quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

FELIZ ANO VELHO

Para vocês, companheiros de estrada e que me honram com um pedaço de seus tempos lendo uma ou outra das minhas publicações, desejo que mantenhamos nossos laços, distanciados pelo mundo da conectividade, mas aproximados pelos tipos de temas que costumo colocar em pauta. O blog tem tido aumento expressivo de audiência e isso devo a vocês. Muito obrigado e um feliz 2015 ou seja lá qual for o seu ano.
 
Importa que a vida continue. Importa, que no nosso Brasil, tudo indica que teremos um ano de aperto no cinto. Já há notícias que mostram alguns apertos, que não são bons, pois afetam a quem mais precisa.
 
É verdade que algumas mudanças de regras têm como pano de fundo a redução de fraudes e má fé junto ao INSS, mas é o mesmo caso da Lei Seca; corta-se o benefício da assunção de risco, tirando diretos de todos. A fiscalização e as auditagens são muito mais baratas socialmente do que a retirada de direitos, ou mesmo a sua diminuição dos mesmos em larga escala, por causa de minorias de fraudadores e burladores de leis. Mas, há mais do que isso por trás dos panos.
 
Eu diria que há um Feliz Ano Velho vindo por aí. E tudo indica, que no final de 2015, lhes desejarei novamente um Feliz Ano Velho. Dizer que espero que não, seria ingenuidade de fim de ano.
Claro que estou me referindo a temas macros. Temas das inquietudes do Brasil. Também das inquietudes do mundo. Podemos iniciar 2015 com mais uma grave crise econômica na Grécia e por conseguinte na Europa e por conseguinte em outras partes do mundo, incluindo o nosso Brasil.
 
Mas, existe o aspecto pessoal, privado e semeador, que passa por nossas vidas. Por vezes nós provocamos de forma planejada, outras o acaso abre portas e sementinhas plantadas em outros anos podem frutificar em suas vidas em 2015. São as quase certezas e as incertezas de nossa vida que nada mais é do que uma função dos acontecimentos, dos nossos princípios e da nossa consciência.
 
É ruim ter consciência. Ela nos faz enxergar, nos faz pensar e quanto mais consciência mais sofremos. Lembrando de um poema do Fernando Pessoa, não exatamente com essas palavras, mas ele diz que "pensar é perder a inocência".
 
O lado bom da consciência é que podemos pensar positivamente, fazer planos, cuidar da saúde, contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e humanitária. Nestes e em outros sentidos, meus amigos e amigas, desejo-lhes um Feliz Ano Novo, pois se temos problemas, também temos como construir soluções.
 
Só depende de cada um.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

RECORTES - FERNANDO PESSOA

Desde o início do blog, publico, vez por outra, poemas de autores diversos, inclusive alguns que escrevo por hobby, com o intuito de acrescentar um pouco de lírica na forma de se ver o mundo e as inquietudes do nosso momento na História.
 
Hoje, farei a última publicação do ano com tal intuito. Escolhi Fernando Pessoa, mas não irei publicar nenhum poema completo. Soltarei na tela trechos de alguns dos seus trabalhos. Farei recortes e os colarei ao léu nesta tela branca. Vindo do Fernando Pessoa, sei que terá significado.
 
" Tenho que escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a ação, que a minha sensibilidade repugna; ou a ação, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.
 Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum, mas, como hei de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra."
 
"...
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),

É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora."

 
" Se dentre as mulheres da terra eu vier um dia a colher uma esposa, que a tua prece por mim seja esta - que de qualquer modo ela seja estéril. Mas pode também, se por mim rezares, que eu não venha nunca a obter essa esposa suposta.
 Só a esterilidade é nobre e digna. Só o matar o que nunca foi é raro e sublime e absurdo."
 
"...
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
 
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…"

sábado, 27 de dezembro de 2014

DESENVOLVIMENTO E RELATIVIDADE

Acho curioso e sempre observo com um certo "que" de diminuição do ser humano, incluindo este que vos escreve, aparecendo como efeito colateral em minha mente, quando ouço coisas como "em pleno século XXI ainda acontece isso ou aquilo" ou "com tanto desenvolvimento tecnológico ainda ocorrem coisas assim ou assado".
 
