quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

FELIZ ANO VELHO

Tem rolado nas redes sociais um poema chamado "Tempo" do saudoso Carlos Drummond de Andrade, que com sua perspicácia dentre outras coisas, atribui ao ser humano a divisão do tempo em "marcos" anuais. Sendo assim, a humanidade sempre mergulhada em angústias, problemas, crises, e etc, renova as suas esperanças ao final de cada marco anual.

Quero, tomado de um pessimismo realista, desejar a todos um feliz ano velho, pois 2016 já começará com uma série de inquietudes que irão mexer com vidas. Vamos a alguns exemplos:

a) O novo Ministro da Fazenda, homem que se alto proclama de esquerda, nos seus primeiros dias de mandato anunciou que tentará, com empenho, modificar as regras da Previdência Social no Brasil passando a regra geral da aposentadoria para o critério 95/100, ou seja, a soma da idade com o tempo de contribuição para uma mulher se aposentar terá que somar 95 anos e no caso dos homens, 100 anos.
Comentário: baseia-se o ilustre Ministro em dois aspectos muito discutíveis. São eles:
-sabe-se que no Brasil, em virtude da falência total do sistema educacional, a grande maioria do povo precisa, por absoluta necessidade, iniciar as suas atividades laborativas normalmente na adolescência para complementar a renda familiar. Ao mesmo tempo, os jovens de famílias estruturadas em matéria de renda só iniciam as suas atividades como trabalhador ou empresário após no mínimo terem concluído o curso superior. Façam suas contas e percebam que todos os pobres terão que trabalhar muito mais para se aposentar em comparação com os filhos das classes médias tradicionais e
-a equivocada ideia de que a previdência social não pode ser deficitária. Sendo ela um instrumento previdenciário de partilha de renda, qualquer reforma na previdência primeiramente tem que considerar a possibilidade de que os ricos, as empresas e a alta classe contribuam com mais renda para a formação da reserva da previdência.

b) A tragédia humanitária que vem ocorrendo em solo sírio, em que parte significativa da população da região vem pagando o preço de uma guerra que é fruto das alianças e da geopolítica formatadas durante a Guerra Fria e que, com respingos no presente, contrapõe o império americano contra a Rússia, embora aparentemente pareça que todos estão do mesmo lado, os interesses econômicos e bélicos são completamente diferentes.
c) A política oficial brasileira em frangalhos, sem partidos ideológicos, promete mais um ano de relações do tipo "toma lá, dá cá". O Presidente da Câmara, cujo nome prefiro não citar para que este texto não cheire a esgoto, continuará se arrastando na sua posição enquanto tiver artifícios legais e/ou espúrios que o sustente em sua posição mesmo não tendo mais o apoio midiático que dispunha até meados de novembro.
Comentários:
-o impeachment, ou melhor, a tentativa de usurpação da Presidência da República por parte do PMDB, PSDB e DEM, fez água. É óbvio que, com as recentes decisões tomadas pelo STF, e pelo envolvimento do Presidente da Câmara nos escândalos da "Lava Jato" e associado a disputa interna pelo poder no PMDB vem enfraquecendo o grupo do Vice-Presidente e fortalecendo outros grupos do mesmo partido como o do Presidente do Senado e
-os dias, ou melhor, os meses de sobrevida do Presidente da Câmara estão contados. Por que a Câmara está imbuída de vigor ético? Não, porque a referida figura não interessa mais aos verdadeiros donos do poder e do capital no Brasil, portanto ele é "carta fora do baralho".

Finalmente, apesar também de outros problemas não citados aqui, por exemplo, a falência da saúde pública, resta-me desejar a todos vocês, que suas vidas pessoais não atinjam em 2016 o grau de turbulência que nos espera na vida coletiva, em sociedade. E, um velho e repetitivo convite à reflexão: esperaremos os acontecimentos de 2016 com os braços cruzados, ou faremos o que o saudoso Geraldo Vandré nos convidou em plena Ditadura a fazer: "Quem sabe faz a hora, não espera acontecer".

Feliz ano velho.

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