quinta-feira, 7 de maio de 2015

QUEM SOMOS NÓS

Segundo Fernando Pessoa escreveu na poesia "Pecado original", assinando como Álvaro de Campos, "Sou quem falhei ser". De fato, a vida permite que façamos planos e nos vejamos no futuro; individualmente ou coletivamente. Ocorre que o futuro nada mais é do que uma licença poética, pois a sua existência é fruto da imaginação ou de uma projeção do presente e do passado.
 
A covardia que se deu em Curitiba onde todo um aparato militar foi montado para massacrar professores desarmados, armados apenas com as suas consciências políticas é uma prova bastante recente de que apenas "Somos quem falhamos ser".
 
Diversas iniciativas foram propostas para repudiar e pedir a renúncia do governadorzinho do Paraná; estudantes aderiram aos protestos, professores pararam em outras localidades do Brasil, marcaram um dia de luto para professores darem aulas vestidos de preto etc.
 
O meu filho estuda numa universidade federal. No dia do luto, perguntei se algum professor foi de preto. A resposta negativa não me surpreendeu, pois além do corporativismo, muitos professores colocam as suas carreiras e seus egos acadêmicos na linha de frente de seus projetos futuros. Neste caso, também se aplica o verso "Somos quem falhamos ser".
 
Os paneleiros das varandas não demonstram indignação com a covardia cometida pelo governador do Paraná e defendida pela cúpula do PSDB. Que nada, provavelmente na cabeça dessa gente a corrupção pentasecular no Brasil e transferida para  a responsabilidade de uma sigla: PT, que tem os seus corruptos sim, mas que está longe de ser PT e corrupção  uma relação de criador e criatura. Os varandistas que indignam-se  por terem perdido a eleição de 2014, não querem ouvir a Presidenta, mas também não querem que outros ouçam, são incapazes de ter uma atitude de revolta contra a covardia, contra a estupidez, contra a violência praticada pelo Estado contra professores. Ou que fosse outra categoria, é inadmissível a opressão física e psicológica como assistimos ao vivo pela TV.
Penso com tristeza, por que este caso de Curitiba não mobilizou os brasileiros como em meados de 2013. Em meados de 2013 havia uma certa abstração, uma coisa meio do tipo cada um reclama do que quiser.
 
Estando o trabalhador brasileiro consciente da sua condição histórica e organizado, o verso do Fernando Pessoa perde sentido coletivo e mantém-se como um verso espetacular no campo pessoal. No campo coletivo o fato de Curitiba seria o estopim para o povo convocar passeatas nas principais cidades brasileiras e dizer em múltiplas vozes que nada que está aí nos três poderes representa de fato os interesses majoritários do povo.
 
Quero estar vivo para ver o poder público se atrever a encostar uma única bordoada em manifestações com 500 mil, 1 ou 2 milhões de brasileiros. É capaz de mais policiais se juntarem aos 17 PM que se negaram a cumprir a ordem para atacar os professores e marcharem com o povo, onde é o lugar do policial militar que não é o que falhou ser.

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