sábado, 27 de dezembro de 2014

DESENVOLVIMENTO E RELATIVIDADE

Acho curioso e sempre observo com um certo "que" de diminuição do ser humano, incluindo este que vos escreve, aparecendo como efeito colateral em minha mente, quando ouço coisas como "em pleno século XXI ainda acontece isso ou aquilo" ou "com tanto desenvolvimento tecnológico ainda ocorrem coisas assim ou assado".
 
Fico imaginando como teriam sido comentários equivalentes em todas as épocas do passado. Temos o hábito indelével de achar que a nossa época é mais desenvolvida do que outras passadas.
 
Os motivos são os mais variados, mas não importa agora. O que quero chamar a atenção é para a questão da relatividade. Estamos há dois milênios vivendo a chamada era do calendário cristão. Antes de tal período, há pelo menos sete mil anos de História, de onde a historiografia, a arqueologia, a antropologia e outras ciências conseguem revelar fontes primárias de estudo e a reconstituição de várias sociedades, inclusive tribais e alguns aspectos dos seus modos de vida, tais como economia, crenças, hierarquia social, artes e diversas outras coisas.
 
Então eu pergunto, o que vocês acham que daqui a 500 anos pensarão do nosso modo de vida atual? Provavelmente rudimentar. Mas, com certeza estarão se perguntando por quê possuirão problemas depois de "tanto desenvolvimento".
Desenvolvimento é uma ideia. Nada mais do que isso. Alguns podem afirmar que não, que existem provas concretas, como o aumento elevado da expectativa de vida em tão pouco tempo. Sim, em 1820 a expectativa média de vida do brasileira era de 29 anos, atualmente supera os 74 anos. Isso, entretanto, não significa que as pessoas de hoje sejam mais felizes do que as que viveram em outras épocas.
 
Surgiu outro aspecto a ser considerado; a felicidade. Duvido que em qualquer época e em qualquer sociedade com hierarquia social, sejam castas ou classes ou mesmo estamentos, as pessoas tenham sido realmente felizes.
 
Desde quase sempre, tirando algumas pequenas sociedades primitivas, vivemos sob o regime das pirâmides sociais. Grosso modo, Karl Marx disse que o motor da história tem sido essa divisão social. É inquestionável, que o pano de fundo é econômico e as pessoas do topo das diversas pirâmides são acumuladores de riquezas.
 
Ato contínuo, ocorre uma acumulação cada vez maior e inversamente nas mãos de um número proporcional reduzido de famílias. Isso é desenvolvimento?
 
A rigor, parece que caminhamos para trás. E aí a pergunta seria, como chegamos no século XXI com a desigualdade de distribuição de renda cada vez maior. O que você acha, evoluímos ou involuímos?
 
E, pensando mais a fundo, poderíamos inferir que a tendência contínua de acumulação continuará para sempre? Ou realmente passaremos desse tipo histórico de sociedade para uma realmente desenvolvida, onde todos sejam tratados como iguais e onde todos assumam de fato o destino da humanidade e do mundo?
 
Dizem que "virada de ano" é tempo de reflexões. Espero ter contribuído com algumas perguntas que vão além do indivíduo em si e se expandem para o tipo de mundo que podemos almejar e construir.
 
Tudo pode começar com reflexões.

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