Fico imaginando como teriam sido comentários equivalentes em todas as épocas do passado. Temos o hábito indelével de achar que a nossa época é mais desenvolvida do que outras passadas.
 
Os motivos são os mais variados, mas não importa agora. O que quero chamar a atenção é para a questão da relatividade. Estamos há dois milênios vivendo a chamada era do calendário cristão. Antes de tal período, há pelo menos sete mil anos de História, de onde a historiografia, a arqueologia, a antropologia e outras ciências conseguem revelar fontes primárias de estudo e a reconstituição de várias sociedades, inclusive tribais e alguns aspectos dos seus modos de vida, tais como economia, crenças, hierarquia social, artes e diversas outras coisas.
 
Então eu pergunto, o que vocês acham que daqui a 500 anos pensarão do nosso modo de vida atual? Provavelmente rudimentar. Mas, com certeza estarão se perguntando por quê possuirão problemas depois de "tanto desenvolvimento".
Desenvolvimento é uma ideia. Nada mais do que isso. Alguns podem afirmar que não, que existem provas concretas, como o aumento elevado da expectativa de vida em tão pouco tempo. Sim, em 1820 a expectativa média de vida do brasileira era de 29 anos, atualmente supera os 74 anos. Isso, entretanto, não significa que as pessoas de hoje sejam mais felizes do que as que viveram em outras épocas.
 
Surgiu outro aspecto a ser considerado; a felicidade. Duvido que em qualquer época e em qualquer sociedade com hierarquia social, sejam castas ou classes ou mesmo estamentos, as pessoas tenham sido realmente felizes.
 
Desde quase sempre, tirando algumas pequenas sociedades primitivas, vivemos sob o regime das pirâmides sociais. Grosso modo, Karl Marx disse que o motor da história tem sido essa divisão social. É inquestionável, que o pano de fundo é econômico e as pessoas do topo das diversas pirâmides são acumuladores de riquezas.
 
Ato contínuo, ocorre uma acumulação cada vez maior e inversamente nas mãos de um número proporcional reduzido de famílias. Isso é desenvolvimento?
 
A rigor, parece que caminhamos para trás. E aí a pergunta seria, como chegamos no século XXI com a desigualdade de distribuição de renda cada vez maior. O que você acha, evoluímos ou involuímos?
 
E, pensando mais a fundo, poderíamos inferir que a tendência contínua de acumulação continuará para sempre? Ou realmente passaremos desse tipo histórico de sociedade para uma realmente desenvolvida, onde todos sejam tratados como iguais e onde todos assumam de fato o destino da humanidade e do mundo?
 
Dizem que "virada de ano" é tempo de reflexões. Espero ter contribuído com algumas perguntas que vão além do indivíduo em si e se expandem para o tipo de mundo que podemos almejar e construir.
 
Tudo pode começar com reflexões.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

CUBA: CONTINUUS MODIFICANTIS

Fazer exercícios futurológicos não é meu forte. Tentar trabalhar com tendências é ótimo, porém há graus, que podem ser elevados, de incertezas. Isso vale para as oscilações de preços, por exemplo, casos em que a estatística ajuda muito, além da análise de demanda e produção. Aplicar inferências e criar discurso de tendência para a área humana é bem mais complicado.
 
Nos últimos dias tenho ouvido "de um tudo" sobre como ficará Cuba após o acordo com os EE.UU., que envolve o reatamento das relações diplomáticas e consequentemente o bloqueio contra a ilha socialista. Bloqueio, que diga-se, covardemente mantido pelo Império com sua política externa de domínio e crueldades mundo afora.
 
De uma coisa tenho certeza, nada será como antes, pois o episódio produz um continuus modificantis, próprio da humanidade, próprio da história e especialmente da cultura.
 
Não creio que a diplomacia direta entre os dois países e a realização de negócios de Cuba com países capitalistas venha a acarretar alguma ameaça ao modo ideológico do país caribenho, pois as premissas ideológicas estão fundadas já há uma quantidade expressiva de gerações. O sistema, mesmo débil economicamente, conseguiu se sustentar desde o núcleo formativo do ser humano, que é a relação familiar e a educação formal, de fazer inveja até ao EUA, cujo ensino público passa por grande crise de qualidade.
 
