sábado, 22 de novembro de 2014

HISTÓRIA: O PASSADO INFINITO

Há uma percepção generalizada de que o termo infinito, quando não em sentido figurado, refere-se a assuntos da matemática, da física, da astronomia e de algumas outras áreas do conhecimento humano consideradas de ciências matemáticas e da natureza.
 
É razoavelmente fácil compreender a infinitude dos números. Mas, sei que é bastante complexo dizer que em ciências humanas existe a concepção do infinito.
 
Em História, considera-se que toda sociedade é resultado de mudanças de uma ou mais sociedades previamente existentes. Sejam de que forma for, por exemplo, forçada por invasores, movidas de dentro para fora, ou movimentos nacionalistas, como o nazismo, que se apoiam num suposto passado, só há sociedade se houve uma sociedade anteriormente.
 
Então, estamos diante de algo diferente do que é capaz de perceber a nossa perene passagem pela vida e pelo presente, pois principalmente e geralmente nos movemos e criamos a nossa cesta de valores através da memória. E, lembremos que a memória passa de geração para geração de diversas formas. Eis o passado e sua relevância para compreensão do que é mais recente. E, como demonstramos, só há passado social se antes dele houve outro passado social. A origem da História humana organizada em sociedade é infinita, pois sempre haverá um passado.
E para que serve essa viagem louca? Serve para chegarmos no "hoje" e pensarmos que a história é contínua. Como uma sociedade em geral valoriza o seu passado, que altera-se por força de mudanças, por exemplo tecnológicas, o que não chega a mudar a sua superestrutura, há sempre uma certa força social contrária a mudanças, pois o aspecto ideológico reside no passado e só se permite alterar a partir da consciência.
 
Sendo a consciência algo impotente em confronto direto com a força da tradição, ela pode se fortalecer somente com o enfraquecimento da ideia de continuidade. Momento este que podemos chamar de consciência para a ruptura.
 
Segundo rápida definição do historiador Eric Hobsbawm, a ideologia é um sistema de valores. Sendo assim, quando parcela significativa de uma sociedade atinge o que chamamos de consciência para a ruptura, pode-se inferir que o sistema de valores está em estado de ebulição social e o resultado será a formatação de uma nova sociedade alicerçada em outro sistema ideológico.
 
É bom reprisar, ainda segundo Hobsbawm, que não sendo através da consciência, mudanças sociais só são toleradas pela própria sociedade quando os seus ingredientes de mudança não alteram em geral o status quo social. São coisas anunciadas como "novas" como sinônimo de "boas".

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