quinta-feira, 30 de outubro de 2014

RIO GRANDE DO SUL, RIO DE JANEIRO E SUAS TRADIÇÕES

Veio do Rio Grande do Sul a ruptura com a Velha República, dominada politicamente pelos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Paradoxalmente, a derrubada do "velho esquema do café com leite" foi para tornar o país uma república.
 
A república não foi proclamada em 1889? Sim, mas há repúblicas e repúblicas. A primeira fase da nossa república foi oligárquica e rural. A segunda parte, que começa em 1930 tem como pano de fundo o desenvolvimento industrial do país.
 
Desde então, os laços políticos entre o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul foram se tornando cada vez mais parecidos, principalmente nas suas tradições políticas.
 
O Rio Grande com a sua tradição de combates e lutas internas, por vezes sangrentas e o Rio de Janeiro com a herança da monarquia e do Brasil Império, que criou na cidade, capital do Brasil, uma elite estudiosa, que trazia todas as novidades intelectuais da Europa para cá. Lembrem-se de que até 1929 o Brasil era dominado pelo que já chamei de oligarquia rural, enquanto isso, desde o século XVIII a Europa já passava por rupturas com tal modelo. Sendo politicamente inspirada pelo período napoleônico e pela Revolução Francesa e economicamente pelas Revoluções industriais.
 
A partir de 1930, a política liderada por Getúlio Vargas, com caráter republicano, nacionalista, industrializante, desenvolvimentista e popular (principalmente através de conquistas trabalhistas), aproximam cada vez mais a tendência política das populações de ambos Estados. Um dos grandes exemplos será a liderança do Governador Leonel Brizola, que governou os dois Estados e fez a Campanha da Legalidade desde o Rio Grande, com forte eco e apoio no Rio de Janeiro.
O que quero é estabelecer esse "link" histórico para compreender o porque de tamanha ligação política entre o Rio Grande e o Rio de Janeiro. E não são somente os "links" apresentados aqui. Restringi-me a alguns, pois os acho suficientes.
 
Voltando o foco o a história mais recente do Brasil, podemos destacar as seguintes semelhanças. Apenas algumas em eleições majoritárias:
 
a) em 1989, no primeiro turno das eleições para Presidente da República, Leonel Brizola obteve votação superior a 60% na região metropolitana de Porto Alegre e acima de 55% no Estado, enquanto que em todo o Estado do Rio de Janeiro a sua votação superou os 60% de votos válidos;
 
b) no segundo turno da eleições de 1989, Brizola conseguiu transferir, praticamente 100% dos votos que recebeu, para o Lula;
 
c) nas eleições de 1994 e 1998, Lula derrotou FHC no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, apesar de ter perdido as eleições;
 
d) em 2002, ano em o Lula venceu no segundo turno, mais uma vez o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro fizeram a sua opção pela candidatura de esquerda e
 
f) O PSDB nunca venceu eleição para presidente no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul a primeira vitória ocorreu agora em 2014.
 
Por falar em 2014, voltemos a ele. Vejam as votações de Dilma e Aécio nos dois Estados:
 
Rio de Janeiro
Dilma   => 4.488.183 votos válidos ( 54,94% )
Aécio    => 3.661.088 votos válidos ( 45,06% )
 
Rio Grande do Sul
Dilma => 2.997.360 votos válidos ( 46,47% )
Aécio  => 3.452.455 votos válidos ( 53,53% )
 
O Rio de Janeiro manteve a sua postura história de opção pela esquerda, mas no primeiro turno ao praticamente empatar Marina, Dilma e Aécio, mostrou que quer escolher entre outras possíveis opções de esquerda, vazio deixado pelo brizolismo.
 
O Rio Grande do Sul, por sua vez, dividiu-se entre as mesmas tendências do Paraná e Santa Catarina, sem entretanto, abdicar da sua tradição progressista, também abalada pelo vazio deixado pelo brizolismo.
 


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