segunda-feira, 30 de março de 2015

RENATO RUSSO, O POETA PÓS DITADURA

Se vivo fosse, Renato Russo teria feito 55 anos na última sexta-feira, dia 27 de março. Passados 3 dias, como não houve aniversário para comemorar, não poderia deixar de prestar a minha homenagem ao músico e poeta que marcou a geração dos anos 80 e 90, mas que continua a cultivar admiradores da sua obra. Não sei se a Legião Urbana foi a banda de rock mais importante do Brasil, mas sei que foi e continua sendo a mais marcante.
 
Renato via e viveu o que muitos viam e vivenciaram, o terror da ditadura, a segregação social acompanhada da segregação racial, os sonhos da classe média, as relações entre pessoas e o amor como fim em si mesmo.
 
Diferente de outros compositores da época, Renato Russo foi capaz de misturar diversos temas em tramas poetizados como nenhum outro compositor e poeta dos anos 80 e 90 viria a fazer com tanta sensibilidade e em grande quantidade.
 
Renato enxergava com o coração e escrevia com um estilo único. As amarras que fazia em músicas existencialistas ou de críticas políticas com paixões e amores, tornaram as suas letras, pelo menos até agora, atemporais.
 
"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou..."
 
Parece obvio, não? Errado, pois em outra letra ele dirá que o "...infinito é realmente um dos deuses mais lindos..."
 
E fica menos obvio, porém tocante a todos quando em Tempo Perdido o poeta busca apoio "...então me abraça forte
E diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo..."
Primeiro a constatação, depois o medo, depois a busca do apoio humano!
 
O deus infinito de Quase sem Querer, também o leva ao contato humano.
"...Me disseram que você
Estava chorando
E foi então que eu percebi
Como lhe quero tanto"
 
Nada no Renato é desprovido das relações humanas e afetivas. "...Eu gosto de meninos e meninas...". Hoje em dia é menos complicado assumir-se uma opção sexual fora dos padrões, apesar do preconceito ainda ser grande. Na época do Renato era muito mais complicado e ele assumiu fazendo música e poesia cantada. Surpreendentemente, quanto mais ele assumia as suas diferenças e escolhas, que a rigor ele não tratava como escolhas, mas como instinto e portanto algo natural, mais ele era idolatrado.
Como ele mesmo disse, ele não optou pelo conforto de ser agradável, mas optou por ser ele mesmo. Renato Russo não nasceu, foi criado pelo próprio para assumir-se em toda a sua plenitude. Suas letras refletiam a verdade. A sua verdade. Agradasse a alguns ou desagradasse a outros. Viril contra a ditadura em Geração Coca-Cola e com a "sujeira do senado" ele já falava dos malefícios dos anos de chumbo e da corrupção no Brasil, país disposto até mesmo a vender "os índios num leilão".
 
Vento no Litoral e Ainda é Cedo são duas músicas dedicadas a paixão. Bem ao seu jeito, cada dia um dia, cada época uma época, a primeira música fala de uma relação homossexual interrompida e a segunda fala de uma relação heterossexual, também interrompida, ainda que para ele fosse cedo demais.
 
Mesmo sucumbindo diante de sua doença com aparente desinteresse em lutar por mais algum tempo de vida, Renato deixou seu sofrimento escrito em letras fortes como as do disco A Tempestade, mostrando que a sua lírica era comandada pelos acontecimentos.
A letra da música A Via Láctea deixa isso bem claro:
"Quando tudo está perdido
Sempre existe um caminho
Quando tudo está perdido
Sempre existe uma luz


Mas não me diga isso

Hoje a tristeza
Não é passageira
Hoje fiquei com febre
A tarde inteira
E quando chegar a noite
Cada estrela
Parecerá uma lágrima..."

 
Em outubro de 1996 eu chorei a morte do poeta. Muitos choraram a morte do poeta. Mas, uma das estrofes mais bonitas da sua obra nos instiga a pensar nos vivos. Com tanta coisa agressiva e estranha acontecendo no Brasil e no mundo, encerro com seus versos de esperança e crença na humanidade:
"...É preciso amar as pessoas
Como se não houvesse amanhã
Porque se você parar pra pensar
Na verdade não há..."

quinta-feira, 26 de março de 2015

O HUMANO FINITO E SUA INFINITUDE

Há algo muito estranho sobre nós, seres humanos. A natureza nos dotou de racionalidade e nós cotidianamente praticamos a irracionalidade. As vezes chego a pensar que fomos produzidos pela natureza para destruí-la; sim, pois não é verdade que na natureza "nada se perde, tudo se transforma"? Não vejo porque a dinâmica dialética não venha a ser aplicada a própria natureza e ela sucumba.
 
A questão é, seriamos nós os algozes? Mas, e nós como parte da própria natureza, proclamaremos também a nossa finitude ou somos tão poderosos, verdadeiros deuses, a ponto de recriar um outro tipo de natureza e como parasitas nos inserirmos nela utilizando a nossa capacidade infinita de adaptação e criação de artifícios?
 
O humano finito é tão sábio que reconhece a sua finitude. E a pior coisa sobre este autoconhecimento é que ele só é possível graças a razão adquirida ao longo da sua evolução. "Penso, logo existo", porém a existência material é finita. A morte caminha ao seu lado o tempo todo.
 
Ah! Isso é inaceitável dentro do contexto natural. A nós não se aplicam todas as regras da natureza, posto que somos os "germes da sua destruição". Tem que haver algo mais. Somos ungidos por entidades e deuses temporais aos quais de tempos em tempos rebatizamos, pois até este poder nós temos: o de determinar a existência até mesmo das coisas que a razão não explica.
 
