segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

PORQUE A INFLAÇÃO É TEIMOSA

Lamentavelmente o receituário econômico ortodoxo para a contenção e redução da inflação é a política monetária, principalmente através da elevação dos juros e do aumento dos depósitos compulsórios dos bancos, juntamente com uma austeridade fiscal que sempre afeta a sociedade, seja com redução da renda real dos servidores públicos e de empresas estatais e/ou a drástica redução dos valores orçados para investimentos.
 
Esse é, simplificadamente, o que os economistas conservadores sugerem e defendem. É como se um país estivesse doente (inflação) e o economista, se ortodoxo, prescreverá uma receita com remédios amargos e com muitos efeitos colaterais.
 
Quero seguir o texto tratando dos efeitos colaterais e da ineficácia do método ortodoxo defendido pelo FMI, EUA e Europa Ocidental.
a) a elevação continuada da taxa  básica de juros no Brasil, atualmente em 11,75% a.a. Para amanhã está programada reunião do COPOM(Conselho de política monetária) e já se fala em 0,5% de elevação da taxa de juros, o que a elevaria 12,25%. Considerando que a inflação ronda a casa dos 6,4%, incrivelmente a política monetária estará com uma taxa de juros que é quase o dobro da inflação!!!
 
b) os efeitos colaterais da crescente elevação da taxa básica de juros são a elevação dos juros que o Brasil paga a seus credores internos, ou seja, necessidade de reduzir mais ainda os investimentos para poupar e pagar aos banqueiros e investidores em geral, o repasse para o custo do crédito rotativo e parcelado, cuja consequência imediata é a redução do consumo!!!
 
c) em 2014 o consumo sofreu com preços dos alimentos em virtude do aumento da demanda e das intempéries da natureza. Que bom! parte significativa da inflação de 2014 foi porque a renda da classe C esteve preservada e a demanda por alimentos foi maior do que a produção afetada por problemas climáticos. Num ambiente desses, deve-se aumentar juros? Isso é insano.
 
d) é insano, pois havendo queda da demanda, também há queda na produção (vocês não acham que empresários são trouxas, não é mesmo?), primeiro resultado é demissão de assalariados e o segundo é o que se chama de "estagflação";
 
e) queda na demanda, queda na produção e inflação no teto da meta, com o crédito na "hora da morte" é igual a estagflação
 
f) aí os ortodoxos vão dizer que o empresário não está investindo, pois o governo gasta demais. Daí virão mais cortes orçamentários ou aumento de impostos (menos provável, pois o dinheiro circulante já estará bem escasso, mas quem sabe...).
 
E por aí vai. O que não vejo é a desindexação da economia. Nos anos 90, anos das grandes privatizações, os serviços públicos privatizados ganharam a benesse da recomposição anual de preços repassados ao consumidor. Preços conhecidos como administrados, que foram privatizados, tiveram a garantia do reajuste anual baseado em algum índice.
 
Efeito dominó! Os preços administrados sobem, os custos de produção e o custo de vida sobem, o empresariado reajusta o valor do seu lucro e os trabalhadores mais organizados e conscientes buscam a reposição da inflação e ganhos reais. Isso é uma ciranda criada no Plano Real, que os governos PT não conseguiram ou não quiseram sair dela.
 
A tal ciranda é inflacionária e não há política monetária nem fiscal que resolva o problema da inflação sem desindexar a economia. O que conseguem é piorar indicadores como a dívida interna e aumentarem a concentração de renda. 
 
O governo está apostando tudo na retomada forte das exportações. É um bom caminho, mas pressiona os preços internos, caso não haja investimento no aumento da produção e da produtividade. E, empresário não coloca capital sozinho, aqui há o mal hábito de ter o BNDES como sócio. Mas, o que desestimulará? A taxa de juros, pois até mesmo a TJLP (taxa de juros de longo prazo) está mais cara.
 
Sem medo de ser feliz e jogar tudo contra a banca. Política desenvolvimentista não combina com monetarismo. A inflação está em 6,4%, portanto, TJLP a 7% e taxa básica a 8,5%. E no mais, tratemos de desindexar a economia já!
 

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