quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

O DEUS DINHEIRO

“O capitalismo é uma religião, e a mais feroz, implacável e irracional religião que jamais existiu, porque não conhece nem redenção nem trégua. Ela celebra um culto ininterrupto cuja liturgia é o trabalho e cujo objeto é o dinheiro” O trecho é de Giorgio Agamben, em entrevista concedida a Peppe Salvà.
 
Giorgio Agamben é um intelectual Italiano e está entre os mais conceituados da nossa época. A entrevista completa dada a Peppe Salvá está no excelente site pragmatismo político.


No meu texto anterior, tratei ligeiramente sobre a questão da sustentabilidade e da degradação do meio ambiente. E ironicamente disse que a ONU e os países se impõem objetivos que não solucionam o problema, pois não passam de "enxugamento de gelo".

Ao final, deixei entre linhas que não há problema ambiental a ser resolvido, pois a questão ambiental não é o problema, trata-se apenas de mais uma das diversas consequências do real problema.
 
O sistema capitalista. Eis o nome do vilão, que não é o "Anjo caído", mas "a religião que cultua o Deus Dinheiro".
 
É sempre meio repetitivo, cansativo e as vezes improdutivo criticar o capitalismo, pois há uma espécie de sentimento de que a vida e o cotidiano são regidos por regras que fazem parte do mundo, da natureza, do divino e que, portanto, são imutáveis.
 
É a própria Idade Média nos dias atuais. Só que a igreja que manda na economia, na política, na sociedade, na justiça, na definição moral e ética, não é mais a Católica Apostólica Romana. É o capitalismo. Vou citar 4 exemplos para a reflexão de todos:
a) Quando você compra alguma coisa, hoje em dia, já é comum que no cupom de caixa apareçam discriminados os percentuais de alguns impostos. Um dia desses passei por um local e na vitrine da loja havia um cartaz tosco, feito de cartolina escolar e escrito a mão com a relação de impostos e seus respectivos percentuais de composição nos produtos. Muito bem. Informação nunca é demais. Fiscalizar o que os governos municipais, estaduais e federal fazem com os impostos é uma atitude cidadã. Ocorre que há um imposto que nenhum empresário revela. E que todos deveríamos conhecer. Saber qual o seu tamanho! Trata-se do lucro, que é o imposto que o capitalista retira do trabalho dos seus empregados, faz toda a sociedade pagar a mesma alíquota e numa cadeia de produção extensa há duplicidade, triplicidade, multiplicidade de imposição do lucro. Um exemplo: Um capitalista produz algodão e vende o algodão para uma indústria de fabricação de tecidos com uma margem de lucro de 10%. O capitalista da indústria vende tecidos para uma indústria de confecção com uma margem de lucro de 13%. O capitalista da indústria de confecção vende roupas para uma distribuidora com margem de lucro de 17%. O capitalista da distribuidora vende roupas para lojas(comércio) com margem de lucro de 23%. O capitalista da loja (comerciante) vende suas roupas para nós, consumidores finais, com margem de lucro de 30%.  Sabe quanto, neste exemplo, em que coloquei margens de lucro modestas você paga de imposto lucro? Mais de 130%!!!!! Pensem nisso. Todo capitalista quer redução de impostos, mas nenhum fala sobre redução de lucros. Sabe porque? Porque pagamos e achamos normal, como era normal pagar o dízimo para não ser queimado no inferno;
 
b) Nunca nada está bom para o capitalista. Para ele estamos sempre em crise. Isso em qualquer parte do mundo. Um dia ele reclama dos impostos, um tempo depois ele reclama das taxas de juros, depois da alta do dólar, mas a queda do dólar também é motivo para reclamações, se o governo investe está gastando demais e isso é inflacionário, se o governo reduz gastos e investimentos ele reclama da falta de investimentos do Estado em infraestrutura e logística. E por aí vai. Sabe por que? Simples, o capitalista quer sempre mais. Ele tem que crescer, engordar, multiplicar o seu capital. O capitalista é o chefe da Santa Inquisição, ele sempre culpa algo ou alguém;
 
c) Como dito no item "a", o capitalista quer que o consumidor chore e reclame ao seu lado para que haja redução de impostos. Mas, sempre que ele pode, cria contabilidades criativas, como gostam de dizer que o governo faz, para pagar menos impostos. E o famoso "caixa dois"? Você, que me lê, certamente já foi comprar em vários estabelecimentos e não recebeu nem nota fiscal nem cupom de caixa. É uma das maneiras de burlar o fisco e na contabilidade colocar que o faturamento da empresa é menor do ele realmente é. Resultado, o capitalista recolhe menos impostos;
 
d) Agora não será um exemplo, será apenas uma suposição para que cada um tire as suas conclusões. Suponhamos que as arrecadações de impostos em todos os níveis da federação cresçam, cresçam e cresçam. E, suponhamos que com base no crescimento contínuo da arrecadação os governos municipais, estaduais e federal resolvam promover uma redução em diversas alíquotas de alguns impostos importantes como ICMS, ISS, IPI etc. Para você, o que acontecerá com os preços dos produtos e serviços? Assinale a sua opção:
 
1- (   )  Como os impostos caíram, os preços ao consumidor irão cair
 
2- (   ) Os preços serão mantidos no mesmo patamar de antes, pois os capitalistas irão afirmar que durante muitos anos tiveram "ganhos pequenos" para não repassar custos ao consumidor e agora será a hora deles se recuperarem do "sacrifício" que fizeram.
 
Por isso, não existe esse negócio de sustentabilidade, de metas do milênio, de recuperação ambiental. Deus existe, e como disse Giorgio Agamben, ele se chama Dinheiro.
 
Amém???
 
 


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