É só uma questão de semântica. Se a razão não explica, então chamamos de fé e pronto. O que importa é que nós decidimos. Nós mandamos no que é natural de tal forma que criamos o sobrenatural.
E tem mais, somos tão inteligentes que organizamos as premissas sob forma de dogmas e criamos as religiões. Criamos as religiões com hierarquia e tudo. Há hierárquica de gênero, de cátedra e até de quem pode ou não falar em nome das divindades e deuses que batizamos e rebatizamos de tempos em tempos.
 
Pronto. O problema da finitude foi facilmente resolvido. E com isso ficamos mais à vontade para instituir relações sociais e econômicas. E, havendo qualquer problema de esgarçamento de relações, que cada um busque seu conforto na fé, pois a razão só cria confusão quando afirma que as relações sociais e econômicas não precisam ser hierarquizadas e tampouco precisa haver a exploração do homem pelo homem. Isso não é racional é coisa de ateu comunista, que é desprovido do sentimento da fé no sobrenatural, que já existe desde a formação do universo!
 
A tal da ciência, que não tem mais do que uns 300 anos e está na sua infância, atreve-se a dizer que nós envelhecemos e morremos por causa de uns tais radicais livres. É isso que dá, deixar radical livre! Lugar de radical é preso.
 
A ciência fala de infinitude de outra forma. Fala que quando morremos nos transformamos em matéria orgânica em decomposição e viramos terra. O humano finito já falava nisso muito antes: "do pó viemos ao pó retornaremos". Mas, é claro que a nossa alma não vira pó, ela junta-se ao criador da vez. Depende do momento histórico e do dogma.
 
Por falar em dogma, há centenas por aí. Pegue aquele que te der mais conforto e rume ao infinito. A outra opção vem da física com suas teorias sobre espaço e tempo, energias, universos paralelos, teoria das cordas e até partícula de Deus. A física também pode nos fazer crer na infinitude.
 
Como viram, nós somos os verdadeiros deuses. Nós criamos todo esse imbróglio e com isso nos demos conforto mental. Até quem não acredita na infinitude encontra conforto através de uma vida mais mundana ou acadêmica. Ou de várias outras formas, mas importa é que nós mandamos e decidimos e Dona Natureza nos aguarde, pois ela sim é finita.

sexta-feira, 20 de março de 2015

POESIA PARA COMEMORAÇÃO

Ontem, este blog atingiu a marca de 20.000 visualizações e 64 textos publicados em 5 meses e 10 dias. Não sei se 20 mil visualizações é muito ou pouco e nem me importa. O que me importa de fato é ver que ao dedicar algum tempo expondo opiniões, nem sempre conclusivas, pois muitas vezes tenho apenas a pretensão de provocar a reflexão em vez de apresentar um receituário "verdadeiro" para as coisas mundanas, pessoas demonstraram e demonstram interesse.
 
Há nos relatórios de controle do blog a informação de que 30% dos visitantes são reentrantes, ou seja, incluíram o blog jb-opinião entre os seus sites de visitas cotidianas ou eventuais, porém comparecem aqui para ver se tem coisa nova de tempos em tempos.
 
Não esperava chegar a tais números, pois geralmente trato de temas "chatos" como política, economia, história e sociedade. Além disso, sou apenas um palpiteiro com uma dose de pesquisa e leitura; meu nome não é conhecido. Eu não sou conhecido. Parece que essa "tal conectividade", juntamente com essa "tal interatividade" surtem efeito.
 
Como o próprio nome do blog sugere, o espaço é para minhas opiniões. E para as suas. O espaço para comentários está disponível. Penso que fazemos uma gota no oceano, mas acredito no poder da multiplicação das reflexões. Quem sabe até, algo daqui e dali transformem-se em ações. Vamos em frente!
 
A comemoração será ao estilo de uma das marcas do blog: poesia. Degustem-na sem moderação....e percebam como a autora trabalha a racionalidade pura, seus perigos e seu confronto com a fé. Achei que o conteúdo é bem adequado para o tipo de coisa que fazemos aqui no blog.
 
A Lucidez Perigosa  ( Clarice Lispector )

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
Assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

 Pois sei que
- em termos de nossa diária
e permanente acomodação
resignada à irrealidade -
essa clareza de realidade
é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,
porque ela não me serve para viver os dias.
Ajudai-me a de novo consistir
dos modos possíveis.
Eu consisto,
eu consisto,
amém.

quinta-feira, 19 de março de 2015

VAMOS CORROMPER A CORRUPÇÃO?

"É hipócrita quem critica a corrupção genérica e em grande escala  pratica a corrupção cotidiana."           Sérgio Fajardo
 
A ideia de corromper a corrupção é boa, não acham? E como fazê-lo? Ah, não esperem que eu dê um receituário, faço parte do sistema e certamente já pratiquei alguma coisa que na frase de Sérgio Fajardo é nomeada de "corrupção cotidiana".
 
A palavra-chave do parágrafo acima é sistema. A rigor tudo é sistema. Que coisa complicada heim? Para tratar de corromper a corrupção tenho que mergulhar nas profundezas do sistema, encontrar polvos gigantes, moluscos sem rostos e um monte de peixinhos cegos; e ainda por cima tudo é sistema, portanto sistêmico é tudo que está interligado. Será que devo começar pelo big bang?
 
