
Do que escritora, sendo a culinária
a mais nobre de todas as Artes:
objetiva, concreta, jamais abstrata
a que está ligada à vida e
à saúde humana.
 
Nunca recebi estímulos familiares para ser literata.
Sempre houve na família, senão uma
hostilidade, pelo menos uma reserva determinada
a essa minha tendência inata.
Talvez, por tudo isso e muito mais,
sinta dentro de mim, no fundo dos meus
reservatórios secretos, um vago desejo de analfabetismo.
Sobrevivi, me recompondo aos
bocados, à dura compreensão dos
rígidos preconceitos do passado.
 
Preconceitos de classe.
Preconceitos de cor e de família.
Preconceitos econômicos.
Férreos preconceitos sociais.
 
A escola da vida me suplementou
as deficiências da escola primária
que outras o destino não me deu.
 
Foi assim que cheguei a este livro
Sem referências a mencionar.
 
Nenhum primeiro prêmio.
Nenhum segundo lugar.
 
Nem Menção Honrosa.
Nenhuma Láurea.
 
Apenas a autenticidade da minha
poesia arrancada aos pedaços
do fundo da minha sensibilidade,
e este anseio:
procuro superar todos os dias
Minha própria personalidade
renovada,
despedaçando dentro de mim
tudo que é velho e morto.
 
Luta, a palavra vibrante
que levanta os fracos
e determina os fortes.
 
Quem sentirá a Vida
destas páginas...
Gerações que hão de vir
de gerações que vão nascer.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

NEGAÇÃO, SOBERBA E A REALIDADE CONCRETA

Quando pretendo falar algo que envolve o termo realidade, nunca é demais explicar a que realidade me refiro. A realidade concreta encontra suporte na metodologia marxista de analisar a História. O texto não se concentrará na metodologia marxista. Quem sabe se torne tema em breve, mas há na própria internet material farto sobre o assunto.
 
Vou dizer o mínimo sobre o modo marxista de ver e analisar a História, que é sob o ponto de vista material, ou seja econômico e de que tudo está  sempre em processo de modificação, segundo as regras da filosofia dialética.
 
A realidade concreta está diretamente ligada a noção de alienação. A mais importante alienação é o trabalho. Isso mesmo. O trabalho está diretamente ligado a forma de vida que você leva. Através do trabalho a tua vida material sobrepõem-se ao que você é, a sua essência passa a ser o que você tem.
 
Fundamental para entender a soberba crescente na sociedade atual baseada no que se tem e não no que se é. Seria possível, no capitalismo ocorrer uma inversão de valores de modo que acabasse a alienação econômica? Para reflexão eu deixo a seguinte pergunta. Como seria possível, se a propriedade do capital e demais riquezas é de natureza privada?
O apego ao passado, o apego a como a vida é e o sonho de ter mais e alçar patamar superior no degrau das classes, faz com que a alienação seja crescente nos segmentos sociais que mais consomem: os chamados segmentos intermediários, ou aquilo que economistas e alguns sociólogos chamam de classe média.
 
Rigorosamente entra "em campo" a chamada negação. O instinto cerebral primitivo que impedirá pessoas e pessoas e muitas pessoas de se depararem concretamente com os perigos que o sistema econômico atual representa para a vida humana em todos os níveis. Desde familiar, dentro de casa, até na relação entre países com o jogo geopolítico das superpotências e o contraste com a pobreza e as necessidades dos países pobres.
 
Quando acordamos e pensamos que o dia vai ser bom, tomamos um banho, um café, nos preparamos para sair e trabalhar, deixamos apenas que alguns pequenos problemas entrem no nosso consciente; coisas como o trânsito deve estar lento, o dia está muito quente. Evitamos os riscos maiores. Negamo-los.
 
Nas redes sociais, normalmente as "curtidas" são para frases de autoajuda, imagens paisagísticas, piadas etc. Quando o assunto é apocalíptico, do tipo guerras, intervenções, derretimento acelerado de calotas de gelo, 1 bilhões de pessoas sem alimentação diária, então são poucas as pessoas que não se negam a encarar o real.
 
Parcialmente concluindo, parece que o que ocorre é que manter-se alienado dentro da sua vida privada, gera um conforto psicológico nos segmentos intermediários, de modo que qualquer suposta ameaça a mudanças tem a rejeição de tais segmentos. Negar a realidade concreta, portanto, é alienante e conservador.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

POLÍTICA: A POLARIZAÇÂO PT x PSDB

"A habilidade de simplificar significa eliminar o desnecessário para que o necessário possa se manifestar"
                                  Hans Hofmann

O capital sobrepõe-se a tudo, pois o sistema institucional, seja legislativo, executivo, judiciário, educativo, comunicativo ( tevês, rádios, mídias móveis etc ), partidário, policial e tantos outros, foram criados e constantemente adaptados à manutenção sistêmica.
 
Lembrem-se sempre de que a base da nossa sociedade está no princípio do direito a propriedade privada e a livre iniciativa. De forma muito resumida, quando o EUA e outras grandes potências ocidentais falam em liberdade, estão se referindo basicamente a propriedade privada, inclusive de ideias e tecnologias através das patentes, e ao empreendedorismo que visa o lucro como o objetivo estimulante.
 
A Guerra Fria foi um exemplo de polarização. Inicialmente uma polarização ideológica, que levou parte do mundo a reflexão sobre os sistemas capitalista, já bem conhecido, e o socialista ao modo Soviético.
 