Importante salientar, que a educação em Cuba forma cidadãos preparados para o modelo e com o ideário solidário e humanista que caracteriza o socialismo. Não significa, entretanto, que a educação é o sustentáculo do sistema, mas o poder popular oriundo da participação efetiva da população no dia a dia da política, sim. Mas, educação e participação são peças do mesmo tabuleiro.
 
Novidade poderá ser a introdução paulatina da comunicação em massa, que não se limite aos meios oficiais. Estou me referindo a internet e sua capacidade de formar rede e de distribuir ideários, valores, propostas. Não há imunização, pois as redes de contatos são formadas pelas próprias pessoas no que os especialistas chamam de rede distribuída, sem comando, sem centralização.
 
Esse pode ser o calcanhar de Aquiles do reatamento econômico de Cuba com EUA e por tabela com o mundo capitalista ocidental, já que o sistema de partido único, condizente com a tese do centralismo democrático, faz contraponto com os modos de comunicação pessoais inseridos na web, que são descentralizados, distribuídos e influentes.
 
Prognóstico? Não me atrevo. Mas, torço para que a ilha continue a ser um exemplo de solidariedade e humanismo para o mundo. Enquanto EUA, França, Canadá, Inglaterra e outros definem suas políticas para defender e aumentar as suas riquezas, levando guerra a várias partes do mundo, Cuba leva medicina, médicos, assistentes sociais, sistema de educação e outras coisas que fazem muita falta em quase todo o mundo.

sábado, 20 de dezembro de 2014

MAS, É NATAL!!!

Está chegando o Natal! Sempre é natal. E não há natal sem a mulher, a mãe, aquela que durante 9 meses sustenta e alimenta um novo serzinho que terá o seu natal.
 
No mundo, cerca de 1 mulher morre por minuto por complicações no parto. Mas, é Natal! Vamos comemorar com rabanadas, vinho, bacalhau, quem sabe um peru bem gordo, frutas, saladas, nozes, castanhas. Ah, é Natal! Outros irão comemorar com frango assado, farofa, cerveja, quiça alguns doces.
 
Cristãos mais militantes irão rezar. Não sei se pedirão ao natalino, que receba as cerca de 600 mil mulheres mortas por ano por complicações no parto. Afinal, quem divulga tais números? Esses números não são da corrupção, então não servem para o momento. Não dão audiência. Mas, é Natal!
 
No Brasil atualmente morrem cerca de sessenta e poucas mulheres para cada 100 mil bebês nascidos vivos. Em 2004 a taxa era de 75 mulheres mortas. A OMS classifica os países em 4 estágios. O Brasil encontra-se no terceiro pior, que é o nível ruim (entre 50 e 149 mortes). Lástima, vergonha. É uma vergonha para o Estado em todos os níveis e uma vergonha para as classes que se remoem com a ideia da distribuição de renda. 
Vamos celebrar o Natal! o natal interrompido das 14 crianças que morrem antes de completarem 1 ano de idade para cada mil natalidades. Há que se considerar que em 2000  a taxa era de 29 mortes, redução expressiva, porém no caso de mortes de crianças recém nascidas, não cabe elogio. Não passa de obrigação. E é o mínimo.
 
Jesus Cristo, um pregador humanitário e contrário a opressão do Império Romano no Oriente, se vivo fosse, não estaria feliz com as mortes de mães durante o parto em números desleixados e tampouco com a mortalidade infantil nos países pobres, como os da África, muitos da Ásia e da América latina.
 
Acho, que ele não iria querer festas e comilanças. Seja seu aniversário no dia 25 de dezembro ou em abril como afirmam com fontes confiáveis os historiadores que se dedicam ao assunto. Penso que passaria o seu dia natalino assim como os demais: pregando. Pregando o amor, pregando a paz, pregando a repartição do pão (que interpreto como distribuição de renda), dentre outras coisas. O risco seria o de novamente ser crucificado pela classe média ortodoxa taxado de comunista.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

VERGONHA DE NÓS - POESIA

"Vergonha de nós" é uma poesia de minha autoria. Ela fala sobre a exploração do homem pelo homem, ela fala de classes e castas, ela fala de escravidão, ela fala até mesmo no domínio perverso da alma. E fala sobre muito mais. Prefiro, que você mesmo tire suas conclusões e que a interpretação seja o mais livre possível.
 
