quinta-feira, 21 de maio de 2015

ECONOMIA EM DESTAQUE

Em minha última publicação, fiz severas críticas a política macroeconômica que combina ajuste fiscal com juros altos. Fiz as críticas, pois as ações em curso e as pretendidas são auto-flageláveis.
 
É como se fosse possível para um ser se alimentar de si mesmo. Imaginem que situação, o imaginável ser irá perder peso e nutrientes quando devorar pedaços de si e quando digerir o que comeu irá recuperar nutrientes e peso. O resultado é pura matemática: o indivíduo fica na mesma.
 
Por mais estranho que possa ser, é exatamente isso que o Brasil está fazendo. Vejamos alguns exemplos de causas e consequências:
 
a) juros altos - ação de caráter monetário para desestimular o crédito, reduzir o dinheiro em circulação e forçar a queda de preços.
 
Comentário: os juros altos indexam a dívida brasileira baseada na taxa de juros, levando o país a ter que fazer a cada ano um esforço cada vez maior para pagar os juros da sua dívida. A atitude é de uma inteligência impar, pois quanto maior for a meta de superávit primário, mais dependentes ficaremos do capital estrangeiro. Além disso, a alta dos juros reduz o poder de compra do assalariado e dos autônomos, que vêm de um período de crescimento da inflação e não possuem defesas para recomposição de suas perdas a não ser a própria capacidade de luta, que no caso dos assalariados fica limitada as categorias que possuem sindicatos fortes e capacidade de mobilização. Os autônomos, por sua vez, estão passando por um período de redução de demanda, causada pela queda da renda de um modo geral.
b) corte orçamentário - há diversos itens do orçamento da União, cuja execução pode ser suspensa ou até eliminada das intenções para o ano em exercício, dependendo da arrecadação fiscal e da política econômica. O governo já sinalizou que pretende promover um arrocho no orçamento dos Ministérios, que pode chegar a 80 bilhões de reais. Dificilmente corta-se repentinamente recursos de custeio, pois em grande parte referem-se a salários. No máximo, o que tende a ocorrer é o governo cortar parte do que pretendia aumentar de gastos com  reajustes de salários dos servidores. Então, o que sobra normalmente para cortes está relacionado ao adiamento de projetos de investimentos, paralisação de obras em andamento e contingenciamento de recursos voltados para projetos sociais.
 
Comentário: o governo federal aposta as suas fichas numa possível retomada do crescimento econômico a partir do último trimestre de 2015. O governo acredita que dessa forma o emprego voltará a crescer e em consequência disso a renda média do trabalhador também. O jogo, entretanto, é bem mais complicado, pois os cortes que o próprio governo está fazendo e pretende aprofundar, geram paralisia em alguns setores da economia como o de infraestrutura, construção civil (vejam que a Caixa Econômica está sem recursos), logística, produção de bens de capital etc. Tudo isso leva a um desencadeamento de consequências que contribuem para a queda da atividade econômica e quiçá a elevação de um ou outro imposto para o governo honrar o compromisso de gerar 1,2% de superávit primário.
 
c) Aposta no agronegócio, na recuperação da atividade petrolífera e nos negócios com a China - sim, o governo tem as suas cartas na manga e as está jogando com rapidez surpreendente. A produção de grãos superou 200 milhões de toneladas. Se parte dessa produção vai virar alimento para a suinocultura nos EUA e na China, o Brasil não está muito interessado em saber. A recuperação da credibilidade da Petrobrás e das atividades produtivas da mesma, bem como a sua capacidade de geração de caixa deixou muita gente perplexa e essa é outra carta na manga do governo. Finalmente, vem aí os "negócios da China", ou melhor, com a China, com impressionante pacote de investimentos chineses, cujo mais interessante e desafiador será a ferrovia que ligará o Tocantins ao litoral do Peru para transito de produtos via oceano Pacífico.
 
Comentário: o agronegócio tem sido a nossa tábua de salvação quando verificamos a sua participação crescente no avanço do seu crescimento e contribuição para o PIB. Além da produção de 2015 trazer uma forte contribuição para a balança comercial, a sua grandiosidade tenderá a influir nos preços internos dos alimentos e contribuir para a contensão inflacionária. Quem sabe, tal produção não convença o COPOM a começar a reduzir a taxa de juros? Com o preço ajustado da gasolina e do diesel desde o início do ano, o seu impacto inflacionário já deu no que tinha que dar. Embora um novo plano de negócios venha a ser adotado pela Petrobrás, o diretor financeiro em vídeo conferência anunciou que os investimentos da estatal para 2015 serão mantidos. Some-se a isso o aumento paulatino que temos observado na produção do pré-sal. Assim, toda a cadeia produtiva que depende da gigante brasileira tende a se recuperar rapidamente. Quanto ao pacote de contratos fechados com o primeiro-ministro chinês, fico satisfeito, pois no cenário econômico mundial fortalece a posição dos BRICS como contraponto aos países ocidentais ricos, mas deixa-me atento, pois o Brasil não pode simplesmente mudar o lado da sua dependência. Não adianta trocar os EUA pela China e continuarmos a fornecer matéria-prima e a depender de tecnologia de terceiros no setor industrial. Essa parceria com a China ainda terá que ser bem analisada, pois mesmo que seja uma parceria bem ajustada, fica sempre evidente a nossa dependência de capital externo.

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