quinta-feira, 30 de outubro de 2014

RIO GRANDE DO SUL, RIO DE JANEIRO E SUAS TRADIÇÕES

Veio do Rio Grande do Sul a ruptura com a Velha República, dominada politicamente pelos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Paradoxalmente, a derrubada do "velho esquema do café com leite" foi para tornar o país uma república.
 
A república não foi proclamada em 1889? Sim, mas há repúblicas e repúblicas. A primeira fase da nossa república foi oligárquica e rural. A segunda parte, que começa em 1930 tem como pano de fundo o desenvolvimento industrial do país.
 
Desde então, os laços políticos entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul foram se tornando cada vez mais parecidos, principalmente nas suas tradições políticas.
 
O Rio Grande com a sua tradição de combates e lutas internas, por vezes sangrentas e o Rio de Janeiro com a herança da monarquia e do Brasil Império, que criou na cidade, capital do Brasil, uma elite estudiosa, que trazia todas as novidades intelectuais da Europa para cá. Lembrem-se de que até 1929 o Brasil era dominado pelo que já chamei de oligarquia rural, enquanto isso, desde o século XVIII a Europa já passava por rupturas com tal modelo. Sendo politicamente inspirada pelo período napoleônico e pela Revolução Francesa e economicamente pelas Revoluções industriais.
 
A partir de 1930, a política liderada por Getúlio Vargas, com caráter republicano, nacionalista, industrializante, desenvolvimentista e popular (principalmente através de conquistas trabalhistas), aproximam cada vez mais a tendência política das populações de ambos Estados. Um dos grandes exemplos será a liderança do Governador Leonel Brizola, que governou os dois Estados e fez a Campanha da Legalidade desde o Rio Grande, com forte eco e apoio no Rio de Janeiro.
O que quero é estabelecer esse "link" histórico para compreender o porque de tamanha ligação política entre o Rio Grande e o Rio de Janeiro. E não são somente os "links" apresentados aqui. Restringi-me a alguns, pois os acho suficientes.
 
Voltando o foco o a história mais recente do Brasil, podemos destacar as seguintes semelhanças. Apenas algumas em eleições majoritárias:
 
a) em 1989, no primeiro turno das eleições para Presidente da República, Leonel Brizola obteve votação superior a 60% na região metropolitana de Porto Alegre e acima de 55% no Estado, enquanto que em todo o Estado do Rio de Janeiro a sua votação superou os 60% de votos válidos;
 
b) no segundo turno da eleições de 1989, Brizola conseguiu transferir, praticamente 100% dos votos que recebeu, para o Lula;
 
c) nas eleições de 1994 e 1998, Lula derrotou FHC no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, apesar de ter perdido as eleições;
 
d) em 2002, ano em o Lula venceu no segundo turno, mais uma vez o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro fizeram a sua opção pela candidatura de esquerda e
 
f) O PSDB nunca venceu eleição para presidente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul a primeira vitória ocorreu agora em 2014.
 
Por falar em 2014, voltemos a ele. Vejam as votações de Dilma e Aécio nos dois Estados:
 
Rio de Janeiro
Dilma   => 4.488.183 votos válidos ( 54,94% )
Aécio    => 3.661.088 votos válidos ( 45,06% )
 
Rio Grande do Sul
Dilma => 2.997.360 votos válidos ( 46,47% )
Aécio  => 3.452.455 votos válidos ( 53,53% )
 
O Rio de Janeiro manteve a sua postura história de opção pela esquerda, mas no primeiro turno ao praticamente empatar Marina, Dilma e Aécio, mostrou que quer escolher entre outras possíveis opções de esquerda, vazio deixado pelo brizolismo.
 
O Rio Grande do Sul, por sua vez, dividiu-se entre as mesmas tendências do Paraná e Santa Catarina, sem entretanto, abdicar da sua tradição progressista, também abalada pelo vazio deixado pelo brizolismo.
 


quarta-feira, 29 de outubro de 2014

A ELITE BRANCA DO PARANÁ E DE SANTA CATARINA

Os Estados do Paraná e de Santa Catarina produziram vitórias esmagadoras da candidatura PSDB sobre a candidatura PT. Fato. E como interpretá-los? Ou o que se pode tirar, por exemplo, da vitória do candidato Aécio em Curitiba com 72,12% dos votos válidos?
 