A poesia é uma das 32 que publiquei no livro "Sensações Despertadas" de 2013, que ainda pode ser encontrado em alguns sites, como o da Livraria Saraiva, que está vendendo o livro com 5% de desconto. Este link leva diretamente a área do meu livro na Saraiva. http://www.saraiva.com.br/sensacoes-despertadas-5357414.html
 
Vergonha de nós (2013) - Livro: Sensações Despertadas, pág. 57 (Joaquim Barros).
 
Aprendemos o manejo,
Utilizamos para lascar pedras,
E de forma ardilosa,
Manejamos uns aos outros.
É claro, que alguns são mais talentosos.
Pra que serve a tecnologia de todos os tempos,
Se quem a manejou e a maneja,
Manejado é?
 
Conflitante encontro entre concreto e abstrato.
O manejo concreto é trabalho,
Já o abstrato é o manejo de almas.
Não fosse assim,
Não milenaríamos repetidas vezes
Com poucos de nós no comando,
Alguns de nós bajulando,
E a maioria de nós manejando concretamente,
Para sustentar os comandantes e bajuladores.
 
Nós somos uma vergonha,
Ser humano é não ser humano.
A epopeia não é um épico grego,
Não há glória onde há sangue e medo do amanhã.

domingo, 14 de dezembro de 2014

DIREITOS HUMANOS: FIGURAÇÃO HISTÓRICA

No último dia 10, fez 46 anos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada em reunião histórica da ONU.
 
Digo que foi histórica não para dar ênfase no feito em si, embora o conteúdo do documento realmente, em quase sua integridade, apresente-se como humanista. O feito foi histórico pois foi parte da chamada "Guerra Fria", como quase tudo que ocorreu no mundo depois da segunda guerra mundial até a dissolução da URSS e o período russo sob o governo de Boris Iéltisin.
 
O Tio Sam, sempre ardiloso, agiu na Guerra Fria não só com armas e invasões a territórios alheios, mas agiu muito na área da propaganda e da disseminação de teorias como a da segurança nacional, fruto do imaginário criado de que o "comunismo" assombrava de forma concreta a suposta tesa da liberdade.
 
Criado o pânico nos "parceiros", conscientizando-os do perigo, era adequado insistir na mesma tecla sob várias formas para que o "obvio não fosse esquecido" e o EUA não necessitassem gastar tanto dinheiro com guerras.
 
Um bom exemplo é o que aconteceu na América do Sul. Militares locais muito bem doutrinados pela teoria da segurança nacional, dariam conta de endurecer o jogo para os crescentes movimentos que buscavam justamente a libertação e a justiça social em países como Argentina, Brasil e Chile, dentre outros. Bastou aos EE.UU. espalharem diplomatas, agentes da CIA e empresas de capital norte-americano para criarem ambientes propícios e auxiliarem os novos governos golpistas e amigáveis que foram surgindo com apoio de boa parcela da chamada classe média conservadora, termo incorreto, mas que permite um bom entendimento do que quero destacar. 
 
Consolidada a ideia, principalmente no ocidente, de que comunismo e liberdade são antagônicos, a promoção para a aprovação e disseminação da Declaração dos Direitos Humanos, foi naturalmente capturada para uso contra o bloco socialista, ficando a nova máxima propagandeada pelo EUA como a de que os países socialistas desrespeitavam os Direitos Humanos.
 