Não. Não sou físico e mesmo que fosse, pois a corrupção é algo humano e em português a palavra tem a sua fonte histórica datada de 1255 d.c. Vejam bem, a palavra designativa, pois o ato de corromper ou ser corrompido data de muito antes. Percebem que o tema poderia constituir um tratado ou mesmo um livro com muitas e muitas páginas?
 
Eu não irei escrever tal livro. Então, vou pular etapas e ir diretamente ao Brasil considerando-o como um sistema dentro de um sistema maior que é a sua relação com o seu exterior, ou seja, países, empresas multinacionais, FMI, ONU, OCDE, organizações não governamentais etc. Em breve, escreverei um texto só para tratar das relações do Brasil com o exterior. Combinado?
Segundo o dicionário Houaiss, o verbo corromper ( ou de forma passiva corromper-se ), significa resumidamente: apodrecer, perverter a moral ou perverter-se fisicamente, adulterar e subornar.
 
No Brasil pós-Cabral, a primeira grande corrupção se dá com a criação das Capitanias Hereditárias, pois ocorre uma tomada de terras já ocupadas por outros povos (indígenas). Classifico tal ato corrupto como perversão moral. Alguns hão questionar dizendo que o ato de colonizar era comum e fazia parte do jogo entre os reinos e que Portugal não fez nada de diferente do que fizeram outros reinos.
 
Eu respondo dizendo que é isso mesmo. Ocorre, que o jogo mercantil é perverso por natureza e portanto, corrupto. Quero dizer que a nobreza portuguesa era tão corrupta quanto qualquer outra.
 
O jogo mercantil é tão corrupto, que chegou a comercializar pessoas. Pessoas que foram tiradas das suas terras para serem escravizadas em algum lugar do mundo. Isso era adulteração do sagrado significado do que é ser humano. Africanos de diversas regiões da África tiveram a sua condição adulterada de humanos para mercadorias. Se houve adulteração, estamos falando de corrupção.
 
Toda essa gente tornada mercadoria construiu as principais riquezas do Brasil. Riqueza que parte ia para Portugal (nobreza e comerciantes) e parte ficava no Brasil com donos de terras e comerciantes. O que quero dizer é que várias famílias enriqueceram e transferem suas riquezas de geração para geração graças ao trabalho alheio. Isto é perversão moral, portanto trata-se de corrupção pura.
 
Percebam, que poderia encaixar o mesmo modelo de raciocínio para os assalariados e tratar o lucro como uma forma sistêmica de expropriação de parte do salário. Nenhum assalariado ganha o que merece e muito menos o equivalente ao que cria de riqueza, pois parte da riqueza gerada pelo assalariado transforma-se em lucro dos proprietários.
 
Um aluno de curso superior de administração, por exemplo, quando aprende a gerir negócios, ele aprende a contabilidade da exploração do homem pelo homem.  As universidades ensinam corrupção!
 
Quando uma mãe dá mais importância às aparências e não admite que seu filho repita de ano ou repita de matéria e o filho acuado cola para fazer boas provas, a mãe está ensinando ao filho que sob pressão vale tudo. A educação familiar cria corruptos!
 
Quando um miserável troca seu voto por um sanduiche, quem pediu o voto é corrupto e o miserável corrompe-se!
 
Falei de um miserável e para não ficar injusto eis o exemplo de um empresário, que se junta a outros e injetam dinheiro em várias campanhas para criarem bancadas defensoras dos seus interesses! Corrupção pura!
 
Querem mais exemplos? Olhem ao redor. A corrupção brota no chão, terra ou asfalto. Forja-se na educação ou na falta dela e como doença autoimune, ela se alimenta da própria fraqueza da sociedade que a alimenta. Ninguém é proprietário da corrupção. Nenhum político, nenhum partido, nenhuma instituição, nenhuma assembleia legislativa, nenhum tribunal, nenhuma empresa ou empresário, nenhuma pessoa comum. Simples assim, a corrupção é sistêmica e portanto endêmica.
 
Ora! Sendo a corrupção sistêmica como corromper a corrupção? Eu disse no início, sem receituário, o texto é para reflexão, mas ficou claro que se é sistêmico, o sistema precisa ser modificado.
 
Que tal começarmos pensando em refundar a República e o nosso formato de democracia? Para isso, não basta passeios em passeatas, nem vestir-se de verde e amarelo, ou de vermelho; é preciso que o povo queira mudar e assumir o seu destino. Você está preparado para isso?

domingo, 15 de março de 2015

É GOLPE, É GOLPE!!!

Os entreveros urbanos que ocupam redes sociais, bares, ruas e grupos de conversas são tão confusos quanto a sua própria demanda existencial. Há quem defenda alhos, mas há quem defenda bugalhos. E, para tornar o "magic moment" mais surreal, há quem defenda ao mesmo tempo alhos e bugalhos e há quem seja contra ambos defendendo, inclusive que alho e bugalho são a mesma coisa.
 
Só uma coisa é certa neste imbróglio patético: não há espaço  nem condições concretas para nenhum tipo de golpe militar ou a "bolivarianização" do Brasil. O resto é papo típico de uma classe média parcialmente rachada que está longe de "tocar" o povo.
 
Metaforizei tudo, pois já cansei de escrever com seriedade sobre essa coisa toda. Quem quiser ler um texto analítico, sugiro Não há acirramento de luta de classes no Brasil publicado no dia 11 de março de 2015 no meu blog: www.jbopiniao.blogspot.com.br 
 
Agora, convido vocês para acompanharem um diálogo que traduz o surrealismo dantesco do momento.
 
A conversa é num bar e reúne um cirurgião, uma bancária e um sociólogo.
 
