sábado, 29 de novembro de 2014

SÁBADO POÉTICO

Reproduzo a seguir, o tomo II do poema "Dia da criação" do eterno Vinícius de Moraes. E por que faço isso hoje?  "porque hoje é sábado".
 
Dia da Criação
 
II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado.
Há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado.
Há um homem rico que se mata
Porque hoje é sábado.
Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado.
Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado.
Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado.
Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado.
Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado.
Há um grande espírito de porco
Porque hoje é sábado.
Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado.
Há criancinhas que não comem
Porque hoje é sábado.
Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado.
Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado.
Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado.
Há um tensão inusitada
Porque hoje é sábado.
Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado.
Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado.
Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado.
Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado.
Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado.
Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado.
Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado.
Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado.
Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado.
Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado.
Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado.
Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado.
Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado.
De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado.
Há a comemoração fantástica
Porque hoje é sábado.
Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado.
E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado.
Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

SAIR DO QUADRADO ECONÔMICO!

Como combinado no texto do dia 25 de novembro, "O quadrado econômico", naquela ocasião opinei sobre a pasteurização da economia e da cooptação do Brasil para dentro do modelo, mesmo nos anos de governo PT, quando esperava-se um pouco mais de audácia em relação aos grandes temas.
 
A primeira coisa que devemos refletir é se será que fazendo poupança (superávit primário) para pagamento de juros da dívida brasileira, o país terá fôlego para investir nos itens primordiais da justiça social e na infraestrutura econômica?
 
A resposta é não. E, em vez de romper com o ciclo abusivo do pagamento de juros, repactuando sua dívida e reestruturando a mesma em patamares devidamente coerentes com tudo o que já foi pago, o país do PT aposta todas as suas fichas na "fortuna" que virá do milagre do pré-sal.
 
É obvio que não faço apologia a gastar-se mais do que se arrecada, mas a meta de superávit primário precisa ser revista para baixo imediatamente para os próximos 20 anos. Do contrário, o contraste social absurdo vai continuar pleno no Brasil.
 
A distribuição de renda sob o formato do Bolsa Família precisa passar para um novo estágio, que é o do investimento em educação básica e fundamental e o médico de família nos rincões mais distantes do país e mesmo nas áreas metropolitanas onde há comprovadamente grandes bolsões de pobreza. Isso é para ontem e precisa de mais dinheiro do que atualmente está investido no Bolsa Família.
A redução na taxa de juros é algo para ontem. Monetariamente a sua alta surte efeito sobre a queda da inflação, mas deixa estragos e efeitos colaterais, que tornam ineficaz a relação custo x benefício da "arma" monetária. Alguns exemplos dos seus estragos: aumento da dívida interna, redução da disponibilidade orçamentária para projetos sociais e investimentos, aumento da fortuna de investidores nacionais e estrangeiros com a imediata consequência do aumento da desigualdade de renda e a entrada de papéis pintados de verde apenas temporariamente para sugarem juros.
 
O combate saudável a inflação é a distribuição de renda, a melhoria da produtividade no setor privado, a redução das margens de lucro em vez da redução do IPI e maior presença do Estado como regulador, quiçá produtor em alguns setores e estimulador do empreendedorismo individual e do micro empreendedorismo.
 
Taxar grandes fortunas é assunto recorrente. Não resolve questões de caixa, mas serve para dar o exemplo de que o país pode ter um sistema tributário mais justo, melhor distribuído entre as camadas sociais.
 
E, por fim, é preciso romper com o longo processo de dependência do país em relação ao capital estrangeiro. Tal dependência deixa brechas que reduzem a soberania nacional. Mas, se os governos PT não conseguiram impor-se internamente, fazendo composições à direita, não os vejo com mentalidade e nem disposição para confrontar o grande capital estrangeiro.
 
Infelizmente, o que vejo é um vazio na esquerda. Um lugar a ser ocupado, mas que ainda parece um pedacinho do universo sem massa, sem luz e sem energia. Ao que tudo indica, estamos mais próximos de um retorno à direta com sua ideologia do Estado mínimo, do mercado como regulador(auto) e do alinhamento com o EUA e Europa.
 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

O QUADRADO ECONÔMICO

O que é o dinheiro? Segundo ouvi numa palestra do saudoso físico Bautista Vidal, nada mais é do que papel pintado de verde, numa alusão as notas de dólar.