Essa tática, fez reforçar o apoio aos EE.UU. em todo o mundo ocidental e aliados da Ásia, como o Japão, que além de formal e soberano, também social  junto aos setores intermediários de tais países, sob a "bandeira" de que a luta travava-se pela liberdade e pelos direitos humanos. Há neste aspecto, os elementos essenciais que irão nortear a política externa norte-americana até os dias atuais, quando a guerra utilizada é a chamada contra o "terror". Lembrem-se, de que embora o EUA não tenha encontrado arma química no Iraque, justificou sua invasão para "libertar o povo do Iraquiano".  Pretexto subjetivo e altamente perigoso para a segurança de qualquer país, povo ou nação.
É claro que as contradições ocorreram aos montes e continuam a ocorrer até os dias atuais. Prova de que os motivos dos empenhos norte-americanos têm face visível e face oculta. Normalmente a visível está traduzida nos filmes hollywoodianos que mostram uma percepção de que o EUA representa sempre o "bem".
 
O bem que implantou ditaduras mundo afora, inclusive a brasileira de 1964 a 1985. É bom lembrar, que durante grande parte da ditadura brasileira houve cassação de direitos políticos e a prática imperdoável da tortura. Disse imperdoável, pois sou a favor da revogação da Lei da Anistia. Torturadores, mandantes, comandantes, que ainda estão vivos precisam ser julgados. O país precisa mostrar a si mesmo, que tem instituições capazes de conduzir, sem revanchismo, porém com rigor, este tema que, não sei o motivo, assombra parte significativa da sociedade. Da grande mídia não esperaria algo diferente. Ela é contrária e em parte porquê foi complacente e alguns grupos de comunicação engordaram bastante durante a ditadura.
 
Todos os crimes de guerra que os EE.UU. vêm cometendo, como bombardeio a hospitais durante a guerra do Iraque e atualmente contra territórios da Síria, são chamados de "pequenos efeitos colaterais dentro de uma margem aceitável". Cinismo puro e que conta com o silêncio  e a omissão do mundo.
 
Agora, com o vazamento de documentos e imagens diversas sobre as práticas mais pavorosas de tortura durante o governo W. Busch e com a denúncia de que a CIA tinha uma "escola de preparação de torturadores", nada novo, pois o relatório brasileiro da Comissão da Verdade já denunciou tal prática que ocorria no Panamá, onde muitos de nossos torturadores foram ter aulinhas; veremos se o mundo, ou pelo menos uma parte dele, se utilizará da ocasião para desmoralizar os EE.UU., exigir que os direitos humanos sejam respeitados pelas polícias racistas de algumas de suas cidades e aproveitem o momento para baixarem o tom das intromissões que vêm do Império.
 
A luta contra o imperialismo, é a principal de todas. As demais lutas são derivadas.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

INDIVIDUALISMO COLETIVO

Voltemos a falar sobre valor. Sobre qual abordagem? Tanto faz. Vamos continuar misturando economia, comportamento, princípios, moral, ética. Vamos ligar o liquidificador!
 
No texto anterior, terminamos falando sobre o comportamento consumista da sociedade capitalista. Algo vago, que sob o ponto de vista individual pode ser tratado por psicólogos, sob o ponto de vista social, por sociólogos, sob o ponto de vista econômico, por economistas e por aí vai.
 
Enquanto escrevia os parágrafos acima, estava refletindo sobre se deveria abrir ou fechar o ângulo do tema, para criar algo que se some a outras opiniões ou mesmo desperte reflexões. Decidi pegar um aspecto do tema, que não é o problema, pois a causa é sistêmica e responde pelo nome de capitalismo. Vamos tratar um pouco sobre o individualismo.
 
O comportamento individualista, cada vez mais presente e observado por todos, por todos mesmo, incluindo os próprios individualistas, de diversas escalas dessa "doença social", incluindo o autor deste texto e você que o lê, pois as exceções são cada vez mais exceções; ganha terreno na velocidade de um tsunami. Não há muitas "Madres Teresas de Calcutá" por aí. E, por favor, não se ofenda, pois a coisa já é tão cultural, que mesmo sem querer, vez por outra somos individualistas e egoístas sem termos plena consciência disso. Já é algo involuntário. Em que medida? Não sei.
 
Sem querer tornar a relação entre individualismo e gentileza como algo exato e inversamente proporcional, de maneira empírica posso perceber uma relação no mínimo inversa, sem necessariamente ser proporcional, embora andando por aí, observo cada vez menos "gestos de gentileza" e cada vez mais o "cada um por si".
 