I
 
- Garçom, uma dose de Bucanas 12 anos com 3 pedras de gelo
- Sim, senhor.
- Olá Doutor, atrasei-me um pouquinho. Tudo bem?
- Tudo....acabei de pedir uma bebida. Peço uma para você, Luiza?
- Um chopp bem gelado!
- Senhor, aqui está o seu whisky.
- Traz um chopp. Bem gelado viu?
- Com certeza. É pra já.
Mal o garçom se vira e chega o Sociólogo.
- Olá! Oi Doutor...Luzia, tudo bem?
Todos se levantaram e cumprimentaram o Sociólogo.
Quando se sentam, chega o Garçom:
- Seu chopp bem gelado !
- E o senhor, alguma bebida? Pergunta direcionada ao sociólogo.
- Um Guaraná zero com gelo e uma fatia de laranja, por favor.
 
II
 
- Muito trabalho Luiza? Pergunta o Sociólogo.
- Sempre. Não estou aguentando mais....metas e mais metas e pressão vinda de todos os lados...
- Você é acomodada. Quis a segurança de trabalhar num banco federal, agora reclama. Banco é como qualquer empresa, tem que ter lucro e banco federal mais ainda, pois os contribuintes não vão pagar os seus salários....sai dessa e vai a luta.
O Doutor disse essas palavras de forma peremptória numa respirada só.
- Ei, "pera" lá, disse a bancária, estou no banco há 20 anos, sou gerente de relacionamento, trabalho 10 horas por dia, cuido de 400 clientes e não tenho nenhum auxiliar. Que segurança é essa a qual você se refere, se vou me aposentar com um salário de droga e..
Interveio o Sociólogo
- E, você é a parte frágil do sistema, minha querida. Você é assalariada numa empresa S.A. cujo objetivo é deixar os acionistas felizes com o lucro que você e os outros bancários geram. O banqueiro, no caso o governo, só recolhe o lucro. Igualzinho a uma empresa privada.
- Mas, sociólogo, o governo não é comunista? Perguntou o Doutor em tom duvidoso.
- Rá, rá, rá....que piada, Doutor, o PT e tão neoliberal quanto o PSDB.
- Não sei que sociólogo você é, como pode confundir comunistas com o PSDB, o partido que arrumou o Brasil...
- Doutor, você sabe o que é capital? Não parece, nenhum dos dois governos confrontou o capital e a política econômica foi monetarista, ou seja, a mesma coisa....
- Sociólogo, discordo! Em qual governo 36 milhões de brasileiros saíram da miséria absoluta? Em qual governo o país saiu do mapa da fome? Qual governo investe em moradias para famílias de baixa renda? Qual governo implantou a política de cotas nas universidades? Qual gov....
- Eu respondo, disse o Doutor, o mesmo que aparelhou as instituições seguindo critérios políticos e praticou a maior roubalheira nunca antes vista nesse país....E, o pior, com o objetivo de cooptar as instituições e transformar o Brasil numa Venezuela.
- Vocês dois são superficiais. Um governo pode ter tido um viés um pouco mais social o outro pode ter sido mais entreguista, não quer dizer que o PT também não foi privatizante. A questão é que o grande capital está feliz e satisfeito com os 8 anos do PSDB e com os 12 anos do PT.
A conversa seguiu nesse circulo sem saída até....
III
 
- Garçom!!! Mais whisky. Dose dupla sem gelo.....só com muita bebida para aturar tanta baboseira.
- Doutor, o senhor está faltando com respeito. Eu sou um sociólogo, não sou um pequeno burguês como o senhor e sua classe corporativista que só pensa em ganhar dinheiro, que tem nojo de pobre.
- Querem parar vocês dois!
- Ô Luiza, sua admiradora de petralha, cuidado que os militares vem aí.
O Sociólogo impassível interveio. - Não adianta te explicar que o capital não está ameaçado e por isso não vai haver golpe....mas, que você é um reacionário, fascista e golpista, ah, isso você é....
- Isso mesmo, disse Luiza, só faz cirurgia em rico, só pensa em dinheiro, seu golpista.
- Não sei se dou gargalhadas ou se perco meu tempo respondendo....mas, lhes pergunto, qual o pior golpe, um que devolva a democracia e as instituições ao Brasil ou um golpe comunista bolivariano que todos sabem que está sendo armado?
- O PT foi o único partido que governou para os pobres em toda a história do Brasil, os senhores não percebem?
- Petralha!!
- Neoliberal!!
- E vocês? O Doutor é reacionário e você é rotulador, um falso acadêmico!
- Esperem o Golpe!
- Sim o Golpe do povo!
- De um jeito ou de outro vai ter golpe!
......................................
- Vou embora, amanhã vou para a passeata defender a Dilma
- Eu vou no domingo, para derrubar esse governo
- E eu vou assistir vocês pela TV.
 
 

quarta-feira, 11 de março de 2015

NÃO HÁ ACIRRAMENTO DE LUTA DE CLASSES NO BRASIL

Ultimamente tenho lido e ouvido diversas opiniões sobre o atual momento no Brasil. Parece que todos têm. Apenas parece, pois a maioria está com os ouvidos fechados, só fala para defender seu ponto de vista e muitas cabeças estão trancadas. Há exceções. Nem sei exatamente se são exceções, pois não sei se os barulhentos aparentam ser numerosos apenas pelo barulho que fazem.
 