Na fase da polarização ideológica, ela fez bem ao mundo. Naturalmente os princípios socialistas foram ganhando espaço em diversas sociedades, pois a ideia capitalista de liberdade foi cedendo terreno para uma proposta holística de sociedade, onde a liberdade em si, passa pela igualdade social. Ou seja, o individual dá lugar ao social.
 
Numa fase seguinte, talvez final dos anos 50 início dos 60, a vantagem ideológica representada pela URSS leva EUA e aliados a interferirem diretamente no que vinha acontecendo em vários países. O EUA passa a impedir a auto determinação dos povos. O jogo ideológico cede terreno rapidamente para o jogo geopolítico. E a URSS passa a fazer a mesma coisa.
 
Quando a polarização chega no nível da "desideologização" e assume um caráter de dominação sobre outros povos para manutenção de poder e um lado proteger-se do outro, além das guerras patrocinadas pelas duas grandes potências, a polarização deixou de ser uma coisa boa. Tornou-se perniciosa e estamos pagando um alto preço até hoje. Aqui, no Brasil, não se pode analisar o golpe de 1964 sem compreender a Guerra Fria. 
 
E, o que a polarização PT x PSDB tem com isso? Vamos tratar desse assunto agora.
O exemplo da Guerra Fria foi para mostrar que polarizações podem ser boas ou ruins, dependendo do que as mantém. Mas, no caso do PT e do PSDB, ambos são frutos do que se passou no Brasil antes, durante e um pouco depois da ditadura. Por conseguinte, há ligação sim com a Guerra Fria. Ocorre, que não irei me aprofundar nessa questão da gênesis dos dois partidos, pois iria perder o foco do que quero desenvolver no texto.
 
O PT dos anos 80 e boa parte dos anos 90 era um partido que gritava aos quatro ventos que não faria poupança para pagar juros aos banqueiros, que o congresso nacional era uma casa de bandidos e por isso era preciso fortalecer os movimentos sociais, que a falta de ética na política era nojenta, que o FHC comprou votos para passar no congresso a lei que passou a permitir a reeleição e por aí vai. Ou seja, auto proclamava-se como o partido das mudanças à esquerda.
 
Já o PSDB, fruto de uma dissidência no PMDB, colou-se no discurso de forma progressista, porém conciliadora. O plano Real implantado ainda sob o governo de Itamar Franco, cujo ministro da fazenda era Fernando Henrique, funciona no quesito queda da inflação na esteira de um período de queda da inflação em todo o mundo. Sobre isso recomendo a leitura dos trabalhos do economista e sociólogo Theotônio dos Santos. No seu blog há muito material, eis o endereço theotoniodossantos.blogspot.com; grosso modo, ele revela através de pesquisa séria, os motivos que levaram a queda da inflação com a implantação do Plano Real.
 
É evidente, que a eleição de 1994 estava resolvida. Discurso progressista, porém cauteloso e conciliador, coisas que a classe média adora e tendo como candidato o Príncipe com sua lança subjugando o dragão da inflação, barbada.
 
A polarização começa em 1994. E, por incrível que possa parecer, assim como na Guerra Fria, nesta fase ela faz bem, pois o embate deu-se bastante no campo ideológico. Com a derrota do Brizola em 1989, o PT assume cada vez mais ao longo dos anos 90, o protagonismo da esquerda. Com todas as críticas que eu tenho ao PT, desde os anos 80, o fato é que o PT deu o tom esquerdista nos anos 90.
 
Mantendo o mesmo discurso, novamente Lula e o PT são derrotados em 1998 pelo PSDB e seu Príncipe. A classe média ainda estava deslumbrada com ambos, apesar dos 4 anos de governo terem sido de puro arrocho.
 
Duas coisas acontecem entre 98 e 2002. Mais do que duas, mas destacarei duas:
=> Lula e o PT, equivocadamente mudam seus programas e discurso, pois temem mais uma derrota. Daí surge o apelido Lulinha paz e amor e
=> assim como o PSDB que governava dando cargos ao DEM e com isso fazendo maioria no congresso; Lula convence o PT de que eles precisam fazer a mesma coisa e fecham um pacto com o PSB, o PR e o PMDB sendo o último aquele de maior bancada até então.
 
A sociedade, desgastada por 8 anos de arrocho e política econômica neoliberal (FHC assinou o consenso de Washington), com o país arruinado economicamente, entregue ao receituário do FMI em troca de 40 bilhões de dólares, e tendo na figura do Lula um discurso moderado, entrega-lhe a vitória e a faixa presidencial.
 
Desde então, a polarização tornou-se daninha, pois a ideologia deu lugar ao pragmatismo. Mesmo que o PT em 2002 tivesse perdido, o partido já tinha adotado uma nova cara, uma essência pragmática focada no processo eleitoral/institucional.
 
A partir daí a polarização vai se tornando cada vez menos politizadora para a sociedade. Tem-se dois partidos relativamente sólidos e no arrasto de cada um, partidos sem solidez programática, focados naquilo que lhes pode abrir espaços dentro das instituições governamentais.
 
De certa forma, pode-se dizer que o DEM gozou de 8 anos de conforto nacional e 12 anos de conforto em São Paulo. Já o PSB, o PR e o PMDB estão na "boa" já faz 12 anos no nível nacional.
 