No computo geral, Aécio teve 65,70% e 60,98% dos votos válidos, respectivamente em Santa Catarina e no Paraná.
 
No caso do Paraná, além da forte colonização europeia, especialmente alemães, poloneses, italianos, dentre outros, ocorreu um movimento forte de venda de escravos para São Paulo. Quando digo que a elite paranaense é branca, estou me referindo a uma consequência histórica, sem intuito discriminatório ou crítico. É evidente, que essa "colonização" branca europeia trás consigo a cultura europeia do século XIX. No caso da economia e dos valores sociais, eles estão muito relacionados a propriedade privada e a produção privada, dentre várias outras coisas, que não citarei para não perder o objetivo do texto.
 
Além disso, a proximidade com São Paulo leva para o Paraná a "idealização" do desenvolvimento industrial. Além da região metropolitana de Curitiba, Londrina, Maringá, Cascavel, Paranaguá e algumas outras cidades, são polos industriais de grande importância. É considerável, também, o Paraná ser forte produtor agrícola e isso se dá através de grandes propriedades, ou seja, latifúndios. Agregado a eles, a região possui várias industrias de processamento de alimentos vegetais e abate de frangos e suínos, por exemplo. Importante realçar, que a presença do capital estrangeiro nas industrias do Paraná é bastante considerável. Atualmente, o Paraná tem até montadora de automóveis.
 
Santa Catarina tem uma história muito parecida no que se refere a presença predominante de imigrantes vindos da Europa, com destaque para alemães e ingleses. Nunca foi uma região com grande presença de escravos. Quando a população de Santa Catarina atingiu 200 mil habitantes no século XIX, o número de escravos não chegava a 10% dessa população. Da mesma forma que no Paraná escravos passaram a ser vendidos para outras províncias, principalmente depois da publicação da Lei do Ventre Livre. Por isso, é um Estado de raiz branca e cultura ocidental muito forte e já se envolveu em movimentos de separação do Brasil, mas não vamos tratar disso agora.
 
Todo esse forte "ocidentalismo" encontrado na formação cultural dos dois Estados, explica em grande parte as vitórias expressivas do candidato do PSDB, pois a ideia do Estado mínimo, da economia regulada pelo mercado e de uma política internacional alinhada ao EUA e aos países fortes da Europa, são valores ocidentais e que o desenvolvimentismo dependente que ocorre no Paraná e a força da tradição em Santa Catarina não abrem mão.
 
Finalmente, chamo a atenção de quem queira enriquecer esta análise, acrescentando elementos como "de que forma a força da tradição se propaga, mesmo sendo os interesses de classes diferentes?" para que levem em consideração que o próprio PT e outros partidos e organizações de esquerda não conseguiram derrotar representantes do conservadorismo local como o Sr. Álvaro Dias via eleições e muito menos conseguiu se estabelecer organicamente entre as classes mais humildes e desprovidas da presença do Estado. Há um enorme potencial para se trabalhar ideais progressistas nos dois Estados, pois a elite é branca, mas os assalariados de baixa renda, as população que tem abandonado o campo e os jovens sem perspectivas, também são brancos. Resultado: branco menos branco é igual a zero. Zero de importância para cor ou etnia, o que importa é a condição econômica e social, desde que a força da tradição seja vencida.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

SÃO PAULO, A LOCOMOTIVA CONSERVADORA

Certa vez, conversando com uma conhecida paulista e moradora da cidade de São Paulo, eu fiquei surpreso e até meio confuso para compreender o pensamento da moça. Eis, em poucas linhas o diálogo. A ocasião era a disputa entre o Lula e o José Serra, quando o Lula ganhou o seu primeiro mandato para presidente.
 
Eu disse: moça, durante tanto tempo vocês elegeram Maluf, deram vitória ao Collor, políticos conservadores, muitos intimamente ligados com a ditadura. Não seria um bom momento para vocês darem uma chance e experimentarem um candidato que se coloca como contrário a essas pessoas. Que tal dar uma chance para alguém de esquerda?
 
Daí ela respondeu: eu e minha família sempre votamos no Maluf, inclusive no primeiro turno das eleições de 1989. E, agora, eu decidi dar uma chance para a esquerda, como você bem disse. É por isso que eu passei a ser PSDB e voto no Serra para presidente.
 