Quem diria que um dia a polarização PT x PSDB faria ambos se tornarem tão parecidos! O PSDB se escorava no antes "grandioso" DEM (antigo PFL do Antônio Carlos Magalhães) e o PT se escora no PMDB (partido do Renan Calheiros e do Eduardo Cunha).
 
Os métodos de amparo para governabilidade foram os mesmos. Enquanto FHC fez passar a PEC da reeleição a todo custo, o PT não deixou por menos e comprou apoio no Congresso em troca de financiamento de campanhas via caixa 2.
 
Há diferenças entre os dois partidos. O PSDB é neoliberal assumido e o PT é social democrata não assumido.
 
O atual momento no Brasil não é de crise institucional e muito menos de luta de classes. O povo real, aquele que labuta por um salário minguado, não está participando desse teatro. O que me leva a crer que basicamente o que está acontecendo pode ser resumido em dois pontos essenciais:
 
a) diante da queda de popularidade da presidenta Dilma, que enfrenta duas frentes adversas com a grande imprensa a bombardeá-la diariamente, sendo as duas frentes a economia e a corrupção na Petrobrás, vê todo o Congresso se rearrumando. Não há partidos, há bancadas. São os ruralistas, os sindicalistas, os evangélicos e por aí vai. Se o executivo se enfraquece, o Congresso se fortalece, pois o jogo é fisiológico e
 
b) o que parece ser um acirramento da luta de classes, não passa de uma exagerada voltagem aplicada na e pela "classe média", que conceitualmente fica melhor caracterizada como segmento intermediário, dividido em duas partes, ou seja, quem está em luta é o segmento intermediário contra ele próprio. Uma parte mais conservadora que chega a supor que o PT tem como projeto conduzir o Brasil ao socialismo real e que para isso a "ocupação das instituições" e a corrupção são meios para o fim; o outro grupo do mesmo segmento intermediário entende que apesar de alguns escorregões, Lula e o PT conduziram o país para uma situação de menor desigualdade, com a inclusão de famintos e marginalizados e o progressivo aumento da renda desses brasileiros, que verdade seja dita estavam abandonados a própria sorte há muitas e muitas décadas.
A imagem acima, reduz a uma caricatura algumas das principais características do segmento intermediário:
a) a família feliz
b) a roupa bem cuidada ou de grife
c) a hereditariedade como sinônimo de dever social
d) a criança feliz, porém com "modos"
e) os cabelos cuidados impecavelmente
f) a cor branca na pele, que embora não seja única ela é majoritária
g) a pompa de quem deseja subir na escala social, quem sabe tornando-se empresários(burgueses)
 
Nenhum dos dois lados rompidos momentaneamente deixa de ter as características acima. A diferença é que uma parte é mais moralista e sensível ao noticiário e o outro lado possui uma sensibilidade social maior e acredita num capitalismo mais humanizado.
 
Portanto, quem acha que o Brasil está passando por um momento de acirramento da real luta de classes eu penso o contrário. Neste aspectos, o Brasil está deitado em berço esplêndido. Inclusive, a chamada classe C nasceu, cresceu e alimenta, de maneira diferente, os mesmos sonhos de ascensão de degraus sociais que a tradicional classe média alimenta.
 
Isso está no DNA do sistema capitalista. Acumular, crescer, subir degraus sociais etc.

domingo, 8 de março de 2015

POESIA ÀS MULHERES

Poesia para reverenciar o Dia Internacional da Mulher. Dia que simboliza luta em vez de submissão, dia que simboliza independência afetiva em vez de amarras masculinizadas; dia que simboliza muito mais, mas que se define pela palavra mulher, tão incompreensível em sua essência, em seu núcleo pelo cérebro masculino, que o faz trata-la como deusa, ou odiá-la, ou admirar alguma por toda a vida, mesmo que não a conheça? E muitas vezes por vaidade ou covardia ou mesmo por dominação, quem sabe, o homem não se revela ou age nas sombras, aquele tipo de sombra que esconde a própria sombra dele mesmo.
 
Hoje, não é dia de dar parabéns. Hoje, é dia de reconhecer.
 
Em homenagem, publico um soneto de minha autoria. Sem nomes famosos. A autoria é minha para que a reverência seja integralmente minha.
Soneto de oração às Mulheres (escrito em 2013) - Joaquim Barros - livro Sensações Despertadas, pag.23
 
O mundo tem fome
E vós tendes alimento
Provocais insônia e sentimento
São muitas, mas um só nome
 
Intangíveis na essência
Valentes que se libertam
Já foram demônios de Sua Eminência
Sem perderem a fé na criação
 
Ora vendeis o corpo, ora o entregais
Fonte de amor, aqueceis os mortais
Que ontem ou hoje controlais
 
Sabes que Vênus vos enobreceis
E que de vosso ventre transbordais
Filhos, esperança e paz.
 

quarta-feira, 4 de março de 2015

DIÁLOGOS HIPÓCRITAS

Agendando consulta médica:
 
- Alô é do consultório médico?
- Sim, em que posso ajudar?
- Estou querendo marcar consulta, mas antes quero saber quanto custa.
- Com recibo ou sem recibo?
- Dê-me os dois valores.
- 380 com recibo e 280 sem recibo
- Então marca uma data pra mim. Não quero recibo.
 