Dito isto, a maior questão que se abre é se tanto um quanto outro partido (PT e PSDB) representam mais do mesmo.
 
Apesar da polarização ter se tornado daninha, pois não é politizadora e ambos os partidos não possuem vocação para promover rupturas para criar algo novo, progressista e que tenha o foco no povo em termos de economia, restam algumas diferenças, que até algo mais a esquerda surgir como terceira via, precisamos levar em consideração:
 
Papel do Estado => para o PSDB é Estado mínimo e economia de mercado com receituário ocidental voltado para o arrocho para manter compromissos. O PT pensa num Estado medianamente interventor. Reparem, por exemplo, que nas concessões de blocos do Pré-sal, obrigatoriamente a Petrobrás tem que ter uma participação junto ao consórcio vencedor.
 
Política social => o PSDB trabalha com estatísticas. seus economistas são técnicos desprovidos de sensibilidade social. Todo esforço social dentro de um governo PSDB tem que ter o aval dos economistas. No PT é diferente, ou seja, todo esforço para o social tem que ser de uma forma ou de outra executado; a área econômica que trate de arrumar soluções.
 
Política internacional => Os governos PSDB foram de alinhamento automático com as potências ocidentais. Retomar o alinhamento automático com Washington e focar a União Europeia estão na cartilha do PSDB. O PT é terceiro-mundista, adepto do BRICS e principalmente focado na América do Sul. As nossas relações com a Venezuela, o Equador e a Bolívia, seriam bem diferentes num governo PSDB. Então, mesmo o PT não sendo bolivariano, há ainda algumas coisas no seu DNA que os impõem a apoiar governos de esquerda.
 
Vou ficar com esses três exemplos. Parecem suficientes para mostrar que a polarização é ruim, não acrescenta, não afeta em nada os interessas do capital, mas enquanto não for formada uma terceira via há que se ter em mente que existem diferenças.
 
Além disso, o que a esquerda tem feito para se tornar uma via factível? Essa pergunta precisa ser feita a todo momento. Do contrário, a tal polarização ainda tende a sobreviver. 2018 está logo ali.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

POESIA CANTADA: DEZ SAMBAS PARA GUARDAR

A música foi a maior de todas as criações humanas. A natureza deu uma força ao produzir uma diversidade infinita de sons, que desde os ancestrais do homo sapiens, sapiens, ouvia-se e buscava-se a reprodução de sons seguida da a comunicação através de silvos e os primeiros e simples, porém mágicos, sons "tirados" para distração, para reverências as divindades; tudo através da primeira forma instrumental para fazer som: a percussão.
 
Em pleno carnaval, peço licença para deixar a economia, a política, a história e outras questões aflitivas da humanidade, para abrir passagem para o samba. E, sem ocupar seu tempo com mais delongas, vou sugerir, em ordem aleatória, dez sambas imortais.
 
Não são os melhores de todos os tempos. Esse negócio de melhores é questionável. Os dez, são sugestões minhas, estão em ordem aleatória, mas tenho certeza que uma coisa é unânime: os dez são excelentes.
Se quiser ouvir ou mesmo assistir a uma interpretação de cada um dos dez, deixarei para cada samba um link direcionado ao YouTube. É clicar e curtir.
 
Conversa de botequim  ( Noel Rosa )
 
Professorinha ( Ataulfo Alves )
 
O mundo é um moinho ( Cartola )
 
No Rancho Fundo ( Lamartine Babo e Ary Barroso )
 
Aquarela do Brasil ( Ary Barroso )
 
Uma andorinha não faz verão ( Braguinha e Lamartine Babo )
 
Meu drama ( Senhora tentação ) -  ( Silas de Oliveira )
 
Um sorriso negro ( Adilson Barbado, Jair de Carvalho e Jorge Portela )
 
Preciso me encontrar ( Candeia )
 
Carinhoso ( Pixinguinha e Braguinha )
 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

CARNAVAL: QUAL A SUA MÁSCARA?

Em várias cidades do país o carnaval já começou. Seja com forró, com frevo, com axé, com samba de enredo ou com marchinha. Viva o carnaval!
 
O carnaval conjuga todos os verbos culturais regionalizados do Brasil, país continente, gigante culturalmente.
 
O carnaval é uma festa para todos. Mesmo para o saudosista que não se liga muito, pois "não se faz mais carnaval como antigamente". É verdade, é como a comida que comemos, que também não é mais como antigamente, é como os telefones de hoje, que não são mais como antigamente. Melhores? Piores? Diferentes. A bola terra gira e o mundo não para.
 
Vocês vão me perdoar, mas este parágrafo será pessoal. Ontem, os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro tiveram início com o primeiro dia das Escolas da Série A. São 15 agremiações e uma delas sobe para o chamado Grupo Especial, aquele que todos conhecem, pois lá estão a Mangueira, a Beija Flor, o Salgueiro, a Mocidade, a Tijuca e por aí vai. Fiz este parágrafo para dizer que a minha Escola de coração desfilou ontem e fez bonito. Minha querida Império Serrano! Das 15 que brigam por uma vaga, ontem desfilaram 7. Até agora a comunidade da Serrinha de Madureira está bem cotada.
 
