terça-feira, 28 de outubro de 2014

SÃO PAULO, A LOCOMOTIVA CONSERVADORA

Certa vez, conversando com uma conhecida paulista e moradora da cidade de São Paulo, eu fiquei surpreso e até meio confuso para compreender o pensamento da moça. Eis, em poucas linhas o diálogo. A ocasião era a disputa entre o Lula e o José Serra, quando o Lula ganhou o seu primeiro mandato para presidente.
 
Eu disse: moça, durante tanto tempo vocês elegeram Maluf, deram vitória ao Collor, políticos conservadores, muitos intimamente ligados com a ditadura. Não seria um bom momento para vocês darem uma chance e experimentarem um candidato que se coloca como contrário a essas pessoas. Que tal dar uma chance para alguém de esquerda?
 
Daí ela respondeu: eu e minha família sempre votamos no Maluf, inclusive no primeiro turno das eleições de 1989. E, agora, eu decidi dar uma chance para a esquerda, como você bem disse. É por isso que eu passei a ser PSDB e voto no Serra para presidente.
 
O que tirar desse diálogo? a relatividade. Sim, na época da tal conversa, o PSDB era visto com algumas reservas, pois por algum motivo, figuras como FHC e Mário Covas eram associados a esquerda, mesmo que equivocadamente. No imaginário das classes médias paulistanas, entretanto, assumir-se como tucanos era um passo que mudava o seu perfil.
 
Ocorre, que a relatividade não é a única coisa a tirar do comportamento conservador da maioria do eleitorado de São Paulo. Assumirem-se como tucanos após elegerem o Collor, tem relação íntima com impedir o crescimento da esquerda real. Fosse qual fosse essa esquerda ou a sua orientação ideológica. Basta lembrar, que em 1989 o segundo turno não foi entre Brizola e Collor, pois São Paulo tirou o Brizola do embate final.
 
Por falar em Brizola, inevitavelmente vem a minha mente Getúlio Vargas, outro político odiado pelos setores médios e altos de São Paulo. Vale lembrar, que o dia 9 de julho, data em que começou a "Revolução Constitucionalista de 1932", é feriado em São Paulo até hoje e seus líderes são considerados heróis pela Locomotiva industrial.
Por falar em heróis, os bandeirantes também são lembrados como "desbravadores", "corajosos homens que enfrentaram o desconhecido e ampliaram as fronteiras de domínio do novo povo, do povo branco ocidental e especialmente o paulista".
 
Raramente alguém fala que o movimento de Entradas e Bandeiras foi uma carnificina contra os índios e que a motivação era encontrar riquezas. Riqueza, palavra tão conhecida em São Paulo, que contrasta com a própria miséria existente em tal Estado, miséria em maioria negra ou nordestina.
 
Segundo a própria história de São Paulo, não há expansão, não há riqueza, nem manutenção de poder econômico, sem jorrar sangue, que atualmente pode-se colocar na conta dos homicídios, da matança policial e da lotação dos presídios num Estado acostumado com esse tipo de coisa, desde que as classes médias e altas se sintam controladoras da situação.
 

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