O que tirar desse diálogo? a relatividade. Sim, na época da tal conversa, o PSDB era visto com algumas reservas, pois por algum motivo, figuras como FHC e Mário Covas eram associados a esquerda, mesmo que equivocadamente. No imaginário das classes médias paulistanas, entretanto, assumir-se como tucanos era um passo que mudava o seu perfil.
 
Ocorre, que a relatividade não é a única coisa a tirar do comportamento conservador da maioria do eleitorado de São Paulo. Assumirem-se como tucanos após elegerem o Collor, tem relação íntima com impedir o crescimento da esquerda real. Fosse qual fosse essa esquerda ou a sua orientação ideológica. Basta lembrar, que em 1989 o segundo turno não foi entre Brizola e Collor, pois São Paulo tirou o Brizola do embate final.
 
Por falar em Brizola, inevitavelmente vem a minha mente Getúlio Vargas, outro político odiado pelos setores médios e altos de São Paulo. Vale lembrar, que o dia 9 de julho, data em que começou a "Revolução Constitucionalista de 1932", é feriado em São Paulo até hoje e seus líderes são considerados heróis pela Locomotiva industrial.
Por falar em heróis, os bandeirantes também são lembrados como "desbravadores", "corajosos homens que enfrentaram o desconhecido e ampliaram as fronteiras de domínio do novo povo, do povo branco ocidental e especialmente o paulista".
 
Raramente alguém fala que o movimento de Entradas e Bandeiras foi uma carnificina contra os índios e que a motivação era encontrar riquezas. Riqueza, palavra tão conhecida em São Paulo, que contrasta com a própria miséria existente em tal Estado, miséria em maioria negra ou nordestina.
 
Segundo a própria história de São Paulo, não há expansão, não há riqueza, nem manutenção de poder econômico, sem jorrar sangue, que atualmente pode-se colocar na conta dos homicídios, da matança policial e da lotação dos presídios num Estado acostumado com esse tipo de coisa, desde que as classes médias e altas se sintam controladoras da situação.
 

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O QUE DISSERAM AS URNAS

As instituições brasileiras, que modelam e sustentam o sistema econômico brasileiro, não são representativas dos interesses do povo em sua maioria. Refiro-me as leis, ao judiciário, ao congresso nacional, a chamada imprensa e o dogma da "liberdade de expressão e de imprensa", pois nos domínios dessas e outras tantas instituições, o comando, ou a composição, ou na manutenção e/ou criação das leis, possuem o propósito primário da manutenção de privilégios de classe e até o da manipulação do que é público, sobre o que o exemplo mais recentes está na revista Veja, poderoso veículo de comunicação junto a classe média, que buscou interferir no pleito nacional sem uma gota de ética. Exemplos não faltam.
 
Pode-se inferir entretanto, que como voto na urna é um por pessoa, então, ainda que o sistema como um todo seja arcaico e conservador, é possível fazer algumas leituras para se tentar conhecer um pouco mais e melhor o povo brasileiro. Na verdade, as urnas falaram e revelaram muita coisa.
Das revelações das urnas, na disputa pela presidência do Brasil, destaco as seguintes observações sobre as quais farei, dia a dia, uma série de artigos aqui no blog.
Por ordem de publicação:
=> São Paulo, a locomotiva conservadora
=> A elite branca do Paraná e de Santa Catarina
=> Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro e suas tradições
=> O Nordeste Cristão
=> Minas Gerais e sua identidade secionada
=> O Centro-Oeste e a força ruralista
=> O Norte e a força da política local
Amanhã, conversaremos sobre "São Paulo, a locomotiva conservadora".

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

ORVALHO DOS COPOS

Hoje é sexta-feira, dia dos amantes. Dia em que amores começam, amores se consolidam, amores se reafirmam, amores declarados impossíveis e amores desfeitos. Então, hoje, nada de política, história ou economia. Que tal uma poesia sobre amantes?
 