Escrito o meu parágrafo passional, quero falar um pouco sobre outro tipo de carnaval. O carnaval do golpismo na política.
A Presidenta foi eleita, diplomada e tomou posse. Tudo como manda o figurino. Quem votou no outro candidato ficou decepcionado. É natural? Lógico. Em 1989 votei no Brizola no primeiro turno e o meu candidato ficou em terceiro lugar, quase num empate técnico com o Lula, que passou para o segundo turno. Fiquei frustrado, decepcionado. Eu tinha clareza de que a ida do Brizola ao segundo turno, seria concretamente uma chance, quase única num longo prazo, para o país retomar a linha das reformas de base interrompida pelo golpe militar (também civil).
 
Nem por isso extravasei a minha decepção com atitudes anti-democráticas e/ou com intenções de mal perdedor, querendo recomeçar o jogo. Fui para o segundo turno e com ressalvas votei no "Sapo Barbudo".
 
Desde a vitória da Dilma, tenho ouvido coisas como "é preciso alternância no poder, o PT já está há doze anos" - está porque assim a maioria do povo tem desejado através das urnas - Ora, vejam! O que é saudável não é a alternância no poder, mas a maioria do povo avalizar um projeto até o momento que decidir mudar. Leve o tempo que levar.
 
E não me venham com esse papo de país dividido entre norte e sul. Pode-se até inferir que São Paulo, Paraná e Santa Catarina foram contundentes na sua opção pelo PSDB e o neoliberalismo econômico. Mas, no Rio Grande do Sul, Dilma teve uma votação muito expressiva e não se esqueçam de que ela venceu em Minas Gerais e no Rio de Janeiro venceu com larga margem.
 
Depois vieram os pedidos de "volta ditadura", "intervenção militar", mais recentemente o papo passou para impeachment!
 
Claro que isso só pode ser brincadeira carnavalesca. Momo e seu reinado são capazes de criar fantasias que vão além de roupas, plumas, confetes e serpentinas. Existem as máscaras e com elas aparecem tendências espirituosas, mas as vezes desvirtuosas, pois o mascarado encarna a personalidade do personagem.
 
Parece que neste carnaval está cheio de máscaras de um ser estranho chamado Sr.Golpista.
 
E você, já escolheu?  Qual a sua máscara? Seja qual for, não nos esqueçamos, todos nós brasileiros, de nos desmascararmos na quarta-feira de cinzas.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O DEUS DINHEIRO

“O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro” O trecho é de Giorgio Agamben, em entrevista concedida a Peppe Salvà.
 
Giorgio Agamben é um intelectual Italiano e está entre os mais conceituados da nossa época. A entrevista completa dada a Peppe Salvá está no excelente site pragmatismo político.


No meu texto anterior, tratei ligeiramente sobre a questão da sustentabilidade e da degradação do meio ambiente. E ironicamente disse que a ONU e os países se impõem objetivos que não solucionam o problema, pois não passam de "enxugamento de gelo".

Ao final, deixei entre linhas que não há problema ambiental a ser resolvido, pois a questão ambiental não é o problema, trata-se apenas de mais uma das diversas consequências do real problema.
 
O sistema capitalista. Eis o nome do vilão, que não é o "Anjo caído", mas "a religião que cultua o Deus Dinheiro".
 
É sempre meio repetitivo, cansativo e as vezes improdutivo criticar o capitalismo, pois há uma espécie de sentimento de que a vida e o cotidiano são regidos por regras que fazem parte do mundo, da natureza, do divino e que, portanto, são imutáveis.
 
É a própria Idade Média nos dias atuais. Só que a igreja que manda na economia, na política, na sociedade, na justiça, na definição moral e ética, não é mais a Católica Apostólica Romana. É o capitalismo. Vou citar 4 exemplos para a reflexão de todos:
a) Quando você compra alguma coisa, hoje em dia, já é comum que no cupom de caixa apareçam discriminados os percentuais de alguns impostos. Um dia desses passei por um local e na vitrine da loja havia um cartaz tosco, feito de cartolina escolar e escrito a mão com a relação de impostos e seus respectivos percentuais de composição nos produtos. Muito bem. Informação nunca é demais. Fiscalizar o que os governos municipais, estaduais e federal fazem com os impostos é uma atitude cidadã. Ocorre que há um imposto que nenhum empresário revela. E que todos deveríamos conhecer. Saber qual o seu tamanho! Trata-se do lucro, que é o imposto que o capitalista retira do trabalho dos seus empregados, faz toda a sociedade pagar a mesma alíquota e numa cadeia de produção extensa há duplicidade, triplicidade, multiplicidade de imposição do lucro. Um exemplo: Um capitalista produz algodão e vende o algodão para uma indústria de fabricação de tecidos com uma margem de lucro de 10%. O capitalista da indústria vende tecidos para uma indústria de confecção com uma margem de lucro de 13%. O capitalista da indústria de confecção vende roupas para uma distribuidora com margem de lucro de 17%. O capitalista da distribuidora vende roupas para lojas(comércio) com margem de lucro de 23%. O capitalista da loja (comerciante) vende suas roupas para nós, consumidores finais, com margem de lucro de 30%.  Sabe quanto, neste exemplo, em que coloquei margens de lucro modestas você paga de imposto lucro? Mais de 130%!!!!! Pensem nisso. Todo capitalista quer redução de impostos, mas nenhum fala sobre redução de lucros. Sabe porque? Porque pagamos e achamos normal, como era normal pagar o dízimo para não ser queimado no inferno;
 
