quinta-feira, 19 de março de 2015

VAMOS CORROMPER A CORRUPÇÃO?

"É hipócrita quem critica a corrupção genérica e em grande escala  pratica a corrupção cotidiana."           Sérgio Fajardo
 
A ideia de corromper a corrupção é boa, não acham? E como fazê-lo? Ah, não esperem que eu dê um receituário, faço parte do sistema e certamente já pratiquei alguma coisa que na frase de Sérgio Fajardo é nomeada de "corrupção cotidiana".
 
A palavra-chave do parágrafo acima é sistema. A rigor tudo é sistema. Que coisa complicada heim? Para tratar de corromper a corrupção tenho que mergulhar nas profundezas do sistema, encontrar polvos gigantes, moluscos sem rostos e um monte de peixinhos cegos; e ainda por cima tudo é sistema, portanto sistêmico é tudo que está interligado. Será que devo começar pelo big bang?
 
Não. Não sou físico e mesmo que fosse, pois a corrupção é algo humano e em português a palavra tem a sua fonte histórica datada de 1255 d.c. Vejam bem, a palavra designativa, pois o ato de corromper ou ser corrompido data de muito antes. Percebem que o tema poderia constituir um tratado ou mesmo um livro com muitas e muitas páginas?
 
Eu não irei escrever tal livro. Então, vou pular etapas e ir diretamente ao Brasil considerando-o como um sistema dentro de um sistema maior que é a sua relação com o seu exterior, ou seja, países, empresas multinacionais, FMI, ONU, OCDE, organizações não governamentais etc. Em breve, escreverei um texto só para tratar das relações do Brasil com o exterior. Combinado?
Segundo o dicionário Houaiss, o verbo corromper ( ou de forma passiva corromper-se ), significa resumidamente: apodrecer, perverter a moral ou perverter-se fisicamente, adulterar e subornar.
 
No Brasil pós-Cabral, a primeira grande corrupção se dá com a criação das Capitanias Hereditárias, pois ocorre uma tomada de terras já ocupadas por outros povos (indígenas). Classifico tal ato corrupto como perversão moral. Alguns hão questionar dizendo que o ato de colonizar era comum e fazia parte do jogo entre os reinos e que Portugal não fez nada de diferente do que fizeram outros reinos.
 
Eu respondo dizendo que é isso mesmo. Ocorre, que o jogo mercantil é perverso por natureza e portanto, corrupto. Quero dizer que a nobreza portuguesa era tão corrupta quanto qualquer outra.
 
O jogo mercantil é tão corrupto, que chegou a comercializar pessoas. Pessoas que foram tiradas das suas terras para serem escravizadas em algum lugar do mundo. Isso era adulteração do sagrado significado do que é ser humano. Africanos de diversas regiões da África tiveram a sua condição adulterada de humanos para mercadorias. Se houve adulteração, estamos falando de corrupção.
 
Toda essa gente tornada mercadoria construiu as principais riquezas do Brasil. Riqueza que parte ia para Portugal (nobreza e comerciantes) e parte ficava no Brasil com donos de terras e comerciantes. O que quero dizer é que várias famílias enriqueceram e transferem suas riquezas de geração para geração graças ao trabalho alheio. Isto é perversão moral, portanto trata-se de corrupção pura.
 
Percebam, que poderia encaixar o mesmo modelo de raciocínio para os assalariados e tratar o lucro como uma forma sistêmica de expropriação de parte do salário. Nenhum assalariado ganha o que merece e muito menos o equivalente ao que cria de riqueza, pois parte da riqueza gerada pelo assalariado transforma-se em lucro dos proprietários.
 
Um aluno de curso superior de administração, por exemplo, quando aprende a gerir negócios, ele aprende a contabilidade da exploração do homem pelo homem.  As universidades ensinam corrupção!
 
Quando uma mãe dá mais importância às aparências e não admite que seu filho repita de ano ou repita de matéria e o filho acuado cola para fazer boas provas, a mãe está ensinando ao filho que sob pressão vale tudo. A educação familiar cria corruptos!
 
Quando um miserável troca seu voto por um sanduiche, quem pediu o voto é corrupto e o miserável corrompe-se!
 
Falei de um miserável e para não ficar injusto eis o exemplo de um empresário, que se junta a outros e injetam dinheiro em várias campanhas para criarem bancadas defensoras dos seus interesses! Corrupção pura!
 
Querem mais exemplos? Olhem ao redor. A corrupção brota no chão, terra ou asfalto. Forja-se na educação ou na falta dela e como doença autoimune, ela se alimenta da própria fraqueza da sociedade que a alimenta. Ninguém é proprietário da corrupção. Nenhum político, nenhum partido, nenhuma instituição, nenhuma assembleia legislativa, nenhum tribunal, nenhuma empresa ou empresário, nenhuma pessoa comum. Simples assim, a corrupção é sistêmica e portanto endêmica.
 
Ora! Sendo a corrupção sistêmica como corromper a corrupção? Eu disse no início, sem receituário, o texto é para reflexão, mas ficou claro que se é sistêmico, o sistema precisa ser modificado.
 
Que tal começarmos pensando em refundar a República e o nosso formato de democracia? Para isso, não basta passeios em passeatas, nem vestir-se de verde e amarelo, ou de vermelho; é preciso que o povo queira mudar e assumir o seu destino. Você está preparado para isso?

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