Há que se destinar uma visão histórica sobre o "dia do trabalhador". Antes de mais nada, é importante esclarecer que, embora, trabalhadores sempre existiram ao longo da história humana, por exemplo, escravos, servos e artesãos, o dia 1º de maio é algo da nossa "era", a sociedade industrial e patronal.
Portanto, grosso modo, embora hoje seja dia do trabalhador, a sua origem é industrial e, portanto, operária. É claro que a modernização social e a sofisticação do consumo criaram aglomerados de trabalhadores de outros setores da economia que foram ganhando força com a necessidade sistêmica de expansão consumista e a própria necessidade de sobrevivência das pessoas sem emprego fabril. Estou falando dos comerciários, bancários, o povo do trabalho informal, funcionários públicos, autônomos, artistas e várias outras formas de trabalho que cresceram na sociedade do nosso tempo: o tempo contemporâneo.
O salário, as condições de trabalho e a jornada de trabalho são elementos essências para se caracterizar o trabalhador da era industrial. E, naturalmente, que temas como esses levaram trabalhadores a se organizar nos países industrialmente mais avançados através de associações e sindicatos que cresceram ao longo do século XIX.
A sensação empírica de estar sendo explorado e até mesmo de física e mentalmente o trabalho levar ao esgotamento a ponto do operário apenas utilizar o seu tempo fora da indústria para descansar e repor alguma energia, surge, também no século XIX, o anarquismo e principalmente a interpretação científica da exploração do homem pelo homem com provas irrefutáveis de que a luta de classes esteve e está presente em todas as sociedades pós-revolução agrícola.
A interpretação científica da História é fruto do trabalho de Karl Marx e Friedrich Engels, que além de interpretarem, provaram que a história é algo em constante movimento e, por isso, preveem o fim do capitalismo a partir das suas próprias contradições. E, mais que isso, os dois estudiosos propõem em pleno século XIX a aceleração da passagem do capitalismo para uma sociedade totalmente igualitária, sem classes sociais, chamada de comunismo.
Porém, fazem uma ressalva; para acelerar o fim da exploração do homem pelo homem seria preciso que o trabalhador tivesse consciência da sua condição de explorado. Tendo tal consciência os trabalhadores conseguiriam se organizar para combater a exploração e através de um sistema transitório e realmente gerido pelo povo e para o povo chegar ao comunismo. A sociedade transitória é chamada de socialismo.
Todo esse caldo efervescente do século XIX, que se acentua na segunda metade do século, faz eclodir diversos movimentos reivindicatórios de natureza operária nos países mais industrializados. É bom lembrar, que no início do século XIX países como Inglaterra, França, Alemanha e até mesmo os EUA já eram países industriais e o Brasil ainda era uma colônia prestes a virar sede do reino português, cuja economia era escravocrata e oligarca rural.
Abrindo um pequeno parênteses, percebam que o atraso brasileiro, latino americano, africano, não tem relação com ser mais ou menos competente. Uma das questões centrais é a industrialização tardia, posto que esses países foram colônias e em grande parte, obrigadas a manter comércio somente com a sua metrópole com saldo sempre favorável à metrópole e destinadas a fornecer matéria prima. Abri esse "parêntesis" apenas para sugerir que paremos, que sepultemos de vez o nosso "complexo de vira-latas".
As reivindicações da segunda metade do século XIX e início do século XX geraram confrontos entre trabalhadores e forças repressoras dos Estados Burgueses. Um dos movimentos mais famosos e que culminou com a morte de 3 trabalhadores foi realizada em Chicago(EUA) em 3 maio de 1886 e que tinha como bandeira principal a redução da jornada de trabalho de 10 para 8 horas. No dia seguinte houve mais protestos e desta vez o número de mortos chegou a cerca de 17 pessoas.
Naquela época havia uma organização chamada Internacional Socialista, que visava manter os movimentos operários organizados de diversos países, reunidos, debatendo em conjunto e cada qual tomando conhecimento das lutas em cada país. Três anos depois do episódio em Chicago, a Internacional Socialista aprovou a criação de um dia mundial de luta dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho.
Portanto, o DIA DO TRABALHADOR não é para darmos e recebermos parabéns. Muita gente lutou e morreu até que a jornada de 8 horas fosse sendo adotada paulatinamente nos países ricos e industrializados. O dia de hoje não é para tapinha nas costas; é um dia para reflexão onde os trabalhadores estão vivendo um momento de baixa consciência de classe e pouca organização como é o caso no Brasil. Mas também um dia de reivindicações e de resgate da luta organizada nos países onde os trabalhadores estão mais conscientes e organizados.
No mínimo, é um dia de luto por ainda estarmos vivendo numa sociedade com explorados e exploradores.
O primeiro de maio no Brasil se resume a shows com artistas populares para atrair publico e servir de palanque para discursos com fins eleitoreiros, sem em qualquer momento se preocupar verdadeiramente com as reais necessidades da classe trabalhadora.
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