b) Nunca nada está bom para o capitalista. Para ele estamos sempre em crise. Isso em qualquer parte do mundo. Um dia ele reclama dos impostos, um tempo depois ele reclama das taxas de juros, depois da alta do dólar, mas a queda do dólar também é motivo para reclamações, se o governo investe está gastando demais e isso é inflacionário, se o governo reduz gastos e investimentos ele reclama da falta de investimentos do Estado em infraestrutura e logística. E por aí vai. Sabe por que? Simples, o capitalista quer sempre mais. Ele tem que crescer, engordar, multiplicar o seu capital. O capitalista é o chefe da Santa Inquisição, ele sempre culpa algo ou alguém;
 
c) Como dito no item "a", o capitalista quer que o consumidor chore e reclame ao seu lado para que haja redução de impostos. Mas, sempre que ele pode, cria contabilidades criativas, como gostam de dizer que o governo faz, para pagar menos impostos. E o famoso "caixa dois"? Você, que me lê, certamente já foi comprar em vários estabelecimentos e não recebeu nem nota fiscal nem cupom de caixa. É uma das maneiras de burlar o fisco e na contabilidade colocar que o faturamento da empresa é menor do ele realmente é. Resultado, o capitalista recolhe menos impostos;
 
d) Agora não será um exemplo, será apenas uma suposição para que cada um tire as suas conclusões. Suponhamos que as arrecadações de impostos em todos os níveis da federação cresçam, cresçam e cresçam. E, suponhamos que com base no crescimento contínuo da arrecadação os governos municipais, estaduais e federal resolvam promover uma redução em diversas alíquotas de alguns impostos importantes como ICMS, ISS, IPI etc. Para você, o que acontecerá com os preços dos produtos e serviços? Assinale a sua opção:
 
1- (   )  Como os impostos caíram, os preços ao consumidor irão cair
 
2- (   ) Os preços serão mantidos no mesmo patamar de antes, pois os capitalistas irão afirmar que durante muitos anos tiveram "ganhos pequenos" para não repassar custos ao consumidor e agora será a hora deles se recuperarem do "sacrifício" que fizeram.
 
Por isso, não existe esse negócio de sustentabilidade, de metas do milênio, de recuperação ambiental. Deus existe, e como disse Giorgio Agamben, ele se chama Dinheiro.
 
Amém???
 
 


segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

SUSTENTABILIDADE E O CAPITALISMO

Direto ao ponto, depois explico. Sustentabilidade ambiental e capitalismo são como água e óleo. Não se misturam. Há vários projetos de sustentabilidade por aí. Muitos em prática, é verdade, mas somente tampam o sol com a peneira; e se a peneira for de plástico, cuidado, pois derrete. O nosso amigo sol não está aberto a negociações.
 
A "enxugação" de gelo parte da própria ONU. Partindo da ONU, significa que partiu dos países. Vejam as quatro principais metas do milênio sobre sustentabilidade:
 
1) Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais.
 
Muito lindo o primeiro item das metas. Digam-me uma coisa, alguém conhece no mundo um número superior aos dedos das mão de Estados Nacionais, que sejam rigorosamente soberanos?
 
Se são tão poucos assim, como podem implementar o item 1, se as soberanias nacionais, hoje em dia, são doutrinadas pelo (neo)liberalismo econômico. Estou falando do capital! Até a aprovação de leis rigorosas sobre o tema, passa antes pela apreciação dos investidores. Os países tremem quando ouvem a expressão "fuga de investidores" ou "fuga de capital".
 
2) Reduzir de forma significativa a perda da biodiversidade
 
Não precisa ser nenhum gênio para perceber que o item dois deixa uma brecha para o aumento das espécies vegetais e animais em risco de extinção. Perceberam?
 
Não precisamos de nenhuma matemática complexa para fazermos uma demonstração.
 
"Reduzir" não significa "parar". Você está numa estrada a 100 km/h e de repente resolve "reduzir" a velocidade e passa a viajar a 50 km/h. Foi uma redução significativa, você vai levar o dobro do tempo para chegar ao destino, que neste caso é a destruição ambiental.
 
Ainda que possa haver o argumento de que ao reduzir a perda da biodiversidade o ser humano deixa uma janela de tempo maior para a própria biodiversidade se recuperar, pelo menos em parte.
 
Matematicamente entra o componente "janela de alívio" para a biodiversidade. Ocorrerá, que como o quociente reduzido, conforme pede essa meta do milênio, a agonia será prolongada, pois a biodiversidade será cada vez menor, porém a sua eliminação tenderá ao infinito. Na prática significa dizer: "não ferramos com tudo, o que sobrou poderá se recuperar em 4 mil anos....".
3) Reduzir para metade a proporção de população sem acesso a água potável e saneamento básico.
 
No papel é lindo. De olho nessa meta, a Nestle já propôs privatizar a água. Aliás a Nestle comercializa água através de garrafas pet em qualquer supermercado, local onde virou moda a venda de bolsas reutilizáveis. Caramba, "meu", é ter muita cara de pau, não é não?
 
Por que será que a Nestle não propôs, utilizando sua expertise, oferecer à sociedade meios de conservação da água de forma socializável?
 
Educação, severidade da lei contra empresas e proprietários de terras e fiscalização social contra o desmatamento, contra o despejo de dejetos em locais proibidos etc? Não é melhor a própria sociedade, esclarecida, atuar ajudando ao Estado?
 