Orvalho dos Copos - Joaquim Barros ( livro Sensações Despertadas, pág.68 )
 
Minhas costas ardem,
Faz seis horas que estamos
Na mesma mesa de bar.
Nem os copos foram trocados,
Só enchidos de tempos em tempos,
Contrastando com o vazio do diálogo:
Pueril

Mesmo assim,
Nenhum de nós sugeriu a saideira,
Sabíamos que seria a última vez,
A vontade de ficar era consenso,
Nossos olhos tinham brilho suficiente,
Mas, a minha covardia e o medo dela
Provocavam, desde cedo,
A certeza de que,
Nem os batimentos mais fortes do coração,
Nem o constante arrepiar de sentidos,
Nem os tremores de nossas pernas,
Seriam suficientes para enxugar a mesa
Do orvalho dos copos,
Misturados com algumas lágrimas de despedida.
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A CRISE EXISTENCIAL DO BRASIL

"Nos deram espelhos e vimos um mundo doente" ( Renato Russo )

Faltando três dias para o Brasil conhecer quem o governará até 2018, o que se viu e o que se vê é um país que se dividiu. Não entre ricos e pobres como já li por aí, mas entre pessoas que desejam reduzir as distâncias sociais entre o pico e a base da pirâmide e aquelas que defendem uma ideia míope, pois creem na possibilidade dessa distância  social ser reduzida sem precisarem ceder alguma coisa.
 
Espetacularmente a própria classe média, refiro-me a tradicional e não a nova chamada de classe "C", não está unida. Divide-se entre aquela "bondosa e humanitária" e a "narcísica"; fora uma parte descolada que até se intitula "revolucionária".
 
A rigor, seja qual for o resultado, instaurou-se um clima de intolerância, pois é sempre menos dolorido culpar o outro.
 
A essência do país continuará a mesma, pois somos seguidores de moda. A política continuará sendo a representativa parlamentar. Nenhum presidente eleito nesse sistema pode ignorar o Congresso, que terá uma cará muito mais à direita. E, na economia, o capitalismo do livre, ou quase livre mercado.

E, enquanto a intolerância acirra as relações entre classes e "intraclasse média", o poder de fato estará sendo exercido por outras forças, ainda que vença a candidata da esquerda, não se deve esperar mais do que um capitalismo "benevolente" e um grande esforço para continuar rompendo barreiras. Resta saber se esse esforço será para unir o país ou se será para assumir com mais vigor os avanços progressistas que o país precisa e buscar apoio na sociedade em vez de formar coalisões complicadas com segmentos do Congresso.
 
Fora isso, um trecho do poema Narciso Cego de Thiago de Mello, para quem sabe auxiliar as pessoas nesse momento de intolerância irracional.
 
"Tudo o que de mim se perde
acrescenta-se ao que sou.
Contudo, me desconheço.
Pelas minhas cercanias
passeio - não me frequento."
 

terça-feira, 21 de outubro de 2014

O POÇO TEM FUNDO ?

Crescer, crescer, crescer. Sem crescimento não há emprego, sem crescimento não há desenvolvimento, sem crescimento a renda cai. Você já leu e ouviu muitos especialistas, jornalistas, líderes de diversos tipos pregando esse discurso, não é mesmo?
 
Outra coisa que você já ouviu é que para crescer é preciso ser competitivo. Produzir mais em menos tempo e a um custo menor. Chama-se produtividade.
 
Eu tenho uma proposta. Esqueçam momentaneamente tudo isso que você já leu e ouviu sobre ter que crescer, crescer e crescer.
 
No meu texto ontem, mostrei que crescimento não significa ganho coletivo, mas concentração de renda através dos lucros que os acumuladores ( aqueles que possuem os meios para produzir - fábricas, terras, tecnologia, máquinas etc ) recebem e o aumento das consequências desastrosas para o planeta, pois tudo que é produzido precisa de recursos primários (minérios, madeira, petróleo etc), que passam por transformação para virarem energia ou produtos consumíveis.
 
Quero me ater na segunda consequência da ideologia do crescer, crescer e crescer. A ganância é tanta, apesar de metade da riqueza estar em posse de 1% apenas da população mundial, que só se enxerga o agora. O amanhã é algo para ser resolvido no futuro. Você, simples mortal como eu, já se perguntou se o poço tem fundo?
 
E, já se perguntou se essa lógica que te dizem todos os dias sobre crescer, crescer e crescer se não beneficia sustentavelmente a toda sociedade ela só aumenta o acumulo de renda e a deterioração do planeta? Não só consumimos os recursos desenfreadamente como emitimos gazes de todas as formas, pois para transformar um recurso primário num produto elaborado é necessário queimar energia. Sinta isso na foto abaixo.
Já parou para pensar que mais da metade do que as classes consumidoras compram o fazem por impulso? São supérfluos que repentinamente viram necessidade e logo tornam-se moda e daí viram desejo. Eu quero ter tal coisa !!!
 