O que o fazia ter tal convicção é a velha máxima, ignorada por muitos economistas, de que o valor real das coisas nada mais é do que o trabalho aplicado na produção das mesmas.
 
Então, tudo o que envolve a associação de dinheiro (meio monetário) com valor, pode e deve ser desassociado, sob pena de que sejam criadas falsas realidades. Hoje, os meios monetários em todo o mundo não têm lastro como os saquinhos de sal ou as moedas cunhadas em metais de relativa raridade e portanto compatíveis com o seu valor.
 
Os bilionários que a revista Forbes ranqueia de tempos em tempos, sabem muito bem disso. As suas fortunas não ficam guardadas em papel moeda em aplicações que rendem juros em papel moeda. Quando muito, o fazem comprando títulos soberanos de algum país tolo, para em seguida revendê-los para fundos que irão captar dinheiro da classe média. Se der certo há lucros para todos, se der errado somente o investidor da ponta perde.
 
Outro lado dos investimentos dos bilionários é a busca pela riqueza real. Imóveis, ouro, pedras preciosas, tecnologia, patentes adquiridas, etc. Em outras palavras, parece que eles já conheciam desde muito de que papel moeda é somente papel com tinta.
 
Enquanto isso, os economistas de plantão insistem na crença de que papel cria inflação, de que a ausência de superávit primário robusto é trágico para a economia, de que gasto público, mesmo em programas sociais e investimentos, devem ser cortados em nome de um formato de Estado mínimo e submisso ao quadrado com grades no qual o polvo capitalista ocidental puxou para dentro com seus poderosos tentáculos.
 
E, como sair do quadrado? quadrado no qual o próprio período de 12 anos do PT no governo não foi capaz de sair, preferindo a "complacência do capital amigável" para gerar empregos em troca de 8 anos de economia "semiortodoxa" do período Lula e 4 anos de economia "semiheterodoxa desenvolvimentista" do período Dilma, que fez reduzir substancialmente tal complacência, porém acuada parece estar voltando a "semiortodoxia" do período Lula.
 
Sair do quadrado merece um texto só para ele.  Fica combinado que será o próximo tema.
 

sábado, 22 de novembro de 2014

HISTÓRIA: O PASSADO INFINITO

Há uma percepção generalizada de que o termo infinito, quando não em sentido figurado, refere-se a assuntos da matemática, da física, da astronomia e de algumas outras áreas do conhecimento humano consideradas de ciências matemáticas e da natureza.
 
É razoavelmente fácil compreender a infinitude dos números. Mas, sei que é bastante complexo dizer que em ciências humanas existe a concepção do infinito.
 
Em História, considera-se que toda sociedade é resultado de mudanças de uma ou mais sociedades previamente existentes. Sejam de que forma for, por exemplo, forçada por invasores, movidas de dentro para fora, ou movimentos nacionalistas, como o nazismo, que se apoiam num suposto passado, só há sociedade se houve uma sociedade anteriormente.
 
Então, estamos diante de algo diferente do que é capaz de perceber a nossa perene passagem pela vida e pelo presente, pois principalmente e geralmente nos movemos e criamos a nossa cesta de valores através da memória. E, lembremos que a memória passa de geração para geração de diversas formas. Eis o passado e sua relevância para compreensão do que é mais recente. E, como demonstramos, só há passado social se antes dele houve outro passado social. A origem da História humana organizada em sociedade é infinita, pois sempre haverá um passado.
E para que serve essa viagem louca? Serve para chegarmos no "hoje" e pensarmos que a história é contínua. Como uma sociedade em geral valoriza o seu passado, que altera-se por força de mudanças, por exemplo tecnológicas, o que não chega a mudar a sua superestrutura, há sempre uma certa força social contrária a mudanças, pois o aspecto ideológico reside no passado e só se permite alterar a partir da consciência.
 
Sendo a consciência algo impotente em confronto direto com a força da tradição, ela pode se fortalecer somente com o enfraquecimento da ideia de continuidade. Momento este que podemos chamar de consciência para a ruptura.
 