O saneamento leva-se junto com a água. A obra é uma só. A questão é investir. Será que os bancos são prioritários frente a questões como educação, água potável e saneamento básico?
 
Pensem nisso, enquanto na maior parte do norte os países chegaram a um ponto de equilíbrio na sua população, estima-se que o ponto de equilíbrio do Brasil, que hoje tem 200 mil habitantes, será de 300 mil habitantes. Provavelmente em cerca de 50 anos. Eu lhes pergunto, estamos preparados para isso?
 
4) Alcançar, até 2020 uma melhoria significativa em pelo menos cem milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza.
 
1 bilhão de pessoas passam fome e os caras tratam do assunto como meta a ser atingida paulatinamente. Uma pequena redução das margens de lucro com um aporte inicial das reservas dos países ricos, resolve o assunto em poucos anos.
 
Não estou falando em dar esmolas. Despejar caixotes de aviões. Estou falando, agora sim, em desenvolvimento sustentável de pessoas. Resolva-se a urgência que só quem vive na mais profunda miséria conhece e insira-se todo esse bilhão de pessoas no sistema.
 
Qual sistema?....olha, se for no capitalismo tem o tal desemprego, tem a tal fuga de investidores, tem um imposto subterfúgio chamado lucro. O capitalismo resolve? Não. Por que e quais alternativas?....deixemos para próximo texto.
 

sábado, 7 de fevereiro de 2015

POESIAS (THIAGO DE MELLO)

Não me canso de publicar poesias de Thiago de Mello. Tento, através dessa gotícula, que é o meu blog, espalhar ao máximo o seu trabalho. Poeta de verve firme sobre o olhar dos caminhos humanos e sensível no tocante as fraquezas e sentimentos, também dos humanos.
 
Eis um comentário de Pablo Neruda, outro gigante da lírica e da sensibilidade humana, sobre o amazonense Thiago de Mello:
 
"Thiago de Mello es um transformador del alma. De cerca o de lejos, de frente o de perfil, por contacto o transparência, Thiago há cambiado nuestras vidas, nos há dado la seguridade de la alegria. El tempo y Thiago de Mello trabajan em sentido contrario. El tempo erosiona y continua. Thiago de Mello nos aumenta, nos agrega, nos hace florear y luego se va, tiene otros quehaceres. El tempo se adhiere a nuestra piel para gastarmos. Thiago passa por nuestras almas para invitarnos a vivir." (comentário transcrito da orelha de capa do livro "Thiago de Mello", organizado por Marcos Frederico Kruger - coleção melhores poemas -, Global Editora, São Paulo, 2009.)
 
Vamos apreciar duas poesias do "transformador de almas".
 
 
A RAIZ  (poesia dedicada a Moacyr Felix)
 
Num campo de silencia
onde pastam manhãs
estou pelo que sou.
 
Canção azul de cobre
me chega pelo vento:
em sua dor me deito.
 
Um espesso lençol
com ternura de pinhos
enrola o coração.
 
O sangue levanta
no espaço bandeiras
de fogo e limão.
 
Até a pedra entrega
seus ásperos segredos
ao cristalino dia.
 
A raiz arranca
com sua garra de amor
a rosa do meu peito.
 
E reparto o diamante
que a infância me deu
BOTÃO DE ROSA
 
Nos recôncavos da vida
jaz a morte.
                    Germinando
no silêncio.
                    Floresce
como um girassol no escuro.
De repente vai se abrir.
No meio da vida, a morte
jaz profundamente viva.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

O SENHOR COISA

Hoje, quero simplesmente jogar assuntos ao vento. Nada de texto com começo meio e fim. Acordei como se não tivesse dormido e dormi como se estivesse acordado. Estou um caco. Então resolvi abrir o computador e escrever sem rumo como um desabafo desorganizado.
 
Primeiramente um esclarecimento sobre o título do texto. Tudo sobre o que irei desabafar tem por trás as mãos dominadoras e manipuladoras do sistema. Mas, haverão de indagar que ou qual sistema? A resposta é o Senhor Coisa, uma figura cujo rosto não se vê, não possui sombra, caminha sem rastro e está por trás de tudo o que é relativo as sacanagens econômicas, políticas e sociais.
 
Tal figura foi criada por um amigo, Marcelo Heluy, a quem peço emprestado o "Senhor Coisa" e que merece todo o crédito pela criação, que se não estou enganado já tem uns 18 anos. Sim, o "Senhor Coisa" batizado pelo meu amigo chegou a maior idade, mas ele existe com outros nomes há pelo menos 12 mil anos.
 
A seguir, uma lista de eventos que o Senhor Coisa andou aprontando recentemente:
a) Sabe o cara que trabalhou a vida toda, foi poupador e motivado pela "estabilidade econômica" dos anos de governo Lula e até mesmo pelos 3 primeiros anos da Dilma? Sim, estou me referendo a pessoas físicas, de classe média, aposentados, em fim de carreira, pois então, sentiram-se encorajados a aplicar em ações. E, é claro que as ações da Petrobrás e da Vale eram os carros chefe para esse público. Com o anúncio do pré-sal foi o sonho dourado! Já haviam lucrado bastante e agora tinham que correr para comprar mais ações da Petrobrás. Chance de triplicar o capital! Então, Senhor Coisa aparece e com a grande mídia sob sua orientação, bombardeiam a Petrobrás e sua ação PN chega a valer menos de R$ 9,00. Durante os meses de queda, o cara que sonhou enriquecer viu seu dinheiro evaporar.....não, dinheiro não evapora, ele muda de estado físico mas continua existindo, no máximo muda de mãos. E foi o que aconteceu. Pessoas realizaram prejuízos, desesperadas tentando salvar parte do seu patrimônio....e tome queda no preço das ações....Ah!, pensou o Senhor Coisa - agora que os pobretões venderam tudo eu e alguns amigos vamos comprar, comprar e comprar...em 2 ou 3 dias as ações irão subir cerca de 25%. Lucro fácil e renda concentrada e acumulada;
 