Não há partido ecológico, ONG, movimento para uso consciente de sacolinhas, que vá resolver isso. Antes, é fundamental que o modelo econômico baseado no crescimento, na competitividade, na posse totalmente privada dos meios para produzir, na acumulação de capitais e outras coisas mais, sejam repensadas e modificadas. Se não for assim, vamos descobrir em breve se o poço tem fundo. E, caso tenha, o passo seguinte será o caos em escala global.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

PIB, esgotamento planetário e outras perturbações

De maneira direta e simplificada, o PIB (produto interno bruto) é um indicador de atividade econômica, convertido para uma unidade monetária, por exemplo, o dólar.
 
A atividade econômica é o conjunto da produção dos diversos setores da economia, inclusive setores que produzem elementos intangíveis, como a prestação de serviços. Ou seja, nem só as coisas tangíveis como automóveis, construção de prédios, colheita de milho, por exemplo, fazem parte da atividade econômica. Um bom exemplo de atividade econômica com produção intangível é uma aula particular dada por um professor ( educação e transferência de conhecimento/experiência ).
 
Não é meu propósito fazer um texto sobre o que é PIB. Isso qualquer um encontra pesquisando por aí. O importante é ter em mente que ele mede a atividade econômica, que por sua vez reúne tudo que gera renda e riqueza.
Certamente, todos já perceberam como o tal PIB vem sendo tema de jornais, debates, noticiário em geral, mídias diversas no Brasil, na Europa, no Estados Unidos etc.
 
Estando os meios para produzir ( ver meu texto do dia 16 de outubro ), em sua maior parte em mãos privadas, quanto mais o PIB crescer, maior tenderá a ser o aumento da riqueza de tais pessoas. Nos livros de História, essas pessoas recebem o nome de burguês. Mas, como essa nomenclatura já foi muito "batida", por vários motivos, vamos adotar um outro nome: acumulador.

Então, num país ou numa região qualquer, o acumulador (proprietários dos meios para produzir) resolve se vai produzir mais, se vai produzir menos, se vai contratar empregados, se vai demitir empregados, se vai investir em tecnologia ( neste caso normalmente para aumento de produtividade ), etc. Todas as decisões são tomadas de acordo com os indicadores econômicos e a tendência dos mesmos. Tudo isso influencia o resultado do tal PIB.

O que eu quero com esse texto? Mostrar, que muitas coisas da sua vida, leitor, estão condicionadas a decisões privadas e em especial dos acumuladores. Se você está empregado ou desempregado, se alguns preços subiram ou caíram, se você está pagando mais caro para fazer um empréstimo, ou mesmo se o poder de compra do teu salário aumentou ou diminuiu.
 
Para que as pessoas comuns, assalariadas ou não, tenham melhor renda, não é necessário buscar-se a todo custo crescimentos acelerados e longos do PIB. Lembrem-se de que 70 milhões de pessoas são donas de metade da riqueza do mundo !!!  E o mundo tem mais de 7 bilhões de habitantes.
 
O que precisa ser feito é distribuição de renda. O que o crescimento do PIB não garante. Aliás, são duas as garantias de uma trajetória de crescimento com os meios para produzir em posse dos acumuladores: mais concentração de renda e aumento do esgotamento dos recursos do planeta.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

NA MANHÃ DO MILÊNIO

Escolhi um poema do amazonense Thiago de Mello, pois de forma lírica a sua poesia "Na manhã do milênio" dá continuidade ao texto que publiquei ontem e mantém o tema aberto para outros textos. Apreciem a poesia sem moderação !
Na Manhã Do Milênio ( autoria de Thiago de Mello )

De que valeu o assombro indignado
e esta perseverança que me acende
em pleno dia a estrela que me guia,
seguro do meu chão e do meu sonho?

De que valeram todos os prodígios
da ciência mergulhando na espessura
mais escura do espaço e dominar
jamais imaginadas vastidões
para encontrar a luz fossilizada?

De que valeu meu passo peregrino
pelo tempo, meu canto solidário,
a entrega ardente, a dor desmerecida,
o viver afastado do meu povo,
só porque desfraldei em plena praça
a bandeira do amor?

Do que valeu,
se hoje, manhã deste milênio novo,
avança, imensa e escura, bem na fronte,
a marca suja da miséria humana
gravada em cinza pela indiferença
dos que pretendem donos ser da vida;
calada avança uma legião de crianças
deserdadas do pão e todavia
capazes de sorrir: maior milagre
do século perverso que findou?