Segundo rápida definição do historiador Eric Hobsbawm, a ideologia é um sistema de valores. Sendo assim, quando parcela significativa de uma sociedade atinge o que chamamos de consciência para a ruptura, pode-se inferir que o sistema de valores está em estado de ebulição social e o resultado será a formatação de uma nova sociedade alicerçada em outro sistema ideológico.
 
É bom reprisar, ainda segundo Hobsbawm, que não sendo através da consciência, mudanças sociais só são toleradas pela própria sociedade quando os seus ingredientes de mudança não alteram em geral o status quo social. São coisas anunciadas como "novas" como sinônimo de "boas".

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

NEGRA

Hoje, dia da consciência negra, é inequivocamente justo que rendamos homenagens a mão de obra que mais produziu riquezas no Brasil: os negros escravos. Penso, entretanto, que prestar homenagem é manter viva na memória de todo o país o calvário vivido pelos africanos e seus descendentes até os dias de hoje.
 
Então, a exaltação tem que vir sob forma de protesto, pois a casa grande e a senzala continuam existindo.
 
Uma poesia do mestre Carlos Drummond de Andrade, que se aplica a qualquer época da nossa história.
 
Negra
 
 
A negra para tudo
a negra para todos
a negra para capinar  plantar  regar
correr carregar empilhar no paiol ensacar
lavar passar remendar costurar cozinhar rachar lenha
limpar a bunda dos nhozinhos
trepar.
 
A negra para tudo
nada que não seja tudo tudo tudo
até o minuto de
(único trabalho para seu proveito exclusivo)
morrer.
 
 
 
 

terça-feira, 18 de novembro de 2014

G20 E A ECONOMIA GLOBAL

Terminado o encontro do G20 em Brisbane, Austrália, fiquei com uma sensação estranha. Entre um constrangimento aqui e outro ali, normalmente envolvendo o presidente Russo Vladimir Putin e entre algumas reuniões bilaterais, como a dos BRICS, parece-me que algo meio sinistro rondou o evento e se infiltrou na corrente sanguínea do documento final.
 
A presença da diretora geral do FMI, Lagarde, foi por si só algo meio fora de propósito. O FMI não é um Estado e os países "emergentes" estão em pé de guerra com a entidade e os países ricos, para mudarem o critério de divisão das cotas.

Eis que, em pleno fórum de Estados, o FMI ganhou um belo lugar ao sol com direito a cadeira e sombreiro. Tendo como objetivo principal a questão do crescimento econômico global, -pois é... economistas de plantão, a questão é mundial sim- o fórum criou uma série de pactos entre países, buscando um crescimento mundial médio de 5% a.a. de 2015 a 2018.
 
Ah, e o que o FMI tem com isso? Ficou a cargo do FMI e da OCDE avaliarem anualmente como cada país está se saindo no cumprimento dos acordos feitos em Brisbane. Certamente, que os países que não estiverem rezando pela cartilha econômica pasteurizada do Estado mínimo e da economia de mercado (regulamentada pelo mercado) e investindo em infraestrutura para "dar confiança e reduzir custos dos produtores", tenderão a sofrer uma certa pressão internacional.

Sabemos que o Brasil dos últimos 12 anos, não rezou pela cartilha do FMI nem pela dos países ricos. Assim como o Brasil tem divergências com o FMI, também as tem em relação a OCDE.
 
A presidenta Dilma terá que ser cautelosa, mais atuante na política internacional. Não tenho dúvidas de que a diplomacia brasileira acerta ao estabelecer e abrir embaixadas em diversos países da África e que, impulsionar o comercio, o intercâmbio de experiências e a integração da região em que vivemos - América do Sul -, além de manter uma relação mais sólida com os BRICS, nos levará a uma situação de vanguarda nos interesses do hemisfério sul.
 
 
Os intercâmbios e a orientação diplomática serão fundamentais no segundo mandato da presidenta Dilma. E que tenhamos coragem e maturidade para manter e avançar com as nossas exigências em relação ao FMI e a OCDE.
 

sábado, 15 de novembro de 2014

AS ELEIÇÕES ACABARAM. E AGORA?

