sexta-feira, 21 de agosto de 2015

E LA NAVE VA

"E la nave va", em vez de um funeral surreal, poderia ser refeito por Federico Fellini, caso fosse vivo, para retratar o surrealismo político atual do "navio" Brasil.
 
O imbróglio é tão dramático quanto hilário.  Chega a ser perturbador ver como a manipulação de todas as partes, criou vários cenários surreais, todos com algo em comum, que é a formação social de dois subsegmentos de massa de manobra:
 
a) aqueles que pensam que o PT está aí para cooptar o Estado, utilizando-se de qualquer meio, para acirrar a luta de classes e finalmente revelar seu mirabolante plano de fundar um Estado socialista no Brasil;
 
b) aqueles que pensam que o PT é a última e única fronteira da esquerda brasileira, acham que distribuir renda através de bolsas e intervir no social com algumas políticas positivas de inclusão, significa ser de esquerda. E que existe um conjunto de ações golpistas em andamento para a derrubada de Dilma etc.
 
Tecendo, aos poucos, a minha opinião, penso que é preciso comparar o que representou na prática os governos liderados pelo PSDB e em seguida pelo PT. De forma resumida.
 
 
Política
 
PSDB - formou coalisão para governar "em paz". Seu par principal foi o PFL (hoje, DEM). Dessa forma, optou pelo caminho do conforto, mantendo-se dentro da obscura matriz corrupta e entreguista, que caracterizam a política brasileira desde muito. Quem quiser, pode voltar a época do Império e verificar as mazelas da política em território brasileiro.
 
Lembram-se do escândalo da compra de votos para aprovação da reeleição para cargos do executivo?......Atualmente o FHC se diz contrário a reeleição.
 
PT - "A esperança venceu o medo". A frase, tantas vezes dita pelo Lula como figurativa de que o povo brasileiro, finalmente, teria aberto mão do seu conservadorismo e optado por "mudanças". Seria o governo do povo, pelo povo e para o povo! E o PT, governa no plano político, aliando-se com segmentos altamente conservadores, também para governar "em paz". Seu maior parceiro, o PMDB, dispensa comentários sobre seu caráter fisiológico. Assim, no parlamento, o PT foi mais do mesmo. Jamais optou por ruptura ou pelo confronto.
 
Do que o conservadorismo tinha medo? Do que as pessoas que foram as ruas, no dia 16 de agosto, têm medo?
 
Não há "venezuelanização" do Brasil!!! 
 
A estrutura política é fisiológica, conservadora, entreguista e não é representativa, mesmo que alguns intelectuais atestem que o Brasil é uma democracia representativa. Troquem a presidenta ou alijem o PT do comando do governo central e o modus operandi da política continuará o mesmo.
 
O que o PT e a CUT querem defender, quando levam pessoas às ruas, como fizeram ontem? Ato contra o golpismo, como vendem a ideia, ou ato para desfocar o país dos seus reais problemas, como o ajuste fiscal e o arrocho monetário, típicos do receituário neoliberal?
 
Golpe, impeachment?......Não há motivação classista nem ideológica reais para tais acontecimentos. O PT não é um perigo para as estruturas de poder nem para as instituições do sistema capitalista tupiniquim.
 
O que de fato parece haver na política é uma acirrada disputa por espaço. Com sua lucidez, o saudoso Brizola, certa vez disse: "..o PT é espuma, não tem profundidade histórica...a diferença entre o PT e o PSDB é que o primeiro vem de baixo e o segundo vem de cima...".
 
Social
 
PSDB - elite do academicismo neoliberal brasileiro. A contundência ideológica no campo econômico, causa-lhe frieza no campo social. Eis a sua real face e o que de fato o enfraqueceu, cedendo lugar ao PT. Os seus programas econômicos não deixaram espaço para a realização de programas sociais de profundidade. Além disso, parte significativa da classe média sofreu com o arrocho salarial imposto pelo modelo neoliberal radical.
 
PT - eis o seu ponto forte. Nadou de braçada no espaço que o PSDB deixou. E, que se reconheça, aperfeiçoou e criou planos de inserção, que vão além do Bolsa Família. O social faz parte da natureza histórica do PT, que teve forte influência de teóricos da "Teologia da libertação".
 
Ou seja, enquanto o PSDB se assume como partido de conservação sistêmica, o PT tenta passar a ideia de que é um agente de mudança, quando na verdade é apenas mais sensível às questões sociais, posto que acredita na possibilidade de um "capitalismo humanista" , coisa que nem o Papa acredita.
 
Capitalismo e humanismo são contraditórios em termos. Ou a ênfase é na acumulação de capital, ou a ênfase é no ser humano. A prioridade é que ditará o modelo econômico. Isso é ideológico.
 
Economia
 
PSDB - neoliberal radical assumido.
 
PT - neoliberal moderado não assumido.
 
Alguns hão de me criticar, com razão. Ou se é neoliberal ou não. Não existe esse negócio de moderado ou radical.
 
É verdade. O PT é neoliberal moderado, embora isso não exista. Por que seria "uma morte", o PT reconhecer que praticou o modelo econômico neoliberal, tentando vender-se como desenvolvimentista e praticante da inclusão econômica com a valorização do salário mínimo e o incentivo ao crédito pessoal.
 
Daí a crise atual. Ela é sistêmica, pois como disse antes, ou se enfatiza o modelo acumulador e no caso do Brasil, dependente, ou se prioriza um modelo humanista com ênfase no ser e não no ter. A crise econômica está de mãos dadas com a crise de identidade do PT, que hoje olha-se no espelho e, por causa da sua miopia histórica, não consegue se autoanalisar com exatidão.
 
Finalmente....
 
E se as eleições fossem hoje?
Com os mesmos candidatos, novamente votaria na candidata Dilma.
 
Embora eu não me sinta representado por nenhum partido desde 2005, quando o PDT caiu nas mãos do grupo do Lupi, após a morte do Brizola e se tornou um partido apenas ávido por espaço e fisiológico; a sensibilidade social de alguns setores do PT e a sua timidez em assumir-se praticante do neoliberalismo, trazem a tona as feridas da sociedade brasileira e a dificuldade de se resolvê-las apenas com políticas de inserção, sem que haja ruptura com o modelo econômico.
 
A frieza desumana dos lideres e intelectuais do PSDB, fazem a diferença em favor da quentura humanitária, ainda que de forma equivocada, por parte dos lideres e intelectuais do PT.
 
Infelizmente existe a polarização acima. O povo brasileiro não está organizado para assumir as rédeas do seu destino através de uma alternativa verdadeiramente de esquerda e comprometida em acabar com o modelo de dependência econômica, com o subdesenvolvimento e com o complexo de vira-latas, fazendo surgir um nacionalismo progressista.
 
Tampouco a extrema direita consegue espaço em meio a uma sociedade que prefere o meio termo, sob a sua ótica imaginária e acredita que o problema do Brasil é apenas de gestão.
 
Enquanto isso, la nave va....todos os partidos estão no mesmo barco.

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