Curiosamente há organizações que reúnem pessoas e conseguem aglutiná-las em torno de algo comum. Quero destacar sindicatos e associações de todos os tipos, que em muitos casos conseguem obter gestos voluntários, por vezes solidários e contraditoriamente são grupos onde se observa o fenômeno do corporativismo.
 
Pensemos em algo "individualista", sem visão de conjunto social, tratado de maneira coletiva. Isso é corporativismo, uma corrosão perigosa na relação entre organismos sociais, pois geralmente não agregam valor para a sociedade, mas apenas para interesses setorizados.
 
O que fazer? Educação. Não a que está aí, pois continua produzindo individualistas. Desde cedo as crianças de classe média ouvem em suas casas que precisam ser os "melhores em tudo para terem um bom futuro".
 
E, mesmo nos ambientes das classes de menor renda, com o incentivo crescente a formação técnica e mais oportunidades para ingresso no ensino superior, tais segmentos sociais onde a postura gentil sobrevive, tenderá a diminuir com a infecção educativa voltada para a competitividade predatória.


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

O QUE É VALOR?

Na sociedade em que vivemos, onde valores e princípios éticos e morais são sobrepujados e sequestrados pelo modelo econômico consumista capitalista, há, por conta de tamanha força sistêmica, uma enorme confusão sobre o que é valor econômico e valor pessoal.
 
Não fico surpreso em ver, por exemplo, lojas em Amsterdã e outros centros europeus, onde o produto exposto na vitrine é um ser humano, cujo item agregado é a tentação sexual. Nada contra a tentação, apenas apresento o exemplo como um pressuposto indicativo do que ocorre com a ideia de valor. Evidentemente que as mulheres mais "bonitas" ou "gostosas" têm um preço mais alto que as demais, assim como os homens mais "musculosos" ou mais "dotados" devem ter seus preços inflados.
 
Fui ao extremo da sacanagem dessa sociedade fundada nas Revoluções Industriais. Falei de gente, como poderia ter falado de roupa, de vegetais ou de produtos tecnológicos, ou de qualquer coisa, pois qualquer coisa é vendável onde o valor do homo sapiens sapiens é facilmente convertido em preço.
 
Eis uma questão importante. Quer dizer que valor é uma coisa e preço é outra na economia? Para os marqueteiros, empresários, banqueiros, comerciantes dentre outros é a mesma coisa. Por isso coloquei os marqueteiros na frente, pois eles são contratados para que toda a sociedade também ache que é a mesma coisa. Mas, não é.
A rigor, na formação do preço de um produto estão embutidos vários itens concretos, que fazem parte do custo real de produção e outros itens não tão concretos como a grife e a margem de lucro, que ao contrário do que ocorre, ela não deve ser considerada na formação do preço, pois a sua mera existência é como a existência dos impostos. No caso do lucro, trata-se de um "imposto" sobre o tempo de trabalho social gasto na produção, duplamente cobrado, pois é retirado do salário do trabalhador e é pago pelo consumidor na hora da compra. Consumidor, cuja imensa maioria é formada por assalariados.
 
Logicamente que a complexidade do que coloquei no paragrafo acima, não pode ser esgotada neste pequeno texto. Inclusive, usei livremente algumas figurações de linguagem que tornam a explicação pouco ou nada rigorosa do ponto de vista acadêmico. Importa, entretanto, cumprir a sua função de levar o leitor a reflexão e que ele mesmo pesquise mais o assunto se for do seu interesse. Para os interessados, sugiro pesquisa sobre a teoria do "valor trabalho".
 
Finalmente, a distorção entre o que é preço e o que é valor na economia atual, leva a uma distorção comportamental social, que podemos resumir na palavra consumismo. Pouco ampla para abranger o tema, mas suficientemente compreensível para um até breve, pois teremos que continuar o assunto no próximo texto, sob pena deste ficar demasiadamente longo e ramificado.

sábado, 6 de dezembro de 2014

CRÔNICA DE UMA SOCIEDADE DOENTE

Hoje, saí para dar uma caminhada e comprar um perfume para presentear uma tia que fez 96 anos e continua, que ótimo, exigente quanto aos aromas que usa diariamente para manter o seu sempre incontestável charme e principalmente a autoestima.
 