O teatro político tem vários atores. Cada ator ou grupo de atores representa um certo papel. E o papel representado é a figuração dos interesses por trás de cada encenação.
 
A peça está apenas começando em meio a um burburinho estranho vindo de pequenos grupos sociais que votaram no candidato derrotado. São burburinhos, pois não possuem o poder de fato. Delírios sociais vindos de segmentos médios nunca foram realmente fonte de poder. Nem no Brasil nem na história do mundo. No máximo são usados para auxiliar interesses maiores. Interesses de classes dominantes.
 
Voltemos aos atores reais. Primeiramente verificando o quanto o partido progressista que governa o país há 12 anos, ficou refém de setores moderados e setores conservadores. Confortaram o povo com medidas de estímulo ao autodesenvolvimento pessoal e social através de programas de distribuição de renda, política de cotas, política habitacional e diversos incentivos para a base da pirâmide se inserir no sistema formal de educação, incluindo o nível superior, dentre vários outros programas.
 
Até aí, nenhum risco concreto para o status quo dos verdadeiros comandantes do sistema econômico, cujos principais atores são: bancos, federações industriais, federações comerciais, industrias do agronegócio, multinacionais do ramo químico e do ramo alimentício, grandes construtoras e diversos outros atores.
 
Uma onda de boatos espalhados nos últimos 18 meses vêm mexendo com a consciência e a expectativa da classe média econômica e cultural (uma parte significativa dela). Coisas como "conselhos populares", "reforma política através de plebiscito" etc. Daí foi fácil para a grande mídia, que é a ponta de lança daqueles que chamei de verdadeiros comandantes do sistema econômico, criarem junto aos seus leitores um ambiente hostil em relação ao governo e a sua continuidade.
O partido da governança atual e dos últimos anos, governou com as instituições e produziu avanços consideráveis. Entretanto, a maior barreira para a sequência de um projeto brasileiro, progressista e independente está do lado direito da foto acima.
 
No teatro a que me referi, as pernas do lado direito da foto representa o ator principal e os pés do lado esquerdo não alcançou, se quer, o papel de coadjuvante. Faz algumas "pontas", pois até aí é tolerável.
 
Em tempo, os tênis de marca da classe média não couberam na foto.
 
Teremos que aprofundar mais este assunto.  Vamos trabalhar mais textos.
 

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

VIDA E SENTIDO (INÉDITA)

Depois de uma sequência de textos sobre política, que tal sairmos do concreto e embalarmos numa viagem? Vamos viajar pela filosofia, pela metafísica, pela existência como um sentido ou pela existência sem sentido. Como queiram.
 
Publico, pela primeira vez, uma poesia que estará no meu próximo livro. Espero que gostem
 
 
Vida e sentido  - Autor: Joaquim Barros


Não me venham com dogmas
Não sou uma suposição incondicional
Sou vida, sou animal
Vida que não sei se é
Morte que sentido a dá
Sou fé sem milagres
Distingo-me dos meus pares
Internos os pares, pois
Há multiplicidade encarnada na mesma carne
Que alma resiste?
A alma filosófica
A vida hoje, a vida outrora
E amanhã a morte anunciada
Como viroses de outono,
Com suas nuvens carregadas?
E o sentido da vida
Como se explica?
Sensações vividas
Para delas nos esquecermos no fim dos dias
Sentindo medo de que não haja esquecimento
Com o tempo me aqueço
Sonhando divergente
Como um ser intransigente
Para que tudo seja diferente,
Do que nem sei.
 

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

O NORTE E A POLÍTICA LOCAL

A população da região norte do Brasil representa 8% da população total do Brasil. Além de representar uma parcela pequena da população total, ela se concentra em algumas poucas cidades, ficando uma pequena parcela dispersa em pequenas cidades e vilarejos distribuídos ao longo da maior região brasileira.
 
No caso de buscarmos uma compreensão do porque o norte deu a presidenta Dilma a vitória local no segundo turno das eleições presidenciais, é importante compreender a relação de forças nos principais centros aglutinadores de população, pois a população dispersa não tem quantitativo suficiente para interferir no pleito.
 