b) O Senhor Coisa age assim, na encolha, na escuridão, no submundo subterrâneo da riqueza. Para cumprir com a sua missão ele é vigilante. Seus métodos são manipulativos. Deu ordem para a imprensa espalhar que o PT irá conduzir o Brasil ao "bolivarianismo". Atingiu de primeira o seu alvo: a classe média econômica e/ou cultural e conservadora. Sem entrar no mérito e nem generalizar, cabe apenas a contemplação empírica de que bastou a notícia ser espalhada, que a tal fatia da classe média surtou! É, surtou. Vi e ouvi com meus olhos e ouvidos pedidos e clamores pelo retorno da "ditadura militar". Imagino que os caras nem saibam o que é bolivarianismo e muito menos quem foi e qual o legado de Simon Bolívar, mas a questão incutida nas mentes preguiçosas e esquizofrênicas foi "transformar o Brasil num país autoritário, cortes de liberdade de expressão, distribuição de riquezas na marra, etc". Ah, Senhor Coisa, voz sois ardiloso; conheces bem a classe média, lembra-se bem das marchas de 1964, não é mesmo? No fundo, o monstro sabe que o PT não tem vocação histórica e nem compromisso estratégico com a implantação da democracia popular e socialista. Então, por que? Para eleger o Congresso mais conservador das últimas legislaturas! E, acaba de dar continuidade ao seu projeto com a eleição do Cunha. Só você mesmo, Senhor Coisa; e para terminar um último "causo", que envolve o monstrengo;
 
c) Como tens aprontado fora do Brasil heim Coisa ruim? Sei que não tens pátria, mas quase sempre perambulas pelo norte e de lá movimenta teus "pauzinhos". A Grécia foi um tiro no pé, não é mesmo? Mas, para você, Senhor Coisa, o Rei não está em xeque mate. Por isso sei que vais aprontar. A Ilha predadora do norte prefere ficar grudada à Roma contemporânea, com sede em Washington. Enquanto isso, enfraqueces cada vez mais a França, deixando a parte continental da Europa sob liderança da Alemanha e vê com preocupação movimentos semelhantes ao Sriza aparecerem em outros países como o "Podemos" na Espanha. Ao mesmo tempo, você sabe muito bem que a Rússia se move por orgulho e patriotismo. Por isso, a economia Russa pode ter problemas, mas eles estão sempre preparados para a guerra. Já tomaram a Criméia e agora estão ajudando a criar uma República autônoma a oeste da sua fronteira. Há países na Europa que o desemprego entre jovens passa dos 60% e, enquanto isso, lá na terra do Tio Sam você prepara o terreno para a volta dos Republicanos. Em paralelo, as questões que envolvem a chamada Jihad, têm criado xenofobismo e intolerância religiosa. Onde? Pois é, também na Europa. Senhor Coisa é mesmo do mau, sabe muito bem que quando o ocidente se enfraquece economicamente, só um caos generalizado concentra novamente o poder. Seguirei te observando, Senhor Coisa, pois sobre o mundo nem fiz comentários sobre a China e o rearmamento do Japão.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

A ERA DOS REGULAMENTOS: MAIOR IDADE PENAL

E lá vem Dona Classe Média,
cheia de temor,
pedindo punição
para quem não teve amor.
 
Uma trovinha para iniciar um tema tão insosso e doloroso. É como fazer alongamento ouvindo música para depois encarar um desafio pesado. Vamos a ele.
 
A própria existência da polêmica já me causa mal estar. Alguns haverão de achar que há um certo grau de intolerância ao debate de minha parte ou algum "que" de soberba. Talvez um pouquinho de cada, mas o cansaço é certamente o que mais me incomoda, pois no que se refere ao comportamento geral ( com exceções dignas ) as demandas reguladoras da classe média são mais do mesmo.
 
Lembrando a todos, que eu sou desse segmento social. Enquadro-me no que os economistas chamam de classe B. Tenho casa própria, carro próprio, casado, um filho com 19 anos que passou para a UFRJ, tenho temor da violência social, etc. Ou seja, sou um protótipo do "sonho pequeno burguês". Abri o meu jogo e um pouquinho da minha vida, pois com isso ganho autoridade para falar sobre a questão da violência infanto-juvenil.
 
Não dá para tratar do assunto sem ir até a raiz do problema. Se você não trata bem das raízes da boa planta, ela morre. E, se você não arranca o mato até o seu último fio de raiz, ele renasce.
 