Na consulta:
 
- Como vai o senhor, tudo bem? Vamos entrando...
- Não estou muito bem não doutor. Tenho ficado muito estressado ultimamente.
- O que está te causando isso?
- Ah....esse negócio desse PT se perpetuando no poder, roubando o país descaradamente. Não consigo ver ou ouvir um apoiador do governo que eu explodo. Depois fico sentindo umas palpitações aceleradas no coração.
- Vamos cuidar do senhor. Vai tudo ficar bem... Mas, o senhor tem razão em ficar indignado. Eu também fico. Um dia desses fizemos um ato lá no CRM contra esse negócio de médico cubano. É preciso acabar com essa raça esquerdista que só faz confusão e está destruindo o país.
- É doutor, o problema maior é que o povo não sabe votar...as vezes eu penso que as forças armadas deveriam agir.
- Se for preciso eu apoio... Olha, aqui está a sua receita.  Tome duas vezes ao dia e o senhor vai ficar mais calmo. O coração está ótimo, não fique preocupado.
- Então tá. Tudo de bom pro senhor, doutor, e obrigado por fazer a consulta sem recibo.
 
 
Pequeno empresário e o contador
 
- Este é meu contador!
- Como vai empreendedor?
- Vou bem....tirando os impostos e esse governinho de droga que nós temos....
- Rapaz, nem te conto. Os meus clientes estão indignados com a reeleição da Dilma. Eu não conheço um que tenha votado nela.
- Tá na cara que a eleição foi roubada. Os caras manipulam tudo, os juízes do STF são quase todos indicados pelo Lula, aquele ladrão ordinário e pelo poste, que é essa tal de Dilma.....é muita manipulação.
- E o que você está precisando meu cliente?
- É o seguinte, estou estimulando meus clientes a pagarem em dinheiro ou cheque. Daí, você sabe né, parte do meu faturamento vai escorrer por fora. Entendeu?
- Sim, claro. E você quer que proceda como?
- Reduz meu faturamento em relação ao ano passado, aumenta custos, e reduz ao máximo o meu lucro.
- Beleza. Isso é fácil. Você é mestre mesmo heim, sabe ganhar dinheiro. Nasceu para ser empresário.
- Eu não sou nada sem você. Grande abraço. Ah, e vamos ficar atentos, qualquer movimento para sabotar esse governo, "tamos" juntos.
 
O esquerdista e o petista
 
- Fora PT, traidores !
- Ei, calma lá, o PT está do lado dos trabalhadores e miseráveis. Você não consegue enxergar?
- O que eu enxergo é que entre vocês e o PSDB não existe nenhuma diferença.
- Como assim? O PSDB fez 8 anos de arrocho salarial, a diplomacia do Brasil era automaticamente ligada a Washington, o país não suportou três crises internacionais e teve que recorrer ao FMI, não houve nenhum programa social de abrangência nacional e numérica, o desemprego esteve quase sempre em alta. Que história é essa de não tem diferença.
- Tudo que você disse são detalhes de segunda ordem. Os dois partidos sempre governaram para o "capital".
- Você é louco? Não percebeu que a renda do povo aumentou e o salário mínimo vale muito mais hoje em dia?
- Sim....mas, o lucro dos bancos também aumentaram.
- O país é capitalista. Não só os bancos, mas todas as empresas buscam lucro. Só que nós protegemos a renda do trabalhador e a criação de mais e mais empregos formais com carteira assinada.
- Por isso mesmo é a mesma coisa. Você acabou de dizer que o PT governa o capitalismo. Não observei nenhuma diferença no sentido de enfrentar o grande "capital".
- Você espera uma revolução socialista? Você sabe que se tentássemos isso haveria reações pesadas e o país correria o risco de ter um retrocesso a direita! O povo não está organizado para segurar uma revolução.
- E o PT com toda a máquina nas mãos, o que fez para organizar o povo?
- Primeiro estamos preocupados em dar vida digna ao povo através dos programas sociais e investimentos habitacionais e no acesso a educação.
- É, mas poderiam ter feito isso em 4 anos se usassem os 260 bilhões de reais que vocês, assim como o FHC, pagam por ano de juros da dívida.
- Você queria que déssemos calote. De cara? O país seria isolado do mundo.
- Tudo que você diz é pra justificar a imobilidade do PT e sua falta de compromisso com a formação de um governo popular e progressista.
- A propósito, e vocês que se intitulam de esquerda, o que têm feito nos últimos vinte anos?
 
 

domingo, 1 de março de 2015

RIO DE JANEIRO: UMA VIAGEM ATRAVÉS DA HISTÓRIA

Dedico este texto a professora Vera Moraes, que em curso superior me deu aulas de História do Rio de Janeiro e foi com quem fiz meu primeiro trabalho de campo, saindo pelas ruas do centro do Rio e adjacências com bloquinho, caneta e máquina fotográfica.
 
Quero te fazer um convite. Hoje, 1 de março de 2015, a cidade do Rio de Janeiro faz 450 anos. A rigor, a data da fundação, que é 1 de março de 1565, é uma data símbolo. Antes, já havia portugueses e índios vivendo por aqui de forma organizada e inclusive com a presença de padres e franceses.
 
O fato é que hoje se comemora o aniversário da fundação da cidade, uma data muito mais invocada como símbolo da expulsão dos franceses do que propriamente da fundação, mas que "funda o Rio de Janeiro" efetivamente como cidade colonial portuguesa.
 
Volto ao convite. Ainda não o fiz, não é? Que tal voltarmos ao século XVI e caminharmos até onde der, fazendo um passeio pela história da cidade? Quero ir lá atrás e fazer uma caminhada até o século XIX ou no máximo até o início do XX.
 
Sei que hoje várias homenagens serão feitas. Muitas exaltando a indiscutível beleza única da cidade. Por isso, quero pegar sua atenção para outros aspectos e conduzi-la por uma viagem no tempo. O que permite, inclusive, compreender melhor como chegamos até o dia de hoje com os problemas e as virtudes da Cidade Maravilhosa!
 