Vamos ver como foi a votação em algumas das principais cidades aglutinadoras:
=> no Acre, Aécio venceu com 63,68%, pois venceu nas duas cidades de maior população, Rio Branco e Cruzeiro do Sul. Tião Viana do PT foi eleito governador numa disputa acirrada contra Márcio Bitar do PSDB, que herdou os votos do candidato do DEM. Embora tenha vencido com 51,29% dos votos, a sua candidatura não decolou no 2o turno, ocasião em que teve apenas 1,5% de votos a mais do que teve no primeiro turno. A união do PSDB com o DEM foi fundamental para a vitória do Aécio;
 
=> no Amazonas, Dilma teve pouco mais de 65% dos votos com vitória em todos os municípios. Como isso aconteceu? Provavelmente por que Dilma teve dois palanques no 2o turno das eleições para governador, ficando Aécio com espaço limitado;
 
=> no Amapá, Dilma também venceu em todos os municípios e obteve 61,45% dos votos. Macapá concentra mais da metade dos votos do Estado, local onde Dilma obteve 58,41% dos votos. Assim como no Amazonas, Aécio teve dificuldades para conseguir um palanque na disputa para governador no segundo turno;
 
=> no Pará, Dilma venceu com 57,41% dos votos, mas perdeu em Belém, única cidade com mais de 1 milhão de eleitores, onde Aécio teve cerca de 52% dos votos. Entretanto, no para há pelo menos 10 cidades com mais de 100 mil eleitores e Dilma foi vitoriosa em praticamente todas, exceto Santarém. No Pará, cada candidato teve um palanque no segundo turno para governador, inclusive com vitória do candidato do PSDB.
 
=> em Rondônia, Aécio foi vencedor com 54,85% dos votos. A eleição foi decidida na capital, Porto Velho, que com mais de 300 mil eleitores deu vitória para Aécio. Mais uma vez, a política local foi fundamental, pois a disputa para governador no segundo turno foi acirrada e Aécio e Dilma tiveram um palanque cada.
 
=> em Roraima, Aécio foi vencedor com 58,90% dos votos. Dilma venceu na maioria dos municípios, mas todos com quantidade irrelevante de eleitores. Apenas Boa Vista possui um colégio eleitoral significativo com cerca de 190 mil eleitores, onde Aécio venceu com 65,61% dos votos. Em Roraima também teve eleição para governador no segundo turno e quem teve dificuldade para ter um palanque foi a Dilma.
Como se vê, numa análise numérica somada as alianças que cada candidato a presidência costurou para o 2o turno, permite-nos, em primeira instância, inferir que a política local deu o tom e definiu o resultado das eleições para presidente.
 
Obviamente, que não se trata apenas disso, mas esses fatores foram importantes e devem ser considerados em qualquer análise.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O CENTRO-OESTE E A FORÇA RURALISTA

Única das cinco regiões brasileiras que não é banhada pela mar, o centro-oeste outrora banhado por florestas, hoje possui oceanos territoriais cobertos de grãos, cana-de-açúcar e bovinos. Aliás, a população de bovinos na região é superior a de habitantes.
 
A cada ano a produção e a produtividade da região apresentam crescimentos. Além de exportar produtos primários, o Centro-oeste também desenvolveu-se na indústria agrária de transformação e na venda de seus produtos para outras regiões do Brasil.
Por ser uma região pouco povoada, apenas 15 milhões de habitantes, o modelo econômico baseado no agronegócio e nos serviços nos centros urbanos, especialmente Brasília e Goiânia, cria três aspectos a serem destacados:
 
a) crescimento da classe média urbana;
 
b) empobrecimento do homem nativo do campo e
 
c) domínio econômico e político dos grandes ruralistas.
 
Os itens "a" e "c" estão umbilicalmente ligados, embora parte da classe média do Distrito Federal seja formada por funcionários públicos e de estatais e profissionais liberais.
 
Já o empobrecimento do homem nativo do campo, encontra explicação na ampliação do tamanho das propriedades e no constante investimento em tecnologia.
 
O Centro-Oeste está crescendo ano a ano a sua participação no PIB brasileiro. É a região que mais aumenta a sua participação. Em 2008 o PIB do Centro-oeste participava com 8,9% do PIB brasileiro. Atualmente já se aproxima de 9,5%.
 