O que tenho ouvido, lido e escutado são opiniões que, intra-classe B, querem mudanças na Constituição e no Código Penal para prender, deter, colocar jovens nas fábricas de bandidos, que são os presídios. Há uma parcela que amena o discurso, dizendo que o que é preciso é um tempo maior de detenção específica, sócio-educadora ou algo semelhante.
Eis a lista do que considero principais itens da raiz da questão e que, sem resolvê-los, qualquer medida legislativa ou judiciária será "enxugar gelo" ou tenderão a piorar a situação juvenil pobre e oprimida. A ordem é aleatória:
 
a) Distribuição de renda - para isto não significa que o país tenha que crescer, crescer, crescer, o que ocorre depois é que concentra, concentra e concentra. As estatísticas estão aí. Se grande parte da classe média quer o capitalismo e a democracia liberal e burguesa, tudo bem. Mas, não pode apenas ficar com os bônus, precisa arcar com os ônus. Portanto, dividir a riqueza resume o item;
 
b) Educação, consciência cultural e saúde básica - nada de esperar royalties do pré-sal. Há que ser feito um grande mutirão em prol da educação já.   Estrutura; Leonel Brizola e Darcy Ribeiro construíram 500 CIEP no Estado do Rio de Janeiro entre 1983 e 1986, provaram que basta querer. Se, nos anos 80, com a economia do país vivendo um caos, construiu-se 500 CIEP no Rio, há de se supor, sem excessos, que é possível fazer 10.000 CIEP em todo o país, além de reformarem estruturas já existentes, para levar o conceito do tempo integral a cada canto do país com 3 a 4 refeições por dia, dentistas em todas as unidades, pediatras em todas as unidades, bibliotecas, prática de esportes, enfermaria, professor complementar para individualizar o ensino para aqueles com mais dificuldades, música, programação cultural miscigenada, profissionais do serviço social para lincarem família-escola-criança, laboratório de informática, laboratórios para associação teoria-prática, quantidade correta de professores e pedagogos e participação da comunidade para eleição do diretor(a).  Remuneração de cada profissional citado de forma digna. Do porteiro ao Diretor, da cozinheira à chefe de pedagogia, nenhum salário abaixo de 5 salários mínimos e nenhum acima de 12, grandes distâncias salarias podem criar segmentos e/ou guetos no ambiente. Todos com planos de cargos e salários e estímulo à aprendizagem constante.  Captação de jovens, ou seja, toda a equipe com ajuda de associações e jovens estagiários de licenciatura indo pra rua, entrando nos bairros, nos becos, subindo morro, molhando os pés em palafitas, envolvendo a comunidade, assim descobrirão a realidade que os cerca, poderão melhor planejar as ações e conhecer problemas específicos;
 
c) Fim da polícia militar - o preparo do soldado militar é baseado na disciplina, na contenção e no uso da força; além disso no Brasil já faz muito tempo que muitas pessoas, quando ouvem ou lêem que "bandidos foram mortos" em tiroteio com a polícia, torcem como se estivessem assistindo um filme de "mocinho contra bandido". 50 mil homicídios por ano! É mais do que qualquer guerra, hoje, no mundo! Parte significativa é formada por jovens de até 18 anos. Então, Dona Classe média, a pena de morte já existe e o ciclo é vicioso, pois a violência e a corrupção policial geram respostas sociais violentas, também. Lembrem-se, querem o bônus, precisar arcar com o ônus....
 
d) Criação de clínicas de desintoxicação e reabilitação para viciados de todos os tipos, acompanhado da inserção dos mesmos nos círculos formais de educação, com acompanhamento individualizado por profissionais capacitados para tal situação. De certo, que primeiramente, antes de qualquer coisa, o trabalho é de conscientização, pois os resultados são melhores e mais firmes, quando o assistido entende que precisa de ajuda e aceita a ajuda e
 
e) Moradia e saneamento - Minha Casa, Minha Vida. Sim. Precisamos de mais qualidade nas construções, materiais utilizados e tamanho das casas e apartamentos. Vai encarecer? Sim, e daí? Aposto que projetado por engenheiros, supervisionado por engenheiros, tais obras podem contar com mão de obra da própria comunidade. Serviço escravo? Não. Abata-se do custo do imóvel a mão de obra comunitária. Irão encontrar de tudo: pedreiros, serventes, carpinteiros, pintores, eletricistas etc. O saneamento vem junto. Áreas de lazer idem, plantação de árvores para ter-se sombra, pois o calor está insuportável a cada ano. Façamos bosques! Jardins! Plantemos fruteiras, dão sombra e alimentam! e que a fiação seja subterrânea. Nada de postes, em seus lugares, árvores! Ah, é claro, um terreninho batido (nada de cimento ou grama sintética), com duas traves, para voltarmos a produzir craques.
 
O assunto não se esgota com os 5 itens, mas é um excelente começo. Não há mudança de legislação penal, redução de maior idade penal, pena de morte; nada disso. Alguns devem se perguntar "e quem paga a conta?" a resposta é simples, redução da taxa de juros, leva a redução da dívida, que leva a necessidade orçamentária para os juros a ser menor, e se ainda assim faltar dinheiro, acho que Dona Classe Média pode contribuir cortando um pouco do Whisky aqui, uns charutinhos ali, viajando menos para o EUA, deixando o carro um pouco mais na garagem, diminuindo os jantares em restaurantes finos e uma infinidade de coisas, cada qual com sua realidade, grande parte, talvez a maioria consegue abrir mão de algum luxo e ceder. Ceder para acertar as contas da história e inaugurar uma nova era. Não mais a era dos regulamentos, mas a era da inclusão e da paz.
 
Os jovens, fruto de um programa dessa magnitude, certamente estarão preparados para "passar o Brasil a limpo".