sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

POLÍTICA: A POLARIZAÇÂO PT x PSDB

"A habilidade de simplificar significa eliminar o desnecessário para que o necessário possa se manifestar"
                                  Hans Hofmann

O capital sobrepõe-se a tudo, pois o sistema institucional, seja legislativo, executivo, judiciário, educativo, comunicativo ( tevês, rádios, mídias móveis etc ), partidário, policial e tantos outros, foram criados e constantemente adaptados à manutenção sistêmica.
 
Lembrem-se sempre de que a base da nossa sociedade está no princípio do direito a propriedade privada e a livre iniciativa. De forma muito resumida, quando o EUA e outras grandes potências ocidentais falam em liberdade, estão se referindo basicamente a propriedade privada, inclusive de ideias e tecnologias através das patentes, e ao empreendedorismo que visa o lucro como o objetivo estimulante.
 
A Guerra Fria foi um exemplo de polarização. Inicialmente uma polarização ideológica, que levou parte do mundo a reflexão sobre os sistemas capitalista, já bem conhecido, e o socialista ao modo Soviético.
 
Na fase da polarização ideológica, ela fez bem ao mundo. Naturalmente os princípios socialistas foram ganhando espaço em diversas sociedades, pois a ideia capitalista de liberdade foi cedendo terreno para uma proposta holística de sociedade, onde a liberdade em si, passa pela igualdade social. Ou seja, o individual dá lugar ao social.
 
Numa fase seguinte, talvez final dos anos 50 início dos 60, a vantagem ideológica representada pela URSS leva EUA e aliados a interferirem diretamente no que vinha acontecendo em vários países. O EUA passa a impedir a auto determinação dos povos. O jogo ideológico cede terreno rapidamente para o jogo geopolítico. E a URSS passa a fazer a mesma coisa.
 
Quando a polarização chega no nível da "desideologização" e assume um caráter de dominação sobre outros povos para manutenção de poder e um lado proteger-se do outro, além das guerras patrocinadas pelas duas grandes potências, a polarização deixou de ser uma coisa boa. Tornou-se perniciosa e estamos pagando um alto preço até hoje. Aqui, no Brasil, não se pode analisar o golpe de 1964 sem compreender a Guerra Fria. 
 
E, o que a polarização PT x PSDB tem com isso? Vamos tratar desse assunto agora.
O exemplo da Guerra Fria foi para mostrar que polarizações podem ser boas ou ruins, dependendo do que as mantém. Mas, no caso do PT e do PSDB, ambos são frutos do que se passou no Brasil antes, durante e um pouco depois da ditadura. Por conseguinte, há ligação sim com a Guerra Fria. Ocorre, que não irei me aprofundar nessa questão da gênesis dos dois partidos, pois iria perder o foco do que quero desenvolver no texto.
 
O PT dos anos 80 e boa parte dos anos 90 era um partido que gritava aos quatro ventos que não faria poupança para pagar juros aos banqueiros, que o congresso nacional era uma casa de bandidos e por isso era preciso fortalecer os movimentos sociais, que a falta de ética na política era nojenta, que o FHC comprou votos para passar no congresso a lei que passou a permitir a reeleição e por aí vai. Ou seja, auto proclamava-se como o partido das mudanças à esquerda.
 
Já o PSDB, fruto de uma dissidência no PMDB, colou-se no discurso de forma progressista, porém conciliadora. O plano Real implantado ainda sob o governo de Itamar Franco, cujo ministro da fazenda era Fernando Henrique, funciona no quesito queda da inflação na esteira de um período de queda da inflação em todo o mundo. Sobre isso recomendo a leitura dos trabalhos do economista e sociólogo Theotônio dos Santos. No seu blog há muito material, eis o endereço theotoniodossantos.blogspot.com; grosso modo, ele revela através de pesquisa séria, os motivos que levaram a queda da inflação com a implantação do Plano Real.
 
É evidente, que a eleição de 1994 estava resolvida. Discurso progressista, porém cauteloso e conciliador, coisas que a classe média adora e tendo como candidato o Príncipe com sua lança subjugando o dragão da inflação, barbada.
 