 
Tais fatores criaram uma política fechada em si na região, com pouca chance de penetração de discursos mais à esquerda, pois os formadores de opinião e a estrutura política estão comprometidos com a manutenção do status quo.
 
Em parte, este painel geográfico e sócio-econômico, explica porque a presidenta Dilma perdeu as eleições no Centro-oeste. E, que se leve em conta que o governo PT do Agnelo Queiroz no DF foi marcado por polêmicas e inabilidade do referido partido.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

SONETO DO AMOR TOTAL

Vem chegando o fim de semana, pois então uma pausa na sequência de textos interpretativos do resultado da eleição presidencial e vamos colocar amor, muito amor sobre nossos amores. Falo do típico amor maduro, entre duas pessoas, ou mais, mas que seja como o "poetinha" proclamava em seus sonetos, em suas músicas e em como viveu: um amante.
 
SONETO DO AMOR TOTAL - ( Vinicius de Moraes )
 
Amo-te tanto, meu amor...não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
 
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
 
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
 
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
 

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

MINAS GERAIS E SUA IDENTIDADE SECIONADA

Segundo dados do IBGE de 2010, Minas Gerais tem uma população de 19 milhões e 600 mil habitantes. Geralmente, em Estados do porte de Minas Gerais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Rio Grande do Sul e outros, a capital do Estado concentra uma parte significativa da população. Em geral, não menos do que 30% da população.
 
Minas é, dentre os grandes Estados, uma exceção a tal regra. Belo Horizonte, segundo os mesmos dados do IBGE não tem mais do que 12% da população do Estado. A maior parte da população espalha-se por várias cidades de porte médio, que estão distribuídas ao longo de todo o vasto território mineiro. Montes Claros, Sete Lagoas, Juiz de Fora, Governador Valadares, Uberlândia e Uberaba são apenas alguns exemplos.
 
E a região metropolitana de BH? sim, existe uma região metropolitana, mas tirando Contagem e Betim, nenhuma outra cidade tem população expressiva. Pode-se até considerar Ibirité, mas forçando um pouco a barra.
 
E qual a relação de tudo isso com a vitória da Dilma sobre Aécio no segundo turno das eleições presidenciais, justamente no Estado onde Aécio governou por 8 anos e foi eleito senador?
 
Ah ! o governo dele foi ruim, privilegiou apenas as classes médias e altas, pagou um piso, aliás, um subpiso aos professores, etc. Nada disso. Alckmin não fez um governo espetacular em São Paulo para ser eleito no primeiro turno. Muito pelo contrário. Sérgio Cabral foi praticamente alijado da política, mas fez o seu sucessor no Rio de Janeiro, com um governo cheio de controvérsias e obscuridades.
 
O que quero dizer, é que o resultado das eleições em Minas se tiveram alguma relação com o governo estadual de Aécio, foi muito pequena. De certa forma, caberá uma análise em outra ocasião, pois vejo que o eleitor anda separando seu voto local, do seu voto nacional.
 
Como disse, Minas é um território muito grande, com população grande e dispersa. Então, não existe uniformidade. Minas é um Estado com vários "Estados menores" no seu território.
Assim sendo, a relação das regiões mineiras com seus vizinhos influiu e já influenciou outras vezes, na decisão de voto nacional do eleitor mineiro. Prova disso é que em 1989 Brizola venceu as eleições no primeiro turno na região fronteiriça com o Estado do Rio de Janeiro, tendo em Juiz de Fora a sua principal cidade, atualmente com 516 mil habitantes.
 