De que valeram todas as palavras
que proferi na treva da esperança?
Tão pouco, talvez nada. Não consola
saber que fiz, que fiz a minha parte,
que reparti com tantos o diamante,
e olhei de frente o sol para aprender
que tudo vale a pena quando a alma
não é pequena.

Não sei o tamanho
da minha alma. Só sei que vou varando
o fim do rio, posso discernir
a margem que me chama. Obstinado,
confiante sigo o cântico distante
da estrela alucinante. Que destino
de estrela é o de brilhar e, mesmo extinta,
fulgurante perdura sobre os homens.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

A DESUMANIDADE TEM NOME

Desde os primórdios das sociedade organizadas como o Egito antigo e os povos da Mesopotâmia, que formam no mapa um desenho que lembra a lua crescente, que existia o que hoje em dia chamamos de acumulação de renda e/ou riqueza.
 
Veja, no mapa abaixo, a região chamada de "crescente fértil", local onde surgiram os primeiros Estados, formados pela aglutinação e/ou incorporação de tribos.
Organizados e sob o comando de Faraós, Reis, Chefes etc, ocorre nestas sociedades uma aceleração no processo de acumulação de renda, pois além de servirem ao Estado organizado com sua mão-de-obra, as pessoas produtivas também passam a pagar impostos com parte do que produzem.
 
Enquanto isso, "os comandantes do poder estatal" e aqueles que os cercam, alimentam-se e acumulam riquezas a partir do esforço produtivo de outras pessoas. Podemos chamar a isso de apropriação.
 
Tal fenômeno econômico persiste em acompanhar a humanidade desde então. Desde um pouco antes, mas para efeito do artigo, nos interessa focar no uso do Estado organizado como meio de apropriação de riqueza para os acumuladores.
 
Além de presente em toda a História, a partir da industrialização da produção, quando artesãos perdem totalmente a sua capacidade de sobrevivência com o seu trabalho e conhecimento, resta tornar-se "empregado" ou assalariado como chamamos atualmente.
 
Chegamos ao ápice da acumulação através da apropriação na medida em que há uma simplificação histórica do fato. Alguns detém os meios para produzir (máquinas, equipamentos e/ou tecnologia - conhecimento) e outros possuem apenas a sua mão-de-obra ou a sua capacidade para trabalhar, seja física, metal ou ambas.
 
O mundo, hoje, possui mais de 7 bilhões de habitantes e metade da riqueza do mundo está nas "mãos" de apenas 70 milhões de pessoas. Isso mesmo, cerca de 1% da população mundial, concentra 50% da riqueza. ( informação divulgada no relatório anual Global Wealth Report 2014 do Credit Suisse )
 
O nome do sistema que simplificou o processo de acumulação de riqueza e chegou ao ponto atual é capitalismo. Ele não visa a humanidade, visa a acumulação. Por isso, a desumanidade tem nome.
 
Isso abre espaço para o próximo assunto no qual trataremos do consumo de recursos do planeta, da real necessidade de "crescimento dos PIB" e confrontaremos tal necessidade com a distribuição de renda.
 

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Pablo Neruda, Salvador Allende e o golpe de 1973

 “o poeta que sabe chamar o pão de pão e o vinho de vinho é perigoso para o agonizante capitalismo” (Confesso que Vivi).

“Eu não me calo”  -  ( Pablo Neruda )
Perdoe o cidadão esperançado

Minha lembrança de ações miseráveis,

Que levantam os homens do passado.

Eu preconizo um amor inexorável.

E não me importa pessoa nem cão:

Só o povo me é considerável,

Só a pátria é minha condição.

Povo e pátria manejam meu cuidado,

Pátria e povo destinam meus deveres

E se logram matar o revoltado

Pelo povo, é minha Pátria quem morre.

É esse meu temor e minha agonia.

Por isso no combate ninguém espere

Que se quede sem voz minha poesia.

Eis a fachada principal do palácio Moneda, sede do governo federal chileno. Hoje, comandado pela presidenta Michelle Bachelet.
 
No dia 11 de setembro de 1973, este mesmo palácio ardia em chamas, bombardeado pela aeronáutica, enquanto as ruas eram tomadas pelos canhões e Valparaíso tomada pela Marinha. Militares, congresso nacional e os Estados Unidos, estes últimos prontos para invadirem o Chile em caso de resistência, derrubaram o governo eleito por um regime democrático, constitucional e com forte aceitação nas camadas menos favorecidas.
 