Ao me aproximar de um shopping para fazer a minha pequena compra, pensei que estava numa feira esquizofrênica.
 
Pedestres atravessavam numa faixa para eles, num local sem semáforo, enquanto motoristas atrás da faixa buzinavam seus carros ensandecidos. A loucura maior é que do terceiro veículo para trás não dava para os outros três ou quatro veículos enfileirados verem por que o trânsito estava momentaneamente parado. Ah, mas o primeiro e o segundo motoristas tinham pleno conhecimento do que ocorria a sua frente.
 
O primeiro motorista da fila foi, entretanto, o primeiro a buzinar "saiam da frente pedestres!!!" e aí como num efeito dominó as buzinas se espalharam até o último veículo.
 
Por estar numa situação de descontração, dei um pouco mais de atenção a pintura grotesca, consciente de que ela faz parte da paisagem. Nada de anormal estava acontecendo ali, tudo nos conformes. Quando a faixa de pedestres ficou livre, o primeiro motorista arrancou cantando pneu, com cara de fúria e cheio de razão!!!
 
Então, prossegui alguns passos até a entrada do gigantesco shopping,  caminhando a passos moderados. Que erro!!! Quase fui atropelado por pessoas que entravam naquele contêiner de lojas. Gente falando ao celular de quem tomei pisão no pé, gente em alta velocidade esbarrando em todos para entrar rapidamente, pessoas que no meio disso tudo resolveram parar para conversar bem na entrada e aí detonaram um literal engavetamento de pessoas e foi por aí o festival insano de uma sociedade que só pode estar doente. Muito doente.
 
A imagem acima não precisa de explicação, apenas de um adendo: o individualismo consumista, que já é suficientemente grave, agora também é míope.
 
"Vi de um tudo" no shopping. Corredores lotados, lojas fervilhando de supostas promoções, vendedores puxando consumidores para dentro das lojas, fila para usar banheiro, fila para usar o caixa eletrônico, fila para ser atendido, fila para pagar a conta, mas todos felizes com suas sacolas cheias de "coisas novas" e bonitas!!!
 
Após comprar o perfume para a minha tia, encontrei uma amiga que trabalha com Psicologia Econômica. É uma arma científica para a reflexão pessoal sobre o uso consciente do dinheiro, do patrimônio, dos recursos, etc; resumindo de maneira bem superficial.
 
Batemos um rápido papo e assim como eu, ela observou tudo o que se passava e comentou "hoje em dia a pessoa é o que consome e tem seu valor pessoal medido pelo quanto consome". Provocativo, perguntei, "e quem não consome?" rapidamente veio a resposta - "está fora do sistema, não existe".
 
Eu já sabia qual seria a resposta dela, assim como sei que não adianta tratar sintomas. A solução passa inevitavelmente pela cura da doença, que responde pelo nome de CAPITALISMO. No entanto, fiquei arrependido de ter comprado um sabonete líquido que a vendedora me convenceu a levar para fazer um "conjuntinho com o perfume".
 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

ECONOMIA BRASILEIRA, LDO E O NOVO GOVERNO

No dia 25 de novembro escrevi um texto chamado "O Quadrado Econômico" no qual fiz críticas ao modelo de governança da economia baseada no receituário ortodoxo.
 
Critiquei o esforço que o país faz, anualmente, para fazer poupança (superávit primário) para pagamento de juros da sua dívida, que o  próprio país faz crescer com sucessivos aumentos da taxa de juros. É como se o país dissesse aos bancos, "olha, nós pagamos pouco a vocês, então vamos aumentar paulatinamente a taxa de juros".
 
Alguém haverá de lembrar, que o Malan e o FHC chegaram a casa dos 40% a.a.. Sim é verdade, mas tal constatação não serve para minimizar as críticas a uma possível volta da ortodoxia com o Sr. Joaquim Levy, pois o governo FHC foi um governo afinado com o consenso de Washington, neoliberal por excelência, proclamador do Estado mínimo e vendilhão da pátria.
 