Agora, em 2014, observem a leitura que se pode fazer do mapa da votação em Minas gerais no segundo turno das eleições presidenciais:
 
a) a região metropolitana, mais centralizada ao sul, deu vitória para o Aécio, que além de vencer em BH, também foi vitorioso em Vespasiano, Santa Luzia, Sabará, Nova Lima e Contagem; enquanto a Dilma venceu em Ribeirão das Neves, Ibirité e Betim;
 
b) fiz questão de salientar que a região metropolitana é centralizada ao sul, pois o sul do Estado deu vitória para o Aécio. E o sul do Estado faz fronteira com São Paulo. A troca de influência é muito grande e a região, como quase sempre faz, seguiu São Paulo;
 
c) a tal troca de influência também ocorre nas demais regiões de Minas Gerais, de forma que o sudeste mineiro, especialmente a zona da mata, capitaneada por Juiz de Fora, acompanhou o Rio de Janeiro e deu vitória para a Dilma;
 
d) o mesmo fenômeno ocorre no norte e nordeste de Minas, onde a semelhança com o interior da Bahia é muito grande. Assim como a Bahia, tal região de Minas deu vitória para a Dilma;
 
e) e o lado leste do Estado de Minas Gerais, mais próximo de Goiás, apresentou um resultado parecido com a maior cidade goiana desse encontro de fronteiras, que é Catalão, que assim como o  lado leste mineiro deu a vitória para a Dilma.
 
Não apresento este artigo como uma verdade. Mas, como uma constatação baseada no estudo do mapa mineiro e na distribuição dos votos para cada candidato. Mas, uma coisa eu posso afirmar, como bem mostra a foto abaixo, há várias "Minas" dentro de Minas Gerais.
 

sábado, 1 de novembro de 2014

O NORDESTE CRISTÃO

“Juazeiro tem sido um refúgio para os náufragos da vida. Tem gente de toda parte que, modestamente, vem abrigar-se debaixo da proteção da Santíssima Virgem.” - Padre Cícero
 
E os náufragos da vida brasileira, espalhados por todo território nacional, só não afogaram no nordeste por que o sertão é seco. Tamanha secura, que o povo daquele lugar se tornou cacto e aprendeu a sobreviver com a menor gota de orvalho que alguma mão celestial e generosa lhe envia(va) vez por outra.
 
Os coronéis mandantes de toda e qualquer institucionalidade local, a indiferença da elite dominante economicamente do sudeste, com seus governos sediados no Rio de Janeiro e depois com a "corte" em Brasília, a Babilônia da representação dos deputados e senadores do nordeste, sempre trataram o nordeste como "local de povo simples e humilde", para quem algumas "esmolas" os mantém satisfeitos.
 
O cabresto político eleitoral, sempre foi característico, pois votar no candidato do "coroné" é obrigação para manter o trabalho e muitas vezes para manter a própria vida.
 
 
Para o povo do nordeste, apegar-se a Deus sempre foi o seu ponto de conformidade e alívio. Muito similar ao povo da época feudal europeia. A ideia de que o sofrimento purifica, a ideia de que as coisas são como são, pois estar por aqui é uma passagem para a vida eterna, quando o sofrimento terá valido a pena. Se há pobreza extrema, se há secura, se há pessoas ricas, se há coronéis, é porque assim o é e Deus está de olho em tudo e saberá reconhecer aqueles que tem fé.
 
Chega-se, então, a era do Bolsa Família. Cabresto de esquerda? No início sim, mas se considerarmos que que o início foi para levar comida aos brasileiros famintos, deste país farto. Farto de recursos e farto do cansaço da espera por uma melhor distribuição da fartura. É possível considerar a possibilidade inicial de caráter de urgência ( "quem tem fome tem pressa" - Betinho ) somado ao que veio depois com a vinculação do programa a educação, na medida em que as crianças são obrigadas a frequentar a escola. Isso pode levar a outra discussão: que escola é essa? tema para outro artigo.
 
Até aí era pouco, mas com a construção de várias universidades no nordeste, assim como escolas técnicas, política de cotas sociais, o FIES , obras de mobilidade em grandes centros urbanos além das cisternas e da polêmica, porém real obra de transposição do rio São Francisco, parece-me justo dizer que o nordeste votou em agradecimento, como esse povo sempre faz, quando reza e agradece a Deus por mais um dia de vida.
 
Apesar de tudo que foi feito no nordeste nos últimos 12 anos, o Brasil tem ainda uma dívida muito grande junto ao povo sertanejo, o povo do semiárido, o povo das favelas distantes das praias turísticas.  
 
Espero que não seja necessário esperar a boa vontade de Brasília e a retribuição de fé, mas que vá além, pois bravura não falta ao nordestino para lutar pelo que é seu.