A polarização começa em 1994. E, por incrível que possa parecer, assim como na Guerra Fria, nesta fase ela faz bem, pois o embate deu-se bastante no campo ideológico. Com a derrota do Brizola em 1989, o PT assume cada vez mais ao longo dos anos 90, o protagonismo da esquerda. Com todas as críticas que eu tenho ao PT, desde os anos 80, o fato é que o PT deu o tom esquerdista nos anos 90.
 
Mantendo o mesmo discurso, novamente Lula e o PT são derrotados em 1998 pelo PSDB e seu Príncipe. A classe média ainda estava deslumbrada com ambos, apesar dos 4 anos de governo terem sido de puro arrocho.
 
Duas coisas acontecem entre 98 e 2002. Mais do que duas, mas destacarei duas:
=> Lula e o PT, equivocadamente mudam seus programas e discurso, pois temem mais uma derrota. Daí surge o apelido Lulinha paz e amor e
=> assim como o PSDB que governava dando cargos ao DEM e com isso fazendo maioria no congresso; Lula convence o PT de que eles precisam fazer a mesma coisa e fecham um pacto com o PSB, o PR e o PMDB sendo o último aquele de maior bancada até então.
 
A sociedade, desgastada por 8 anos de arrocho e política econômica neoliberal (FHC assinou o consenso de Washington), com o país arruinado economicamente, entregue ao receituário do FMI em troca de 40 bilhões de dólares, e tendo na figura do Lula um discurso moderado, entrega-lhe a vitória e a faixa presidencial.
 
Desde então, a polarização tornou-se daninha, pois a ideologia deu lugar ao pragmatismo. Mesmo que o PT em 2002 tivesse perdido, o partido já tinha adotado uma nova cara, uma essência pragmática focada no processo eleitoral/institucional.
 
A partir daí a polarização vai se tornando cada vez menos politizadora para a sociedade. Tem-se dois partidos relativamente sólidos e no arrasto de cada um, partidos sem solidez programática, focados naquilo que lhes pode abrir espaços dentro das instituições governamentais.
 
De certa forma, pode-se dizer que o DEM gozou de 8 anos de conforto nacional e 12 anos de conforto em São Paulo. Já o PSB, o PR e o PMDB estão na "boa" já faz 12 anos no nível nacional.
 
Dito isto, a maior questão que se abre é se tanto um quanto outro partido (PT e PSDB) representam mais do mesmo.
 
Apesar da polarização ter se tornado daninha, pois não é politizadora e ambos os partidos não possuem vocação para promover rupturas para criar algo novo, progressista e que tenha o foco no povo em termos de economia, restam algumas diferenças, que até algo mais a esquerda surgir como terceira via, precisamos levar em consideração:
 
Papel do Estado => para o PSDB é Estado mínimo e economia de mercado com receituário ocidental voltado para o arrocho para manter compromissos. O PT pensa num Estado medianamente interventor. Reparem, por exemplo, que nas concessões de blocos do Pré-sal, obrigatoriamente a Petrobrás tem que ter uma participação junto ao consórcio vencedor.
 
Política social => o PSDB trabalha com estatísticas. seus economistas são técnicos desprovidos de sensibilidade social. Todo esforço social dentro de um governo PSDB tem que ter o aval dos economistas. No PT é diferente, ou seja, todo esforço para o social tem que ser de uma forma ou de outra executado; a área econômica que trate de arrumar soluções.
 
Política internacional => Os governos PSDB foram de alinhamento automático com as potências ocidentais. Retomar o alinhamento automático com Washington e focar a União Europeia estão na cartilha do PSDB. O PT é terceiro-mundista, adepto do BRICS e principalmente focado na América do Sul. As nossas relações com a Venezuela, o Equador e a Bolívia, seriam bem diferentes num governo PSDB. Então, mesmo o PT não sendo bolivariano, há ainda algumas coisas no seu DNA que os impõem a apoiar governos de esquerda.
 
Vou ficar com esses três exemplos. Parecem suficientes para mostrar que a polarização é ruim, não acrescenta, não afeta em nada os interessas do capital, mas enquanto não for formada uma terceira via há que se ter em mente que existem diferenças.
 
Além disso, o que a esquerda tem feito para se tornar uma via factível? Essa pergunta precisa ser feita a todo momento. Do contrário, a tal polarização ainda tende a sobreviver. 2018 está logo ali.

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