Antecedentes
 
Depois da vinda de Cabral, Portugal levou cerca de três décadas para começar a mandar expedições colonizadoras para o Brasil. É sempre bom lembrar, que estou contando a história do ponto de vista do Brasil de hoje. E chamo a atenção para uma palavra que talvez eu vá usar algumas vezes, que é colonização. Aqui, neste chão que chamamos Brasil, fora território de diversos povos que aqui fincaram moradia, descendo da América do Norte e da costa oeste da América Sul. Portanto, a colonização portuguesa e a presença de outros povos europeus irá dizimar alguns povos e descaracterizar a cultura de outros.
 
Efetivamente, somente em 1549 o rei de Portugal, Dom João III, iniciará de fato a colonização do Brasil com a criação do cargo de Governador Geral da Colônia. O primeiro viria a ser Tomé de Souza.
 
Curiosidade => A primeira expedição portuguesa a chegar no litoral do Rio de Janeiro, data de 1 de janeiro de 1502. Por ter sido em janeiro, os portugueses batizaram a baia que dá acesso ao litoral de "Rio de Janeiro". Naquela época, a palavra rio não se limitava a hidrografia de água doce; uma baía ou fundo de baía também eram chamados de rio. Os índios que viviam no litoral do Rio de Janeiro chamavam de Iguaá-mbara(água que se esconde). Dessa palavra surge a palavra Guanabara, que batiza a nossa hoje tão poluída baía.
 
A Fundação da Cidade
 
Em 1555, os franceses ocuparam a cidade. Para encurtar não vou me ater ao fato. Para o objetivo da nossa "viagem histórica" o que importa é que os portugueses sob ordem do Governador Geral, começam em 1565 um processo de retomada do território carioca. Para criar um clima favorável, Estácio de Sá, enviado para acelerar a expulsão dos franceses, declara fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro num trecho de praia entre os morros Pão de Açúcar e Cara de Cão. O episódio está descrito numa carta escrita pelo Padre Anchieta, que fazia parte da comitiva do Estácio de Sá.
 
A batalha contra os franceses se estendeu até 1567. No dia 20 de janeiro (dia de São Sebastião), Estácio de Sá lançou, com apoio dos índios tupiniquins, o ataque derradeiro.
 
Apesar da fundação formal ter ocorrido na região da Urca(Praia Vermelha), o núcleo da cidade passa a ser o morro do Castelo, que sediou os principais prédios administrativos da cidade e a Igreja Colégio dos Jesuítas, que infelizmente não existe mais, pois séculos depois o morro foi removido.
 
O núcleo central da cidade se dividiu em quatro morros e entre eles: Castelo, Santo Antônio, São Bento e Conceição.
 
Nessa época, a população do Rio era de aproximadamente 3.850 habitantes, sendo a maioria de nativos.
 
A Praça XV do século XVI ao século XVIII
 
A vida da cidade ocorria entre os quatro morros e o principal ponto de encontro comercial, de festas era a hoje chamada Praça XV, a época chamada de Largo do Rossio ou Terreiro da Polé, pois lá havia o pelourinho. Tentem sentir, nas palavras de Vivaldo Coaracy como eram intensos os acontecimentos no largo do Rossio: "...testemunha e cenário dos mais variados acontecimentos, trágicos e cômicos, solenes e vergonhosos; que passou por mais profundas transformações; que conheceu uma galeria policroma de personagens, desde os que deixaram os nomes inscritos nas páginas da grande história até as mínimas criaturas anônimas confundidas no lado das sarjetas, foi o Largo do Rossio."
 
Nas suas redondezas foi construída a primeira rua, a rua Direita (hoje chamada de Primeiro de Março), igrejas, ermidas etc. Das igrejas construídas no século XVI sobrou o Mosteiro de São Bento, obra iniciada em 1590.
 
É impossível contar a história da fundação do Rio sem dar atenção especial a Praça, que em seguida ficou conhecida como Praça do Carmo, pois ali se instalaram os Carmelitas no século XVII.
 
Além disso, a Praça era um porto. Principal porto da cidade durante muitos anos. Abrigava a casa do Governador, o prédio da Cadeia (atual Assembléia  Legislativa), o Senado da Câmara, incendiado em 1790 e o famoso, até hoje, Arco dos Teles (sobrenome de uma família influente a época).
 
Os dois primeiros chafarizes da cidade ficavam na Praça. O último deles está lá até hoje e suas linhas artísticas foram feitas por Mestre Valentim.
 
A vida social concentrava-se entre a rua Direita e a Praça e a programação era quase toda católica.
 
A vida comercial também tinha o mesmo "point". Mercado de peixes, ambulantes, normalmente escravos, oferecendo frutas, comidas prontas, doces etc. O burburinho comercial quase sempre se misturava ao choro dos novos escravos arrancados das suas terras e trazidos por embarcações que atracavam na Praça.
 
A importância da Praça vai num crescente e seu apogeu se dá no século XIX com a chega ao Rio da família Real.
 
As Consequências da união Ibérica para a Cidade do Rio de Janeiro
 
A União Ibérica dura de 1580 a 1640. tempo suficiente para interferir nos negócios da Holanda, que vivia da (re)venda do açúcar. A União restringe as áreas de comércio da Holanda, que responde invadindo a Bahia, sem sucesso e depois Pernambuco onde ficam por 24 anos!
 
