sábado, 13 de junho de 2015

PT, QUE PARTIDO É ESSE?

O PT é o partido da esquerda controle remoto. Quando o Brasil vivia uma efervescência interna nos anos 50 e início dos anos 60, o partido que condensava em suas bandeiras e ações os interesses do povo brasileiro através de um conjunto de reformas que mexeriam na estrutura do país era o antigo e saudoso PTB.
 
As tais reformas que o PTB pretendia implantar ficaram conhecidas como reformas de base e foram interrompidas por um golpe militar e civil, que para abafar qualquer tentativa de mudança estrutural, perpetuou-se no poder por 21 anos.
 
Ocorre que na segunda metade dos anos 70, articulações de caráter sindical ocorreram na região do ABCD paulista. Houve truculência contra algumas assembleis? Sim. Nada obstante, porém, o proibido foi sendo tolerado.
 
Engana-se quem acha que a tolerância do regime deu-se por conquista da classe trabalhadora daquela região. Parece-me muito mais prudente reconhecer que houve um pouco de cada coisa: conquista sindical e recrudescimento calculado da ditadura.
 
Os militares e civis poderosos avaliavam que era preciso esvaziar a memória da geração que viveu os intensos momentos de luta pela legalidade, comandada por Leonel Brizola e da luta pelas reformas de base sob comando do Presidente João Goulart.
 
Para apagar a memória, teriam que ficar mais 20 ou 30 anos no poder. O cenário internacional não era mais favorável. Sob a presidência de Jimmy Carter os EUA da segunda metade dos anos 70 deram uma guinada na sua estratégia global e exigiam dos "países amigos" a adoção da democracia liberal.
 
O risco de uma abertura imediata era grande, pois a possibilidade concreta do velho PTB ainda ser forte e cativante existia. Daí Geisel vem com a solução do conservadorismo: "abertura lenta e gradual". Com isso agradou os EUA e evitou o risco de eleições presidenciais no início dos anos 80, onde certamente Leonel Brizola voltaria com as reformas de base e com a educação como temas centrais da campanha.
 
Com o tempo ganho, foi possível a fundação do PT em fevereiro de 1980 e a consequente divisão dos intelectuais progressistas. Além disso, o PT recebeu o reforço da igreja católica nos locais mais interioranos. Isso foi fundamental para o partido se tornar uma legenda nacional e colocar um freio em qualquer perspectiva de quebra de estrutura e promoção de mudanças profundas se algum dia viesse a assumir o poder político.
Em artigo escrito esta semana, Eric Nepomuceno sustenta que "o PT teve de se adaptar em 2003 e dar uma face social ao capitalismo." Em outra parte do artigo, o escritor diz: "Mas o PT não mexeu na estrutura do país."
 
É inegável que os avanços sociais foram grandes. Mas, o PT não é um partido com o propósito de promover ruptura. Basta ver quem foram seus principais aliados no parlamento desde 2003.
 
É chocante constatar o que muitos intelectuais de esquerda já escreviam na segunda metade dos anos 80. Muitos, em tom jocoso, chegavam a dizer que o PT é a esquerda que a direita gosta.
 
Sucesso da ditadura que, de forma estratégica, dividiu a esquerda histórica (o velho PTB depois chamado de PDT) da nova esquerda sem história ( o PT ). Claro como a luz mais intensa, foi o fato do PT ter disputado o primeiro turno das eleições presidenciais de 1989, numa clara demonstração de insensibilidade histórica. Uma possível chapa Brizola/Lula faria frente com vantagem sobre o candidato fabricado, Collor de Melo.
 
Com Brizola indo a fundo nas questões estruturais e abrindo fogo contra as "perdas internacionais" e desde o primeiro instante colocando a educação como prioridade, é possível até mesmo acreditarmos que quando chegasse a vez do Lula ele estaria preparado para dar continuidade. Ele compreenderia que não basta criar programas com bolsas para apoiar a vida dos mais pobres, mas que concomitante é fundamental lutar contra as velhas estruturas de poder, que inclusive chegaram a corromper alguns quadros do próprio PT.
 
Hoje, o velho PTB, que é o PDT, virou partido de centro-direita, o PT assumiu a sua condição histórica de crença num capitalismo humanista e as pessoas realmente de esquerda ocupam seu tempo planejando um possível distante futuro, enquanto uma parte simplesmente esta solta por aí sem nenhuma organicidade.
 
Não estarei vivo quando os historiadores escreverem sobre a quantidade de décadas que o PT terá feito atrasar avanços progressistas e libertadores no Brasil. Mas, não acredito em vazios prolongados, penso que a direita neoliberal mais cedo ou mais tarde reassumirá o poder político, que já exerce hoje no Congresso, mas o caldo político será favorável para o fortalecimento de alguma sigla nova de esquerda, ou quem sabe de uma frente de siglas populares capaz de enfrentar o poder neoliberal e o PT.

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