Na noite de ontem, o Congresso corrompido para o bem, praticamente liquidou a questão da LDO, abrindo espaço para o governo fechar o ano com um superávit fiscal inferior ao que determinava a meta.
 
A oposição e a grande imprensa apelidam a situação de contorcionismo contábil, quando a rigor, trata-se de abater investimentos do PAC e desonerações fiscais da conta. Isso não é contorcionismo, mas uma maneira diferente de tratar o mesmo tema.
 
Não sou a favor das desonerações fiscais para a indústria automobilística, mas o argumento de que a cadeia produtiva é grande e com isso o governo agiu mais para segurar empregos do que propriamente para aquecer a economia faz sentido.
 
Quanto a abater investimentos no PAC para depois fechar a conta do superávit primário, convenhamos que é uma maneira de priorizar investimentos em detrimento da poupança para os bancos.
Aprovadas as flexibilizações na LDO, encerra-se o período semiheterodoxo e desenvolvimentista da dupla Dilma e Mantega. Em poucas semanas entraremos numa ciranda de enxugamentos que irão além dos supérfluos, mas irão atingir a capacidade de investimento do Estado, que será mais afetada pela tendência das taxas de juros continuarem subindo elevando a necessidade de reservas orçamentárias para pagamento de dívidas.
 
E quem vai segurar o peso de 2015? Nós, o povo. A rigor, os bancos vão reduzir a oferta de crédito, pois a política monetarista levará a isso para combater a inflação e o governo tratará de empunhar a bandeira da reforma política, que se bem sucedida poderá salvar 2015 no aspecto político.
 


segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

IMPORTANTES E DESIMPORTANTES

Na minha consciência, não tão "saudável" como exige o sistema, proponho-me sempre a enxergar e ver e não ser enformado numa forma de "normalidade". No antigo livro Viagem a Ixtlan de Carlos Castañeda, um "brujo" (espécie de xamã) chamado Don Juan Matus, indígena mexicano, passa todo o livro dando lições espetaculares para um pesquisador antropólogo/sociólogo.
 
Li esse livro faz muito tempo, mas nunca saiu da minha cabeça um ensinamento do Don Juan, que pode ser resumido em "o que você enxerga não é o que você vê". E ele faz essa declaração para o pesquisador, dizendo-lhe que por mais estudo que ele tenha, ele não sabe ver.
 
A trama se desenvolve entre os dois e o "brujo" aos poucos vai desconstruindo a soberba do pesquisador, que com o intuito de estudar o uso do peiote por indígenas mexicanos, se depara com Don Juan que lhe impõe lições sucessivas sobre a vida.
 
Todas as lições do Don Juan, completam um conjunto que se resume em não se sentir importante pessoalmente. Perder a importância que a própria pessoa se atribui.
 
Na sociedade em que vivemos, uma sociedade de classes distanciadas e na qual a soberba e a importância que uns dão aos outros está ligada a cargos que ocupam e a posses matérias, onde pessoas supérfluas e patéticas competem entre si em coisas como bairro onde mora, tamanho do seu imóvel, peças de artes que possui, quantos e quais automóveis, como se saiu na Bolsa de Valores e dezenas de coisas entranhadas entre ricos, entre "emergentes" e nas classes médias com maior poder de consumo que sonham subir de patamar social.
 
Don Juan ao falar da "desimportância" da pessoa, indica o caminho da humildade e da sabedoria. O consumismo possui um caráter oposto onde a busca do status e a exibição material têm valor.
 
A arrogância social, cujo último exemplo de ampla divulgação, foi o caso do juizinho que teve postura de rei perante uma súdita que quis aplicar a lei. Ah, mas os reis têm poder divino, então as leis não se aplicam a eles.
 
Atendentes de lojas, taxistas, garçons e outros tantos que estão aí para servir, não é mesmo? estão sendo cada vez mais destratados, oprimidos e humilhados por pessoas de "nariz em pé".
 
Há um consenso de que o maior problema do Brasil é a educação. Mas, não creio que seja apenas a educação escolar. No caso das elites, parece que é para ontem uma reeducação de caráter e de comportamento.