Allende juntou-se aos escombros do La Moneda e o Chile viveu anos sem fim de terrorismo de Estado, torturas, perseguições políticas, prisões políticas, desaparecimentos de militantes contrários ao golpe. Nada muito diferente do que houve em quase toda América do Sul sob patrocínio dos Estados Unidos.


 

 

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Economia, política e sociedade

O Chile em perspectiva


Em Santiago, Viña del Mar e Valparaíso, cidade de extrema importância na parte central do Chile, ocorre um fenômeno muito conhecido pelos brasileiros: o furto de aparelhos eletrônicos, carteiras e bolsas de transeuntes, atos executados por grupos de jovens.
 
Alguns brasileiros podem estar se perguntando, no Chile? Será isso mesmo?
 
Sim, no Chile. O problema é que passamos muitos anos ouvindo aqui no Brasil, através dos grandes grupos de comunicação, que o Chile é um exemplo a ser seguido. Que o PIB chileno cresce muito mais que o nosso, pois o Chile é um país mais aberto a iniciativa privada. Teremos uma outra oportunidade para tratar do assunto de maneiro conceitual, pois crescimento sem distribuição não levam a sociedade a se beneficiar de qualquer crescimento da produção.
 
O país é tão privatizado, que somente 8% dos jovens frequentam escolas públicas, pois a maioria estuda em escolas privadas com subsídio do governo. Isso tem gerado grande debate entre a esquerda e a direita no parlamento, pois para as alas mais a esquerda é inconcebível que escolas privadas tenham lucros com o dinheiro público.
 
A economia está com problemas. O país depende muito da exportação de commodities como o cobre e outros minerais. A questão é que a demanda mundial caiu muito e os preços despencaram. A região portuária de Valparaíso vem demitindo nos últimos anos e em paralelo a violência urbana aumentando. Há certos bairros de Valparaíso nos quais o índice de assaltos a mão armada são muito grandes.
Em Viña del Mar a crise econômica ainda está um pouco distante. Cidade preferida dos ricos e das classes médias com alto poder aquisitivo, a cidade se mantém com o turismo de verão, férias, feriados e até mesmo com o turismo estrangeiro de brasileiros, peruanos e outros da América do Sul. A cidade possui hotéis de luxo, praias e cassino.
Acima, vê-se o relógio de flores de Viña del Mar, inaugurado em 1962, mesmo ano da Copa do Mundo do Chile, onde o Brasil ganhou a sua segunda Copa no estádio Salsalito, que fica próximo dessa região litorânea no centro do país.
 
Amanhã, faram alguns comentários sobre o centro administrativo de Santiago, com fotos do palácio La Moneda e a estátua de Salvador Allende. Farei alguns comentários sobre como morreu o presidente Allende e doze dias depois o seu grande amigo Pablo Neruda, que homenagearemos com a publicação de uma poesia.
 
 

sábado, 11 de outubro de 2014

CHILE, GENTILEZA E NACIONALISMO

Estive na região central do Chile, um país de pessoas gentis e hospitaleiras.  Antes de falar do país é impossível deixar de falar, melhor ainda, mostrar a imagem que se tem da Cordilheira dos Andes do centro da cidade de Santiago.

Durante os dias 18 e 19 de setembro o país comemorou as suas "festas Pátria", como são conhecidas as diversas festas e desfiles e ocorrem em todo o país. É difícil encontrar uma casa simples ou um prédio sofisticado sem bandeiras chilenas. O povo sai às ruas e comemora a sua independência. De uma forma ou de outra o povo, seja qual for o segmento social, conhece a história do país.

Parte da classe média emendou o feriado com o fim de semana, mas o povo que trabalha em postos de menor qualificação, como taxistas, arrumadeiras, copeiras, famílias da classe média mais baixa, além de jovens, muitos jovens, participam com entusiasmo e orgulho das festas que reúnem banquinhas de artesãos, comidas típicas, garotos soltando pipas, invariavelmente com as cores do Chile, shows musicais e outras atrações, como pode ser visto na foto abaixo.
Além de nacionalistas, em várias cidades só encontrei pessoas gentis, muito educadas. Das pessoas mais simples as mais sofisticadas. Falaremos um pouco mais sobre a sociedade, política e economia no próximo texto.