sexta-feira, 17 de outubro de 2014

NA MANHÃ DO MILÊNIO

Escolhi um poema do amazonense Thiago de Mello, pois de forma lírica a sua poesia "Na manhã do milênio" dá continuidade ao texto que publiquei ontem e mantém o tema aberto para outros textos. Apreciem a poesia sem moderação !
Na Manhã Do Milênio ( autoria de Thiago de Mello )

De que valeu o assombro indignado
e esta perseverança que me acende
em pleno dia a estrela que me guia,
seguro do meu chão e do meu sonho?

De que valeram todos os prodígios
da ciência mergulhando na espessura
mais escura do espaço e dominar
jamais imaginadas vastidões
para encontrar a luz fossilizada?

De que valeu meu passo peregrino
pelo tempo, meu canto solidário,
a entrega ardente, a dor desmerecida,
o viver afastado do meu povo,
só porque desfraldei em plena praça
a bandeira do amor?

Do que valeu,
se hoje, manhã deste milênio novo,
avança, imensa e escura, bem na fronte,
a marca suja da miséria humana
gravada em cinza pela indiferença
dos que pretendem donos ser da vida;
calada avança uma legião de crianças
deserdadas do pão e todavia
capazes de sorrir: maior milagre
do século perverso que findou?

De que valeram todas as palavras
que proferi na treva da esperança?
Tão pouco, talvez nada. Não consola
saber que fiz, que fiz a minha parte,
que reparti com tantos o diamante,
e olhei de frente o sol para aprender
que tudo vale a pena quando a alma
não é pequena.

Não sei o tamanho
da minha alma. Só sei que vou varando
o fim do rio, posso discernir
a margem que me chama. Obstinado,
confiante sigo o cântico distante
da estrela alucinante. Que destino
de estrela é o de brilhar e, mesmo extinta,
fulgurante perdura sobre os homens.

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