E o Rio com isso?
Com Pernambuco nas mãos dos holandeses, Portugal volta-se mais para o sul do território brasileiro. Com isso o Rio vai se tornando o ponto de comando das ações portuguesas.
 
Em 1640, Portugal consegue desfazer a união Ibérica e entrona uma família real reconhecida rapidamente pelo Governo do Rio de Janeiro. Durante três noites ocorreram festas, desfiles de cavaleiros e carros ornamentados. Alguns historiadores consideram o episódio como o primeiro carnaval da cidade do Rio de Janeiro.
 
A essa altura, o porto do Rio de Janeiro, na Praça do Carmo (Praça XV) passa a ser o principal porto do país, inclusive para escoamento das riquezas retiradas da região espanhola de Buenos Aires.
 
Século XVIII: O Fortalecimento da Burguesia Mercantil
 
"Na fundação da cidade do Rio de Janeiro estava marcado o destino mercantil da cidade"
                                                                                                              Eulália Lobo
 
As figuras centrais das classes dominantes são os produtores de cana-de-açúcar e outros produtos primários e os comerciantes (atravessadores), que vão ganhando importância e já no século XVIII acumulam mais renda do que os produtores primários.
 
Os comerciantes passam a ter domínio dentro da Câmara Municipal. O Colégio eleitoral que formava a Câmara vai dando para ela uma cara cada vez mais urbana, sob o argumento de que os produtores rurais tabelavam preços.
 
A Câmara, entretanto, é que passa a trabalhar pelos interesses dos comerciantes, chegando, por exemplo a fixação de preços de fretes; tal função anteriormente era do Governador. Quando me refiro a comerciantes, estou me referindo a atacadistas e exportadores.
 
O poder da Câmara chegou até a mexer com interesses da burguesia da metrópole. Dois exemplos:
a) fixação de imposto de 3% para custear frotas comboiadas por naus de guerra e
b) contratação de navios estrangeiros de maior porte para levar a produção para Portugal
 
Como a balança comercial, por determinação de Portugal, tinha sempre que ser desfavorável ao Brasil, os meios de pagamento se tornam escassos e os Comerciantes passam a receber parte do pagamento dos produtores sob forma de açúcar, que com isso se desvaloriza internamente.
 
A Câmara assume tanto poder que cria uma casa da moeda para suprir a falta de meios de pagamento e acabar com o uso do açúcar para tal.
 
A burguesia a que me refiro, é carioca. O seu poder se espalha por todo o país, pois o centro de operações militares também está no Rio, em virtude do período de perda do controle português sobre o nordeste.
 
O passo seguinte para o desenvolvimento da burguesia do Rio de Janeiro está na implantação de indústria açucareira e naval, neste caso impulsionado pelo crescente movimento do porto da cidade, com ligação direta com o Reino, com colônias africanas e asiáticas e a Bacia do Prata.
 
Com a movimentação para dentro das Minas Gerais, o Rio passa a ser o receptor do ouro que irá para Portugal e vende para o interior sal, farinha, escravos, ferramentas etc.
 
Com a volta do controle "normal" de Portugal sobre a Bahia e principalmente Pernambuco, a cidade do Rio de janeiro faz comércio com o nordeste e consegue impor balança comercial favorável aos cariocas. Em troca de coco e tabaco, o Rio vendia mandioca, feijão, milho, arroz, queijos de Minas Gerais, cachaça, toucinho etc. Os nordestinos pagavam o déficit em dinheiro.
 
Na segunda metade do século XVIII, com a queda da produção aurífera, Portugal aumenta o seu interesse em negociar com a região do Prata. Nesse período o Rio de janeiro está no auge do seu poder econômico e é o centro governante de todas as terras do sul, inclusive a colônia do Sacramento (atual Uruguai).
 
Com tamanho poder militar e burguês, e sua posição privilegiada como porto, a cidade do Rio de Janeiro é declarada capital da colônia em 1763.
 
Um Pouco Sobre o Século XIX
 
O século é marcado pela chegada da família real. As embarcações chegaram ao Rio em 7 de março de 1808.
 
A antes Praça do Rossio, da Polé, do Carmo, agora passa a chamar-se praça do Paço.
 
De capital da colônia, nos 13 anos em que a família real ficou no Brasil, a cidade do Rio de Janeiro tornou-se capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. E mais uma vez, o centro do poder estava na Praça.
 
Algumas instituições criadas na cidade para cumprir com o seu novo papel: Intendência Geral da polícia, Teatro de São João, novas linhas de abastecimento de água, Biblioteca Real, Imprensa Régia, Escola Médica, Academia de Marinha, Banco do Brasil, Fábrica de pólvora, dentre várias outras instituições.
 
Mesmo com o retorno da família real para Portugal, o Rio de Janeiro continuou sendo o centro político do Brasil.
 
Em maio de 1822 Dom Pedro recebe o título de defensor perpétuo do Brasil e juntamente com a convocação da Assembléia Constituinte Brasileira em junho, foram acontecimentos que precipitaram a Proclamação da independência.
 
Pedro II foi aclamado Imperador em outubro e em novembro a nova bandeira foi benzida e içada. Nascia, pelo menos simbolicamente, no centro da cidade do Rio de Janeiro, um país.
 
Finalizando....
 
Deixei de falar sobre muitas coisas. Fiz o resumo que pude para não tornar o texto cansativo. Mas, a história da cidade continuou, a Praça do Paço, virou Praça XV depois da proclamação da República.
 
A Praça, ah a Praça! Ela tem muito mais histórias para contar.
 
Feliz aniversário, Cidade Maravilhosa !!!